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sábado, 23 de dezembro de 2023

PORQUE PRECISA O CAPITALISMO DE EXTRAIR RIQUEZA DO SUL GLOBAL?

Diálogo com a economista Utsa Patnaik


 

                                              https://www.youtube.com/watch?v=6RF5vx1W_kk


Quando as pessoas falam sobre capitalismo, esquecem frequentemente que existe num mundo onde mais de três quartas partes são duramente exploradas em todos os aspetos. Esse mundo, o «Sul Global» tem sido explorado durante séculos, de forma sistemática, sendo duplo o efeito persistente: 
- Por um lado, o Sul Global não teve oportunidade de se desenvolver e de atingir, pelas suas forças próprias, a transformação das forças produtivas e das condições de vida, que se verificaram no Norte; 
- Por outro, o Sul Global foi (e continua sendo) o principal fornecedor de matérias-primas e de produções alimentares, à Europa e América do Norte. Sem as quais, não poderiam estas regiões levar a cabo o desenvolvimento que se verificou, pelo menos, desde a segunda metade do Século XVIII, até aos dias de hoje. 
A questão principal abordada na entrevista, é de como os países possuidores de colónias e posteriormente, neocoloniais, beneficiaram da sobre-exploração dessa parte de humanidade durante vários séculos. 
Seria impossível o desenvolvimento histórico do capitalismo existir como teve lugar, na ausência do excedente proporcionado pela rapina, pelo trabalho escravo, pela exploração sistemática, pela anulação contínua de forças produtivas dos países colonizados. 
Oiça/veja a entrevista do vídeo acima, muito esclarecedora por se basear em factos  não em teorias ou visões distorcidas de realidades históricas.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

A ÁFRICA ESTÁ A EMANCIPAR-SE DO JUGO NEOCOLONIAL

 A África é um continente jovem, com o número de jovens, em relação à população total, mais elevado. 

É, também, o continente mais antigo no sentido de, em África, a espécie humana ter tido o seu berço.

 Infelizmente, este continente foi dilacerado e dominado pelas potências coloniais (entre as quais Portugal, além de muitos outros países da Europa). 

O neocolonialismo foi a «esperteza» dos americanos; eles fizeram-se passar por auxiliadores das lutas anticoloniais.

 Por exemplo, em Angola, foram os EUA suportes ativos de Holden Roberto, o fundador e dirigente da FNLA. 

Esta política americana foi desenvolvida em vários países africanos para neutralizar a influência soviética. 

Mais recentemente, o poder imperial deixou cair a máscara, quando - com Obama, o primeiro presidente negro - arrasou a Líbia, transformando-a num «não-Estado», sob pretextos falsos, que Obama e Hillary bem sabiam sê-lo. 

Mas a sabedoria milenar dos povos africanos encontra agora, com a ajuda da China, uma saída para o ciclo de dominação neocolonial. 

O que se joga no continente africano é fundamental, não apenas para os africanos, como para o mundo.

Veja e oiça o vídeo seguinte:






quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

[HA-JOON-CHANG] «PORQUE ALGUNS PAÍSES SÃO RICOS E OUTROS, POBRES?»

 Why Are Some Countries Rich and Others Poor? 

Economics for People with Ha-Joon Chang


É interessante o exemplo das lãs inglesas: O facto de que a produção de lã se tornou importante tem a ver com a apropriação dos baldios pelos ricos nobres, expulsando os mais pobres camponeses para a grande cidade. Isso permitiu que os baldios tornados propriedade privada e os campos de cultivo abandonados, fossem pasto para rebanhos de ovelhas, pertencendo a ricos. O desenvolvimento da indústria dos tecidos deu-se nos Países Baixos e na Flandres, porque se deram uma série de fenómenos que favoreceram muito estes centros da indústria renascentista. Não apenas a abundância de lã vinda de Inglaterra, como a profusão de corantes (de origem vegetal, vindos das Índias e trazidas para o Norte da Europa pelos portugueses) que permitiram tingir os tecidos e criar uma indústria florescente de tecidos finos, para toda a Europa consumir.

No caso de Portugal, a indústria inglesa veio aqui buscar a lã, no séc. XIX e XX. Portugal tinha, na zona da Serra da Estrela, condições de pasto todo o ano para as ovelhas. Desenvolveram-se aí indústrias de queijaria e das lãs (Covilhã foi uma cidade industrial especializada em tecer lã e no fabrico de tecidos). No Portugal dos anos 50 e 60, muitas vezes, os fatos para homem em tecidos de lã, apareciam com etiqueta de «feito no Reino Unido», embora as lãs e o próprio corte, tivessem proveniência da Covilhã.

PS1: Michael Hudson, professor e economista, em várias obras aborda o protecionismo que permitiu os EUA e outros países desenvolverem-se, protegendo a sua indústria face à concorrência. 

terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA E A ETIQUETA «FASCISTA»

ESTA ETIQUETA É DADA PELA MEDIA CORPORATIVA A TUDO O QUE VAI CONTRA A AGENDA GLOBALISTA.

Giorgia Meloni e os Fratelli di Italia podem ser conservadores e anti-imigração, mas estão longe de serem fascistas. O seu sucesso eleitoral  resulta da saturação do povo italiano pela destruição do seu modo de vida, pela burocracia globalista que lhes quer impor os seus «não-valores». Este partido conseguiu 26 % dos votos. Sendo o maior partido, pode formar governo com outras duas formações de direita (Forza Italia e Liga Norte ). Conjuntamente, terão uma maioria absoluta nas duas câmaras (deputados e senado). 

O principal problema que leva as pessoas a votar nestas formações tem  a ver com a sua sensação de que perderam o controlo sobre o seu próprio país, com as imposições da Comissão Europeia. Com efeito há dezenas de anos que tiveram de arcar, sozinhos, com as consequências das vagas sucessivas de migrantes vindos do Norte de África. De facto, o problema não é especialmente italiano, mas sim global. 

                                            Imigrantes ao largo das costas italianas

É um problema da responsabilidade de países ditos ricos e democráticos. Deveriam trabalhar sem paternalismos, nem ambições de neocolonialismo, com as instituições dos países de origem, para que haja uma solução para os problemas terríveis que assolam esses países. 

Em vez disso, como hipócritas que são, continuam com a sua ingerência permanente e com exploração das riquezas naturais desses países, mas sem os custos de países coloniais (como o foram no passado, muitos deles). 

Hipocritamente, aceitam os imigrantes económicos disfarçados em refugiados políticos, porque isso lhes permite ter mão-de-obra barata e precária nos setores desertados pelos trabalhadores de origem dos seus países. Muitas vezes, leis destinadas a acolher perseguidos políticos, servem de cobertura à aceitação indiscriminada de imigrantes económicos. A constante utilização do direito de asilo, em casos que não o são, obviamente acaba por fragilizar os verdadeiros asilados políticos. 

As economias de onde vêm os imigrantes, foram pilhadas e exploradas nas épocas colonial e neocolonial. Os problemas estruturais desses países são mantidos ou agravados pelas políticas das chamadas «democracias», que têm participado no processo de manutenção desses países sob tutela. Basta ver o que têm feito no Mali, no Burkina-Faso, na Líbia ou na Síria, e em muitos outros casos.

Quanto aos países que se tornaram pontos de acolhimento dessa migração do desespero, ficam com a estabilidade social, económica e política, postas em causa. A velocidade a que tudo ocorre, impede qualquer assimilação da população imigrada. Esta é mantida em guetos. 

As populações de origem, que vivem na proximidade desses guetos, encontram-se confrontadas quotidianamente com pessoas de outras etnias, de outras culturas. Isto faz com que aquelas se sintam acossadas e desenvolvam complexos racistas e xenófobos. 

Mas, os que, nos seus condomínios privados de luxo, nos seus bairros da classe alta, tomam as decisões - em Bruxelas, Berlim, Roma, ou Paris - não têm que partilhar o seu espaço com esses imigrantes. Não lhes custa pessoalmente nada mostrarem-se «virtuosos». Não lhes custa impor aos cidadãos do seu país, o acolhimento forçado de outras etnias e culturas. 

A verdade é que os imigrantes são um «exército de reserva», ou seja,  desempregados, disponíveis para as tarefas mais duras ou menos bem remuneradas, muitas vezes abaixo dos mínimos salariais e em condições de sobre-exploração. O estatuto de «clandestino» ou «ilegal», que aflige muitos, é mais um instrumento de pressão, para a classe patronal e para as autoridades do país em que trabalham.

Tanto na Suécia, como na Itália, estou convencido que os fatores principais da viragem à direita, foram o problema da imigração não-controlada e da agenda globalista, que os respetivos governos anteriores perseguiam. Aliás, os mais prejudicados são os mais pobres da população autóctone, os quais têm de aguentar a concorrência da mão-de-obra do exterior, sobretudo em empregos manuais (construção civil, restauração, etc.). 


                               Principais fluxos migratórios para Itália

A incapacidade de lidar com este problema é uma das razões porque a classe trabalhadora, seja na França, na Itália, na Suécia, etc. se tem desviado massivamente dos partidos de esquerda, os quais se reclamam de «origem operária», mas que se tornaram estranhos ao sentir dos trabalhadores. O mesmo se pode dizer dos sindicatos. O resultado, é que o voto na «extrema direita» é - cada vez mais - o voto das classes populares e o voto na «esquerda» é - cada vez mais - o voto das classes médias-superiores, com diplomas universitários e bons empregos.

Tenho visto pessoas ditas de «esquerda» negar a evidência, mostrando-se realmente incapazes de raciocinar. É tal o seu medo de serem consideradas «racistas» ou «fascistas»,  ou outra etiqueta do género, que são incapazes de pensar objetivamente e de encontrar caminhos para a resolução destes problemas. 

De facto, a oligarquia globalista é a única a beneficiar deste estado de coisas. Tem ao seu dispor uma massa de trabalhadores dóceis, não sindicalizados, que não se misturam com os trabalhadores autóctones, fragilizados e incapazes de fazer valer os seus direitos legais. 

O fenómeno também toca a Portugal: Veja-se a enorme quantidade de imigrantes vindos do Sul da Ásia, que estão a trabalhar na Costa Alentejana, em propriedades agrícolas e em estufas. 

Por outro lado, os oligarcas têm garantido o controlo dos diferentes países, ao nível político, pelas divisões criadas no interior da cidadania: as cidadanias desses países de acolhimento, digladiam-se em lutas fratricidas. Não sabem mais nada, senão chamar nomes de «fascistas» ou de «comunistas»! 

Por fim, a média que está sempre ao serviço do grande capital reforça - constantemente - os estereótipos. Ela é propriedade de grandes capitalistas, ou tem necessidade da publicidade, paga por esses mesmos capitalistas. 

Chamar fascista a Georgia Meloni e ao seu partido é o adjetivo fácil; mas, se a media em Portugal seguisse os mesmos critérios, seriam «fascistas» dirigentes do CDS-PP e PSD, partidos portugueses onde há /houve elementos das direções que foram fascistas, incluindo ex-membros do último governo fascista, derrubado no 25 de Abril de 74. E,  pela mesma lógica, seria fascista o PS, que teve como membro o Prof. Veiga Simão, ex-ministro de Marcelo Caetano*, que aderiu ao PS após o 25 de Abril de 74 e foi membro de governos pós-25 de Abril. O caso do Prof. Veiga Simão não é único - longe disso! - na «democracia portuguesa». 

Esta etiquetagem traduz o incómodo dos lacaios do grande capital, face a alguém que sai fora do «consenso» (fabricado por eles). Chamar nomes, como «populista», «extrema-direita» ou «fascista», esconde o facto deste governo se apresentar contra Bruxelas, contra a Comissão Europeia, pelos interesses fundamentais dos italianos. 

Resta agora ver se  o novo governo italiano está disposto a fazer frente às ingerências (que começaram antes da votação, com declarações de Úrsula von der Leyen), ou se cede perante a pressão conjugada dos globalistas europeus e americanos.

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*Presidente do Conselho de Ministros, que sucedeu a Oliveira Salazar. O seu governo foi derrubado pela revolução de 25 de Abril de 1974 

sábado, 23 de abril de 2022

Ucrânia/Palestina - dois pesos, duas medidas





 VIOLÊNCIA nunca é justificada contra pessoas pacíficas que estão a celebrar uma cerimónia religiosa. 

Apenas as pessoas que no Ocidente pretendem ser quem define o que é e qual a gravidade duma «violação dos direitos humanos», pode aceitar o que se passa há meio século na Palestina ocupada por Israel, uma guerra de extermínio, um genocídio, contra o povo da Palestina.

E tudo isto, conta com a conivência, aprovação e apoio concreto, sob forma de muitos milhões de dólares, muitas armas e equipamento de guerra, constante violação dos direitos mais elementares contra um povo indefeso. 

Porque é silenciado tudo isto? Porque só interessa, se for para reforçar a posição do «Império Yankee», ou os seus «reinos vassalos», mas não lhes interessa realmente o destino das pessoas concretas.

Tanto os civis ucranianos, como palestinianos, devem ser aliviados e poupados de toda a violência; não há violência contra civis que seja tolerável; não existe guerra - de baixa ou alta intensidade- que não cause (muitas vezes, uma maioria) vítimas civis.

A visão das pessoas é enviesada por uma insidiosa campanha de lavagem ao cérebro, com a assimilação de povos inteiros como sendo «justos» ou «injustos», «amigos» ou «inimigos», etc. 

Este tipo de raciocínio, propalado constantemente pela media e pelos governos, tem um efeito devastador; é um elemento que permite a continuação de atos cobardes e assassinos. 

Torna impossível qualquer solidariedade ou mero respeito pela «civilização ocidental» e por consequência, connosco também, da parte dos povos das nações que foram oprimidas pelo colonialismo, o chamado Terceiro Mundo. 

Já viram aquilo que os dirigentes e os media ao serviço do grande capital estão a fazer, na indiferença total, permitindo a continuação do sofrimento do povo Palestiniano? E que três quartos do mundo veja as manifestações de solidariedade de povos europeus com o povo ucraniano como hipócritas?? 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A BOA CONSCIÊNCIA DO OCIDENTE E O REGIME DE APARTHEID SIONISTA

                        



Numa sociedade elitista e hipócrita, as chamadas esquerdas, elas próprias produtos político-culturais das metrópoles capitalistas - colonialistas - imperialistas, têm como modo de pensamento, as «certezas» (preconceitos) sobre o que seja «progressista», sobre como se devem regular as sociedades, como se deve avaliar o respeito pelos direitos humanos... Enfim, elas pensam que estão absolutamente certas, que têm «God on our side» (Deus do nosso lado). 
As forças anti-coloniais são negadas, são tidas como «terroristas», imbuídas de nacionalismo - algo «errado» para os internacionalistas de pacotilha - ou de «fundamentalismo» religioso, termo que não se aplica (sic!) às igrejas cristãs dos EUA e doutros lugares, que assumem a causa de Israel como sendo a delas!

Se o chamado Ocidente bem-pensante tem «tolerado» o crime continuado do colonialismo e do apartheid no Estado de Israel, isto não se deve a qualquer falha de lógica das suas «elites», especialmente as ditas de esquerda. Estas luminárias do pensamento «progressista» encontram pseudo-razões, pseudo-justificações, para os crimes continuados dos sionistas em Israel e nos territórios Palestinianos, nos crimes efectuados pelo regime nazi sobre as populações judias, do seu próprio país e dos países conquistados durante a IIª Guerra Mundial. Isto é realmente absurdo, mas funciona como um processo psicológico de inibir a análise objectiva. Trata-se, afinal, duma forma extrema de autoritarismo, o processo de «envergonhar» novos e inocentes indivíduos, por crimes praticados, talvez, por alguns dos seus avós ou bisavós, ou mais longínquos antepassados. Não existe nada mais contrário ao Direito e aos Direitos Humanos, do que «responsabilizar» alguém por crimes que não praticou.

Mas, na realidade, eles fazem-no, porque estão sob a influência do lobby sionista. Em vários países este lobby controla poderosos meios de comunicação social e detém uma influência muito grande junto de quase totalidade da classe política. 

Para prova disto, basta pensar-se na oferta incondicional, ano após ano, que os EUA fazem - votada no Congresso, junto com o orçamento - de ajuda bilionária ao Estado de Israel. Mais nenhum outro Estado do mundo recebe tal benesse anual. E quando algum Estado recebe ajuda, são quantias muito menores; nunca tais ajudas são renovadas automaticamente. O congresso dos EUA é  a câmara de eco dos interesses sionistas. 

Israel domina a política interior dos EUA: Nenhum candidato à presidência pode atingir sequer as «primárias», seja do Partido Democrático, seja do Partido Republicano, caso se suspeite que possa levantar objecções... a este apoio tão especial. A congressista Tulsi Gabbard foi afastada da corrida para nomeação à presidência pelo partido Democrático, apesar de ser ex-combatente no Iraque, somente porque teve a ousadia de visitar a Síria e falar com pessoas comuns, para saber directamente a sua opinião. 

No Reino Unido, o dirigente do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn foi traído e destituído, num golpe interno de membros sionistas (os «amigos» de Israel), porque ele não abdicava de defender a causa Palestiniana, de acordo com sua consciência, a dos seus apoiantes e seguindo as melhores tradições do movimento socialista e laboral. 

Muitos outros exemplos se poderiam referir.

O certo, é que as pessoas se deixam enredar na retórica dos direitos humanos, muito correcta em si mesma. Mas, o que falta, à grande maioria, é espírito crítico.

Se houvesse esse espírito, questionariam: Se se aplica aos Uigures, então porque não se tem o mesmo discurso, em relação aos Palestinianos? Se se aplica aos Venezuelanos, porque não se aplica aos Sauditas? etc, etc...

Tais «indignações» vesgas, são tão obviamente hipócritas que deveriam provocar o desprezo, a risota, desqualificando os políticos, jornalistas e intelectuais, que se revestem do manto de «defensores dos direitos humanos»...quando lhes convém. 

O que me deixa triste e céptico sobre a racionalidade de parte dos meus concidadãos, é que os piores oportunistas têm sucesso, conseguem vogar nas águas da política-espectáculo, são aplaudidos, apesar de terem esses tais comportamentos!  


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

MÉTODO CIENTÍFICO ; «SER CIENTÍFICO NO DIA A DIA»

 Neste mundo, em que estão constantemente a atirar-nos à cara com o «veredicto da ciência» e quem o faz são - geralmente- pessoas completamente falhas de experiência científica verdadeira, meros manipuladores da opinião pública, torna-se indispensável compreender realmente o que é e o que não é ciência.

Por exemplo, quando vos dizem «provado cientificamente», lembrem-se que a ciência nunca prova nada (Gregory Bateson):

Com efeito o caminhar da ciência, não é o do matemático demonstrando que A= B, ou seja, mostrando que é verdadeira uma equação. Isso é possível em Matemática, essa meta-ciência, que apenas lida com símbolos, com teoremas, etc. Mas, mesmo isso afinal, é válido apenas dentro de um conjunto de axiomas. Não é válida a afirmação de que duas rectas paralelas nunca se encontram, senão dentro dos postulados (axiomas) da geometria euclidiana.Na geometria riemanniana (de B. Riemann), isso simplesmente não é válido. Ao fim e ao cabo, em Matemática, usa-se o termo «demonstração», sabendo-se perfeitamente que é dentro de um conjunto de axiomas (ou postulados). Quando se diz que tal solução «é verdadeira», subentende-se «...dentro do sistema axiomático no qual a demonstração é efectuada».

Mas, ao contrário da Matemática, todas as ciências físicas e naturais, são relativas ao mundo real, a objectos do mundo real.

A «experiência científica» não é uma experiência vivencial comum. Nós todos - seja qual for a nossa situação - «experimentamos», num certo sentido. A linguagem é polissémica, é ambígua e o significado de uma palavra, de uma frase, muda completamente, consoante o contexto em que é proferida. 

Se eu disser que experimentei ou que testemunhei, que vi ou que presenciei algo, isso não quer dizer necessariamente que estive a fazer uma experiência científica, válida segundo as metodologias adequadas para determinado ramo das ciências. Pode ser que sim, mas apenas num contexto muito particular. Só nesse contexto particular e explícito,  meu interlocutor perceberá que eu quero comunicar o resultado de experiência ou observação, cientificamente válida.  

Os aldrabões que enxameiam os media, sejam eles do «mainstream» ou «alternativos», não têm preocupações nenhumas em veicular as informações com rigor. Se, eventualmente, vêem ou ouvem algo, que confira uma aparência de verdade à sua tese, estão logo prontos a afirmar taxativamente que têm a «prova» de que A é a «verdade científica» e que B está totalmente invalidado...

A isto se chama propaganda, uso manipulador de teorias ou de hipóteses:  podem ser  - em si mesmas - válidas cientificamente, mas o que eles fazem é distorcer, truncar, enfeitar, algo que até pode ser respeitável no seu âmbito. 

O caso conhecido e com consequências por vezes trágicas, é o constante apelo à teoria da Evolução, mas não a um verdadeiro raciocínio de ciência evolutiva, antes à utilização de chavões e ideias-feitas, completamente alheias a Darwin ou outros eminentes cientistas, passados ou presentes.  Digo que esse uso da ciência da Teoria da Evolução para fins de propagar uma ideologia tem consequências trágicas, pois os colonialistas a usaram para perpetuar seu domínio sobre povos colonizados, fazendo valer o pseudo facto que eles eram como «crianças», que estavam num estádio de evolução atrasado, que o homem branco tinha a responsabilidade de os «guiar» para a civilização.  

                    Visão europeia sobre rituais «selvagens»

Igualmente, o racismo mais desabrido dos nazis, os levou ao genocídio de judeus e de ciganos...Mas, note-se, que infelizmente, numa forma mais ou menos diluída, esta ideologia racista foi «apanágio» de todas as sociedades «civilizadas» (ou seja europeias, ou de origem europeia) durante mais de um século. 

No presente, usa-se a capa da ciência para impor uma visão absurda, tanto no domínio climático, como no domínio da epidemiologia.

No domínio da climatologia, sabemos que as oscilações mais ou menos profundas da temperatura do globo são caracterizadas pela conjunção de fenómenos astronómicos, como a influência de planetas sobre a excentricidade do movimento de translação terrestre (ciclos de Milankovic), ou os ciclos nas manchas solares, irradiando mais energia em certas ocasiões em relação  a outras, etc. 

                      Influência dos ciclos sobre rotação da Terra

Inclusive, o tão propalado efeito de estufa, o qual é real (nenhum cientista veio jamais negar a sua existência), tem como característica que muito do excesso do dióxido de carbono libertado para a atmosfera provém de mudanças nas correntes submarinas, ainda mal compreendidas, com ciclos de longa duração, da ordem das várias centenas e não de dezenas de anos. 

Na utilização da ciência climática (tal como no caso da Evolução), os propagandistas têm apenas apresentado alguns dados, muitos deles derivados de modelos computacionais, fazendo com que o público seja induzido a pensar que «esteja provado» que o CO2 antropogénico é o factor principal (senão mesmo o único!) no aquecimento global. 

Mas, este esforço ideológico não corresponde a nenhum verdadeiro comprometimento com uma transformação das actividades produtivas no sentido de mais respeito pelos ecossistemas e não por em cheque a sustentabilidade da vida no planeta. 

Não! Isso é apenas a capa com que querem levar as pessoas a aceitar um retrocesso da sua qualidade de vida, enquanto a elite se mantém usufruindo de bens colectivos sem qualquer preocupação senão se perpetuar a ela própria e seu estilo de vida de privilégio. 

Desde a Conferência do Rio (1992) que andam a propalar os mesmos alertas, os mesmos figurões de sempre. Nem sequer são cientistas de profissão, em geral: são, maioritariamente, homens e mulheres de negócios, dos media ou políticos...Mas reparem que os orçamentos militares das grandes potências continuam a crescer assustadoramente, a utilização de aviões a jacto (muitos deles militares) continua em crescendo, as descargas poluentes - que matam rios, lagos, mares e oceanos - continuam, as desflorestações para produção de soja e outras forragens, nunca pararam de crescer... etc...

Outra patranha é a do recente episódio do coronavírus, que foi aproveitado pela mesma «elite» para fazer de nós todos «cobaias». Sendo o pior de tudo, o modo como a população dos mais diversos países, aterrada, se submeteu quase sem resistência, à tirania imposta pelos governos, inclusive aos confinamentos, ao recolher obrigatório e a todo o cortejo de restrições absurdas*. 

                       Iluminura do tempo da peste bubónica

Com isso, trataram de anular, na prática, a liberdade e os meios de subsistência de milhões de pessoas. 

Pois esta grande «experiência», por parte da oligarquia destina-se a avaliar até que ponto a população se conformará, nos tempos conturbados de crise económica sistémica, que todos os economistas anunciam, significando isso despedimentos, falências e seus corolários de fome, de revoltas e insurreções ... 

A ciência consiste numa metodologia que pode ser colocada ao serviço do comum dos mortais, enquanto instrumento crítico de análise. Como método para não cairmos nas armadilhas da propaganda disfarçada. 

Com efeito, se te contam algo, deves ter cuidado em não aceitá-lo «de chapa», mesmo que venha aparentemente de fonte «insuspeita». Mesmo com as melhores intenções, as pessoas enganam-se e - sem qualquer intuito maligno - enganam por sua vez os outros. O espírito crítico deve exercer-se, mesmo e talvez sobretudo, quando os que propagam determinada ideia nos pareçam confiáveis. Ou, quando a ideia, em si mesma, nos pareça sedutora, próxima do nosso sentir, das nossas convicções...

Depois, perante um conjunto de informações e leituras sobre determinado tópico, constatarás que existem várias interpretações dos dados. Haverá pessoas e correntes a afirmarem determinada coisa como evidência  e outras a descartarem ou negarem a veracidade de tal coisa. 

Naturalmente, acabas por te inclinar a favor de uma hipótese, mais do que das outras. Isto, em si mesmo, não é nefasto. Só é nefasto se - rigidamente - te colares/fixares nessa hipótese. Se a tal hipótese for vista como provisória e susceptível de revisão ou até, no limite, como susceptível de ser descartada, então manterás os olhos do espírito abertos para novos dados e novas interpretações. 

Assim, estás realmente a aplicar o espírito científico ao quotidiano, minimizando as hipóteses de seres levado pela propaganda disfarçada, que te dá uma impressão de «ciência» e, afinal, mais não é que uma hábil maneira de te convencer de algo. 

Quando alguém te vem falar de «consenso científico»,  lembra-te: na ciência não há consenso; há teorias discordantes, hipóteses diversas, há debate (e por vezes, até polémica) constante entre especialistas. Se houvesse «consenso científico» como critério de verdade... 

... ainda pensaríamos que a Terra está no centro do Universo: o consenso científico na época, era contrário às teorias de Galileu.

... que a relatividade é uma fantasia: quando Albert Einstein emitiu a sua teoria da relatividade, os cientistas achavam que a física de Newton era o quadro definitivo da realidade.

...etc, etc. 

Certas pessoas são muito poderosas, capazes de influenciar instituições como a ONU ou a OMS. Graças a esta última, eles têm influência sobre  os Estados para lhes  sugerir estratégias e inclusive impor vacinas sem qualquer garantia nem de eficácia, nem de inocuidade, contra o SARS-Cov-2.

Tal como os governos, esses muito ricos (bilionários) não nos dizem o que os move, não são sinceros. Para ler a sua agenda é preciso compreender a sua trajectória, vermos os seus «feitos», não os discursos, sabermos quais os valores deles (o globalismo, o eugenismo, o elitismo). 

A partir daí, devemos enquadrar com o que se passa  para compreendermos globalmente.

         Querem convencer-nos de que as vacinas são a «única» salvação

A minha intenção não é induzir-te a pensar assim ou assado. A missão dum espírito livre, sem preconceitos de qualquer espécie, é científica na sua essência. Com efeito, no mundo real, temos sempre um número de dados restrito ao nosso dispor. Mas, para avançar temos de dar como válido, provisoriamente, aquele conjunto de dados de que dispomos. Se formos flexíveis, à medida que se avança, que os acontecimentos se desenrolam, vão surgir - necessariamente - dados novos, que permitem refinar ou modificar nossa visão das coisas. 

É isso que chamo ser científico no dia a dia.


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O Prof. Didier Raoult, em entrevista recente, considerava as medidas de gestão da crise do COVID - confinamentos, quarentenas, etc. - PIORES que as práticas da IDADE MÉDIA

Ver também a recente invalidação dos artigos científicos que estiveram na base do uso do teste PCR para o Covid.




   

sábado, 28 de setembro de 2019

REFLEXÃO: NEO-COLONIALISMO NO SÉCULO XXI

                        Mobutu Sese Seko and Richard Nixon in Washington DC in October 1973
Imagem: Mobutu Sese Seko encontra-se com Richard Nixon em Washington, em 1973 

Quando nos debruçamos sobre a História mundial do século XX e nos deparamos com a época das independências das colónias, que os vários poderes imperialistas europeus possuíam e cuja exploração permitiu grande parte do excedente para a construção da sociedade da abundância na Europa, devemos analisar como esses colonialismos (Britânico, Francês, Português, Belga...) se transmutaram em sociedades neo-coloniais, em que a estrutura da economia, baseada na extracção e exportação de matérias-primas, se manteve, quase sempre na posse dos mesmos poderosos grupos industriais. Mesmo nos casos em que houve nacionalizações, a estrutura dos mercados era tal, que as produções dos países ex-coloniais eram fundamentalmente para um mercado mundial, controlado pelos mesmos poderes da era colonial. 
Por outro lado, as instâncias políticas presentes nos mais diversos países, embora fossem de aparente cariz anti-colonial, eram muitas vezes complacentes com a continuação do estado de coisas anterior, a troco de situação de privilégio para si próprias. 
Isto podia ir até ao ponto de países ex-colonizadores irem defender militarmente os governantes (em geral, ditatoriais) contra todas as ameaças «terroristas» que eles tivessem de enfrentar. 
No presente século, as situações neo-coloniais, em África, Médio-Oriente, Ásia do Sul e América Central e do Sul, não evoluíram globalmente para uma maior autonomia, capacidade de desenvolvimento baseado nos próprios recursos, construção de Estados e modos de governar próprios. 
O «Ocidente» continua impiedosamente a esmagar as populações, sob as ditaduras locais:
 - As matérias-primas continuam a ser arrancadas a baixo custo, para depois serem colocadas nos mercados mundiais com lucros colossais, essencialmente fora do controlo das entidades nacionais dos países de onde provieram. 
- As fábricas, com as condições de trabalho mais duras e os salários mais irrisórios, continuam situadas nos mesmos pontos do globo, permitindo que multinacionais obtenham lucros por essa exploração impiedosa, essencial para os seus modelos de negócio, quer se trate de confecções, micro-electrónica, agricultura de exportação, ou até, de serviços como «tele-marketing»- deslocalizados da Europa e América do Norte. 
- Os exércitos da NATO, com ou sem cobertura das Nações Unidas, auto-instituem-se como «polícia mundial», mesmo que as pessoas que vivem nos países «policiados» (Afeganistão, vários países africanos) não tenham pedido esse «policiamento», nem o desejem e gostariam de ver pelas costas esses exércitos internacionais, que vêm manter «a ordem» isto é, um governo corrupto e submisso aos poderes globais, quer na forma de Estados, quer dos grandes grupos corporativos que os controlam (as indústrias do petróleo, a grande finança, as indústrias de armamentos, etc.).

É portanto muito importante, fundamental mesmo, para o capitalismo globalizado de hoje, a manutenção deste conjunto de relações neo-coloniais. Sem ele, certamente, o bem-estar material das populações da Europa e da América do Norte, não teria o mesmo nível. Sobretudo, os lucros das grandes corporações não poderiam ser tão elevados. 
É precisamente este o ângulo que é «omitido» em todas as análises sobre a One Belt One Road (OBOR) da China, que tenho lido na media ocidental corporativa. 
Se o aparato ideológico do «Ocidente» se atira contra a iniciativa de «One Belt One Road», que a China lançou há cerca de 6 anos, é porque ela está sendo - no geral - bem sucedida, com adesão de muitos países (mais de 60), com estatuto de «desenvolvidos» ou de «em desenvolvimento», nos quatro continentes. 
Em desespero, o Império dos EUA tem feito soar os tambores da guerra, quer contra a China, quer contra a Rússia, multiplicado as sanções económicas, os boicotes, as ameaças, não apenas a estes dois gigantes, mas também a outros, seus aliados ou apenas seus parceiros comerciais. 
Nisto, podemos ver o desespero dum animal ferido de morte, que tenta - em vão - virar o sentido da História. Eles, dirigentes e ideólogos do globalismo sabem, melhor que ninguém, que não há futuro para um monopólio mundial do poder, uma hegemonia duma só potência sobre todas as outras. Mas pensam, erroneamente, poder atrasar a vinda desse momento, em que a Terra será de novo um planeta com muitos e diversos conjuntos de nações, com alianças diversas e com múltiplos laços de comércio, com interesses variados partilhados, sem que nenhum esteja em posição de ditar ao mundo inteiro a «sua verdade de nação excepcional». 

Nada poderá atrasar uma força irresistível e que vem do fundo de nós todos, de cada pessoa individual e dos grupos humanos, dos povos, das civilizações mundializadas. Pois trata-se de uma profunda aspiração a maior autonomia, à auto-determinação das nossas vidas, ao desenvolvimento das nossas economias, das nossas culturas, numa grande diversidade, com entendimento fundamental e com respeito mútuo entre todos. 
Só nesse momento, quando houver uma real igualdade de acesso das pessoas à educação, à cultura e uma igualdade de acesso dos países às trocas, ao comércio internacional, no respeito e interesse mútuo, poderemos dizer que ultrapassámos - enquanto Humanidade - a era colonial e seu prolongamento, o neo-colonialismo.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

HONG KONG, REGRESSA O TRATADO DE NANQUIM - POR MANLIO DINUCCI

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A Arte da Guerra
Hong Kong - regressa o "Tratado de Nanquim"
Manlio Dinucci
Centenas de jovens chineses, em frente ao Consulado Britânico, em Hong Kong, cantam “Deus Salve a Rainha” e gritam “Grã-Bretanha, salva Hong Kong”, apelo reunido em Londres por 130 parlamentares, que pedem para dar a cidadania britânica aos moradores da antiga colónia. Assim, a Grã-Bretanha é apresentada à opinião pública mundial, especialmente aos jovens, como garantia da legalidade e dos direitos humanos. Para fazê-lo, elimina-se a História. Portanto, é necessário, antes de outras considerações, o conhecimento dos acontecimentos históricos que, na primeira metade do século XIX, conduzem o território chinês de Hong Kong ao domínio britânico
Para penetrar na China, então governada pela dinastia Qing, a Grã-Bretanha recorreu à venda de ópio, que transporta por via marítima da Índia, onde detém o monopólio. O mercado de drogas espalha-se rapidamente no país, provocando graves danos económicos, físicos, morais e sociais que suscitam a reacção das autoridades chinesas. Mas quando elas confiscam, em Cantão, o ópio armazenado e o queimam, as tropas britânicas ocupam,  com a primeira Guerra do Ópio, esta e outras cidades costeiras, constrangendo a China a assinar, em 1842, o Tratado de Nanquim.
No artigo 3 estabelece: “Como é obviamente necessário e desejável que os súbditos britânicos disponham de portos para os seus navios e para os seus armazéns, a China cede para sempre a ilha de Hong Kong a Sua Majestade, a Rainha da Grã-Bretanha e aos seus herdeiros".
No artigo 6 o Tratado estabelece: “Como o Governo de Sua Majestade Britânica foi forçado a enviar um corpo de expedição para obter uma indemnização pelos danos causados pelo procedimento violento e injusto das autoridades chinesas, a China concorda em pagar a sua Majestade Britânica, a quantia de 12 milhões de dólares pelas despesas envolvidas”.
O Tratado de Naquim é o primeiro dos tratados desiguais através dos quais as potências europeias (Grã-Bretanha, Alemanha, França, Bélgica, Áustria e Itália), a Rússia czarista, o Japão e os Estados Unidos asseguram na China, pela força das armas, uma série de privilégios: a transferência de Hong Kong para a Grã-Bretanha, em 1843, a forte redução de impostos sobre mercadorias estrangeiras (assim como os governos europeus estabeleceram barreiras alfandegárias para proteger as suas indústrias), a abertura dos portos principais a navios estrangeiros e o direito de ter áreas urbanas sob a sua administração (as “concessões”) subtraídas à autoridade chinesa.
Em 1898, a Grã-Bretanha anexou a Hong Kong, a península de Kowloon e os designados New Territories (Novos Territórios), concedidos pela China “por aluguer”, durante 99 anos. O descontentamento generalizado sobre estas imposições fez explodir uma revolta popular, no final do século XIX – a Revolta dos Boxers - contra a qual interveio um corpo expedicionário internacional de 16 mil homens sob comando britânico, no qual a Itália também participou.
Desembarcou em Tianjin, em Agosto de 1900, saqueia Pequim e outras cidades, destruindo numerosas aldeias e massacrando a população. Posteriormente, a Grã-Bretanha assume o controlo do Tibete, em 1903, enquanto a Rússia czarista e o Japão dividiram a Manchúria, em 1907.
Na China reduzida a condições coloniais e semi-coloniais, Hong Kong torna-se o principal porto de comércio baseado na pilhagem dos recursos e na exploração esclavagista da população. Uma massa enorme de chineses é forçada a emigrar, sobretudo para os Estados Unidos, Austrália e Sudeste Asiático, onde é coagida a condições semelhantes de exploração e discriminação.
Surge, espontaneamente, uma pergunta: em que livros de História estudam os jovens que pedem à Grã-Bretanha para “salvar Hong Kong”?

ilmanifesto, 17 de Setembro de 2019

quinta-feira, 23 de maio de 2019

CRIMINOSOS DE GUERRA ISRAELITAS - SUAS PALAVRAS MESMAS OS ACUSAM



Alvejar Manifestantes Palestinianos Desarmados «Preserva os Valores de Israel»


PHILIP GIRALDI • 21 de Maio, 2019

A imagem pública de Israel, apoiada e propagada por uma rica e poderosa diáspora que tem um controlo significativo sobre a media, insiste em que o país é a única democracia no Médio Oriente, que opera em termos legais para todos os seus cidadãos e que o seu exército é «o mais moral do mundo». Todas estas afirmações são falsas. O governo de Israel favorece os cidadãos Judeus através de leis e regulamentos que são definidos pela religião. De facto, identifica-se a si próprio como o Estado dos Judeus com os cidadãos Cristãos e Muçulmanos tendo um estatuto de segunda classe. O exército de Israel, entretanto, tem cometido numerosos crimes de guerra contra populações civis largamente desarmadas, nos passados setenta anos, tanto no Líbano como contra palestinianos na Margem Ocidental e em Gaza.
Em resposta à Grande Marcha pelo Retorno do ano passado, em que civis de Gaza protestaram junto da vedação que os separa de Israel, os «snipers» do exército de Israel alvejaram mortalmente 293 palestinianos e feriram mais de sete mil. Outros vinte e dois mil foram atingidos por outras armas usadas pelos israelitas, o que inclui os recipientes de disparos de gases lacrimogéneo e balas de borracha. Os números incluem centenas de crianças e de pessoal médico de primeiro socorro, que tentavam ajudar os feridos, os quais foram - segundo os relatos – particularmente alvejados.
As Nações Unidas relataram que muitos foram alvejados nas pernas, o que o exército de Israel considera como “contenção” de sua parte. Muitos dos feridos irão ter de ser amputados  porque Gaza carece de meios médicos necessários para tratar as suas feridas de forma apropriada. Israel bombardeou hospitais e bloqueou a importação de aparelhos médicos em Gaza ao mesmo tempo que não permitia que os habitantes de Gaza saíssem do enclave para tratamento médico noutro sítio, no Médio Oriente.
Cento e vinte amputações já foram realizadas este ano. Jamie McGoldrick, o Coordenador Humanitário da ONU para os Territórios Ocupados explicou que “Existem 1700 pessoas com necessidade de cirurgias graves, complicadas, para que possam voltar a andar… [exigindo] muito séria e complexa cirurgia com reconstrução óssea durante um período de dois anos, antes de poderem começar a fase de reabilitação.”
As Nações Unidas gostaria de fornecer 20 milhões de dólares para assistência médica, em vez de amputações, mas os EUA recusaram apoiar este financiamento de emergência para os palestinianos através da agência de auxílio da ONU (UNRWA), uma posição presumivelmente tomada para favorecer Israel em punir o povo palestino.
Interessantemente, voltou à superfície um documento arrepiante descrevendo o ponto de vista do Exército de Israel em relação a alvejar manifestantes árabes. Há um ano, o ex-diplomata britânico Craig Murray publicou no seu blog, “Condemned By Their Own Words (Condenados pelas suas próprias palavras)”, que fornecia uma tradução do hebreu para inglês da transcrição de uma emissão de rádio israelita que tinha sido efectuada a 21 de Abril. Um brigadeiro-general israelita, chamado Zvika Fogel, estava a responder a notícias de ter sido morto um rapaz de catorze anos, desarmado, pelos soldados. Ele explicou em detalhe, que os soldados estão a fazer a coisa certa ao alvejarem e matarem palestinianos que se aproximam da barreira separando Gaza de Israel.
Os comentários do general Fogel são representativos do ponto de vista do governo sobre como controlar o «problema palestiniano». Apenas os direitos dos judeus, incluindo o direito à vida, são legítimos e os árabes deveria estar gratos por aquilo que o Estado dos Judeus lhes permite ter.

Fogel respondeu ao entrevistador Ron Nesiel à primeira pergunta “Deveria o IDF [exército de Israel] repensar o uso de snipers?” dizendo que “Qualquer pessoa que se aproxima da vedação, qualquer pessoa que pudesse ser uma ameaça futura à fronteira do Estado de Israel e seus residentes, deveria pagar o preço dessa violação. Se aquela criança ou qualquer outra pessoa se aproxima para esconder aí um engenho explosivo ou ver se existe alguma zona não segura ou para cortar a vedação, de forma que alguém pudesse infiltrar-se no território do Estado de Israel e matar-nos…”
Nesiel: “Então, o seu castigo é a morte?”
Fogel: “O seu castigo é a morte. No que me diz respeito então sim, se for possível atirar às pernas para pará-lo – óptimo. Mas se isso não é possível, então quer-se ver qual dos dois sangues é mais espesso, se o deles se o nosso. É claro para nós que, se alguém assim consegue ultrapassar a vedação, ou esconder um engenho explosivo …”
Nesiel: “Mas ensinaram-nos que fogo real é apenas usado quando os soldados enfrentam perigo imediato … Não nos faz bem a nós, todas essas imagens que são distribuídas pelo mundo fora.”
Fogel: “Eu sei como essas ordens são dadas. Eu sei como é que um sniper faz os disparos. Eu sei quantas autorizações ele precisa antes de receber uma autorização de abrir fogo. Não é a fantasia de um sniper ou outro que identifica o frágil corpo de um rapaz num dado momento e decide disparar. Alguém marca o alvo muito claramente para ele e diz-lhe exactamente por que razão tem que disparar e qual a ameaça vinda desse indivíduo. E com muita pena minha, às vezes mata-se um pequeno corpo, quando se pretendia alvejar um braço ou ombro e o tiro vai acima. A imagem não é bonita. Mas, se é o preço que temos de pagar para preservar a segurança e qualidade de vida dos residentes do Estado de Israel, então seja esse o preço.
“Olha, Ron, até somos muito bons nisso [em suprimir essas imagens] Não há nada a fazer, David tem sempre melhor figura que Golias. E, neste caso, somos Golias, não somos David. Isso é perfeitamente claro para mim… Isto vai arrastar-nos para uma guerra. Eu não quero estar no lado dos que são arrastados, quero estar do lado dos que iniciam as coisas. Eu não quero esperar pelo momento em que o inimigo encontra um ponto fraco e me ataca aí. Se amanhã vem a uma base militar ou kibutz e mata pessoas e toma reféns, chame-se o que se quiser, estamos num novo cenário. Eu quero que os líderes do Hamas acordem amanhã de manhã e pela última vez na sua vida vejam as faces sorridentes do IDF. É isso que eu quero que ocorra. Mas nós somos arrastados. Por isso estamos a colocar snipers, porque queremos preservar os valores nos quais fomos educados. Não podemos sempre tomar uma única foto e colocá-la em frente do mundo inteiro. Temos soldados aí, nossos filhos, que foram enviados lá e recebem instruções muito precisas sobre quem alvejar para nos protegermos. Vamos dar-lhes apoio.”
Pode-se razoavelmente sugerir que os comentários de Fogel reflectem o consenso entre israelitas sobre como lidar com os árabes. E os Estados Unidos são plenamente cúmplices com a matança. O embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, tem repetidas vezes elogiado o comedimento das forças armadas de Israel e censurou os habitantes de Gaza pelo seu comportamento. Os Estados Unidos continuam a subsidiar colonatos israelitas ilegais que incendeiam o conflito e estão acabando de colocar os últimos retoques no plano de paz aprovado pelos israelitas, que fará agora e para sempre dos palestinianos um não-povo, sem nação própria e sem quaisquer esperanças para o futuro. Entretanto, continuam a ser alvos dos snipers israelitas. O mundo deveria estar horrorizado pela arrogância de Israel e os EUA deveriam encolher a cabeça de vergonha, de cada vez que um político americano conivente viesse com o estribilho “Israel tem o direito de se defender.”

Philip M. Giraldi, Ph.D., é director executivo do «Council for the National Interest», councilforthenationalinterest.org, sua morada é: P.O. Box 2157, Purcellville VA 20134 e seu email: inform@cnionline.org.

Traduzido por Manuel Banet Baptista para o Observatório da Guerra e Militarismo


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RELAÇÃO AMBÍGUA DE PORTUGAL COM O SEU PRÓPRIO PASSADO

                          Portugal


A proclamação da república em 5 de Outubro de 1910 foi resultante de um golpe civil-militar que conseguiu derrotar militarmente as últimas forças fiéis ao monarca. D. Manuel II subiu ao trono em 1908, depois do regicídio que vitimou D. Carlos e seu irmão, o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

                    Imagem relacionada

A história dos tempos conturbados da 1ª República e os que precederam a revolução republicana de 1910, está ainda largamente ignorada pelo grande público. 
Os republicanos dos finais do século XIX eram um grupo heterogéneo, tanto nas classes sociais, como nas ideologias. Havia alguns com uma concepção «social» da república, nomeadamente os que tinham militância ou afinidades com os movimentos operários, muito influenciados pelos ideais socialistas e anarquistas. 

               

Mas outros, eram membros da grande burguesia, industrial ou latifundiária, cujo fim era a implantação de um regime que favorecesse o desenvolvimento industrial do país. 
A grande massa porém, era constituída por funcionários públicos, por empregados do comércio e serviços, sobretudo na capital e nas grandes cidades, imbuídos de um republicanismo com colorações nacionalistas. 
Não esqueçamos que o Partido Republicano explorou a veia nacionalista aquando do episódio do «ultimato», da humilhação sofrida por Portugal face à aliada Grã-Bretanha («a pérfida Albion»). 
Muitos republicanos da viragem do século XIX para o século XX eram firmes defensores do colonialismo português. Muitos tinham uma visão paternalista da relação do povo colonizador com os povos colonizados. Um destacado exemplo disso foi Norton de Matos, escolhido pela oposição republicana como candidato presidencial em 1948, o qual tinha tido uma larga carreira como administrador colonial em Angola

É um erro projectar os valores dos finais do século XX na mentalidades do início deste mesmo século. A chamada «república democrática», foi tudo menos democrática, pelos padrões comuns hoje em dia. 
- A eleição parlamentar era censitária: Só quem fosse instruído e tivesse um mínimo de rendimento podia votar. Os deputados eram eleitos por círculos desenhados de acordo com as conveniências do poder. As mulheres, em geral, estavam arredadas dos cargos públicos. Muitas eleições tinham uma taxa de participação muito fraca. Eram frequentes as «chapeladas» (fraudes eleitorais).  
- Os operários eram reprimidos violentamente, durante as greves. Afonso Costa era admirado e louvado, em certos meios, por ter «quebrado a espinha» aos movimentos grevistas. As prisões enchiam-se de sindicalistas e outros militantes operários. 
- Havia uma polícia política em embrião, ligada ao aparelho do Partido Republicano. 
- A corrupção era potenciada pela instabilidade política e pela desorganização da economia. 
- O anti-clericalismo radical de certos políticos favoreceu a aliança entre os conservadores republicanos, os monárquicos e o clero. Esta aliança esteve na origem do peculiar fascismo clerical português. 

No golpe de 28 de Maio de 1926, que veio proporcionar a posterior ascensão de Salazar, participou uma facção republicana do exército. Talvez por isso Salazar nunca se tenha atrevido a restaurar o regime monárquico, como o fizera Franco, o outro ditador ibérico. 

Uma obra da república com verdadeiro mérito foi o esforço enorme, apesar das condições económicas, para alargar a alfabetização do povo, para propagar um ensino laico e de acordo com os métodos pedagógicos mais avançados para a época. 
Foi esta obra, a da educação pública, que Salazar se esmerou em anular, fechando as Escolas do Magistério Primário, centros de formação de professores primários, instaurados pelo regime republicano desde muito cedo, e entregando a instrução primária ao clero e «regentes escolares» com formação rudimentar, para educação das classes pobres.

Hoje em dia há uma larga ignorância das pessoas em relação ao seu passado, não tão longínquo. 
Tal como em relação à história do colonialismo, em relação à da Iª República, há imenso a fazer: sobre os antecedentes, o conturbado período de sua vigência, ou o seu derrube. 

O povo português ignora importantes períodos da sua história, particularmente os finais do século XIX e a primeira metade do século XX. Na forma como é ensinada no ensino básico e secundário, é reduzida a uma série de chavões e lugares-comuns, que mais ocultam a verdade do que realmente esclarecem sobre os factos. 

Um povo que ignora o seu passado não pode compreender o presente, pelo que está mais susceptível de ser enganado e arrastado para falsas soluções.