From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.
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sábado, 23 de dezembro de 2023

PORQUE PRECISA O CAPITALISMO DE EXTRAIR RIQUEZA DO SUL GLOBAL?

Diálogo com a economista Utsa Patnaik


 

                                              https://www.youtube.com/watch?v=6RF5vx1W_kk


Quando as pessoas falam sobre capitalismo, esquecem frequentemente que existe num mundo onde mais de três quartas partes são duramente exploradas em todos os aspetos. Esse mundo, o «Sul Global» tem sido explorado durante séculos, de forma sistemática, sendo duplo o efeito persistente: 
- Por um lado, o Sul Global não teve oportunidade de se desenvolver e de atingir, pelas suas forças próprias, a transformação das forças produtivas e das condições de vida, que se verificaram no Norte; 
- Por outro, o Sul Global foi (e continua sendo) o principal fornecedor de matérias-primas e de produções alimentares, à Europa e América do Norte. Sem as quais, não poderiam estas regiões levar a cabo o desenvolvimento que se verificou, pelo menos, desde a segunda metade do Século XVIII, até aos dias de hoje. 
A questão principal abordada na entrevista, é de como os países possuidores de colónias e posteriormente, neocoloniais, beneficiaram da sobre-exploração dessa parte de humanidade durante vários séculos. 
Seria impossível o desenvolvimento histórico do capitalismo existir como teve lugar, na ausência do excedente proporcionado pela rapina, pelo trabalho escravo, pela exploração sistemática, pela anulação contínua de forças produtivas dos países colonizados. 
Oiça/veja a entrevista do vídeo acima, muito esclarecedora por se basear em factos  não em teorias ou visões distorcidas de realidades históricas.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

CONTROLA OS SEUS IMPULSOS?

 O comércio joga com os impulsos das pessoas  para comprarem. O estímulo para comprar está disseminado em toda a sociedade. É que na sociedade da mercadoria, onde tudo se compra e vende, o ato de comprar é assimilado a duas coisas, no inconsciente:

A - Um prazer sensual, análogo à fase oral/anal da psicologia freudiana. 

Com efeito, a adição de compra compulsiva  é uma patologia muito séria e mais banal  que outras adições que não envolvam ingestão de «drogas». Mas, o sistema de escravização do consumidor consegue desenvolver técnicas para o aumento de sua adição. 

Por exemplo, as luzes e decorações de Natal nas ruas, nos centros comerciais e nas montras: São, afinal, a criação de um ambiente «feérico» que faz as pessoas quererem voltar à infância e deixarem-se arrastar por impulsos de consumo. Este impulso pode ser motivado por desejo de satisfazer entes queridos (o Natal como festa da Família), mas também aqui se trata de uma relação falseada, porque mediada pela mercadoria. Em geral, quer em ocasiões «normais» ou «especiais», o impulso obsessivo de comprar, desencadeia compras inúteis, que desequilibram o orçamento pessoal.

B- Um símbolo de status; por isso é que bugigangas produzidas em série, são publicitadas como algo «exclusivo». De facto, a adição às compras é cuidadosamente cultivada pelos órgãos de  comunicação social de massas, cujos rendimentos são resultantes da publicidade, sobretudo. 

O contexto da sociedade mercantil hipervaloriza a aquisição e acumulação de objetos: As pessoas têm uma relação doentia com a posse de certos objetos, em especial se forem caros, de luxo, de «prestígio». 

Os objetos a que me refiro, não são adquiridos por necessidade ou conveniência, são como um «investimento» afetivo e promocional. 

- Auto-Afetivo, porque as pessoas (simbolicamente) estão a remunerar ou a recompensar, a si próprias.

- Auto-Promocional: Ao exibirem algo ostensivamente caro. Esses itens - mesmo que sejam de pouca ou nenhuma utilidade - estão a exibir a  elevada capacidade aquisitiva de seu possuidor.



Numa sociedade onde a aparência é tudo, onde  ser economicamente bem sucedido, é ser uma «celebridade» e passar a fazer parte da «elite», mesmo que seja de maneira efémera, as pessoas não conseguem amadurecer o seu ego. Permanecem bloqueadas nos afetos infantis, tanto no que respeita à «gula» de compras, como à gula de comida. 

Repare-se nas seguintes situações:

- A epidemia de obesidade (sobretudo, nas camadas menos abonadas), 

- A atitude hedónica, não apenas de adolescentes como de adultos (= adolescentes mentais),

- O crescente número de pessoas que ficam endividadas em excesso, usando cartões de crédito, 

Todos estes (e muitos mais), são exemplos bem visíveis de patologias sociais. Todos são característicos da chamada sociedade de consumo. Por contraste, as características acima não se observam nos períodos históricos anteriores à revolução industrial, ou nas sociedades que - ainda hoje - subsistem fora do modelo dominante.

A alternativa não reside na pobreza voluntária, ou noutro tipo de autoflagelação, para combater os males sociais. É fundamental educar-nos e educarmos as jovens gerações, para não cairmos no ciclo infernal do «consumo pulsional». 

Além disso, temos de compreender que as soluções boas para o ambiente, para a sustentabilidade da biosfera e para uma sociedade harmoniosa são incompatíveis com o capitalismo

É um facto, que o capitalismo precisa do sobre- consumo desenfreado. Por muito que mostrem preocupações «ecológicas» e «socialmente responsáveis», os comerciantes e os industriais só são verdadeiramente movidos por uma coisa, o lucro.

Não é de admirar, pois o modelo de economia e sociedade capitalista, é exatamente aquele que endeusa o indivíduo que enriquece, seja lá por que meios for. Desde que seja rico/a, é uma pessoa interessante, inteligente, etc. Portanto, as pessoas - mesmo que não sejam comerciantes ou industriais - são fortemente encorajadas a procurar enriquecer-se, sem olharem demasiado aos meios. 

A ostentação, o consumo de luxo, o consumo hedónico, são o símbolo e o triunfo desejado pela maior parte das pessoas, dentro do  modelo económico e social capitalista.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

COREIA DO SUL: Do milagre económico ao pesadelo demográfico


 Este documentário da CGTN está muito bem feito; porém, não aborda as causas profundas desta situação dramática. A descida vertiginosa da taxa de natalidade tem de ser vista de modo realmente holístico. Ela não é a causa dos problemas: É o epifenómeno de algo muito mais profundo e complexo.
Vejamos, em particular, a questão do urbanismo: 
Na Coreia, em todo o lado, mesmo em pequenas-médias cidades, perfilam-se arranha-céus ou prédios muito altos com mais de vinte pisos, cada piso tendo um número elevado de apartamentos. O que foi visto nos anos 70 como um progresso, hoje é um grande problema urbano, é um modelo  caduco. 
Mas, como o preço dos terrenos urbanos é muito elevado, devido a especulação contínua, há constantes operações de destruição-construção. Os prédios com mais de vinte anos são abatidos e substituídos por prédios novos. Estes, provavelmente, têm maior capacidade para «enlatar» as pessoas. Os apartamentos novos, dimensionados para pessoas sós, devem estar agora em maioria. 
Toda esta construção frenética é muito cara e devoradora de energia, além de apenas perpetuar o isolamento das pessoas, impedindo ou dificultando a vivência em comunidade. 
Isto, numa sociedade que foi tradicionalmente coletivista. É uma operação ideológica, mascarar o coletivismo natural destas sociedades e atribuir-lhes a etiqueta de «confucionistas». Os valores que promovem o coletivo sobre o indivíduo tinham que ser abatidos e difamados. Só assim, o modelo liberal-capitalista conseguiu reinar de modo absoluto, nos anos do «milagre» sul-coreano. 
Agora, o urbanismo com possibilidade de futuro, é o de cidades mais pequenas, com diversidade de serviços e locais de cultura, de lazer, de desporto. Já não são rentáveis nem gerenciáveis, por razões energéticas, as cidades de arranha-céus. 
O preço da energia, seja qual for sua origem - «renovável», «combustíveis fósseis» ou «atómica» - vai crescer em percentagens de dois dígitos. 
Por outro lado, os «países do Sul» estão a reaver sua soberania. Têm subido os preços das suas exportações para patamares mais elevados,  não apenas os preços dos produtos energéticos, como das matérias-primas minerais e dos produtos agrícolas, que a Coreia tem de importar. 

Creio que o modelo de construção que existe em Seul, assim como noutras grandes cidades do Oriente, desde Dubai até Xangai, está condenado pela sua própria falta de viabilidade energética e, portanto, económica. 
Mas, nas grandes urbes da América e da Europa ocorre - essencialmente - o mesmo fenómeno: O centro das grandes cidades foi inicialmente habitado pelos privilegiados. Depois, foi transformado em centro de serviços, com escritórios e áreas de negócios (bancos, firmas de investimento, bolsas, sedes das grandes multinacionais...). 
Finalmente, com a crise - desde 2008, início  da crise terminal do capitalismo - observa-se a degradação acelerada dos centros das grandes cidades e a migração para uma periferia, cada vez mais distante, dos trabalhadores de serviços e  das «classes médias». 
O efeito é de desertificação, não apenas dos seus habitantes efetivos, como dos serviços do dia-a-dia. Hoje, as grandes cidades do mundo tornaram-se desertos humanos, no seu centro de negócios. Apenas existem nas horas laborais. Fora dessas horas, as suas avenidas desertas são locais pouco seguros.
     
Este modelo urbano teria de ser modificado em profundidade, para resolver as questões humanas e sociais, decorrentes da acumulação de disfunções da sociedade do consumo frenético, do reino da mercadoria acima do humano. 
O mesmo se passa em muitas outras sociedades, inclusive nas que não são classificadas como capitalistas típicas. A razão disto, tem a ver com uma certa imagem de progresso, que impregnou o imaginário dos povos nos últimos 80 anos. 
Este modelo começou a entrar em crise há, pelo menos, 40 anos.  Em vão, os governos e as classes dominantes têm tentado fazer reformas que sustentem a rentabilidade do capital. 
Eles não têm a noção de que o capitalismo entrou na idade senil e que já não é reformável. 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

ENTRAMOS NA FASE DE DESTRUIÇÃO CÍCLICA [CRÓNICA(Nº21) DA IIIª GUERRA MUNDIAL]

 

Entrámos em pleno na fase de destruição do sistema capitalista mundial. Nada é linear, mas a acumulação de violência, sobretudo de violência de Estados, apesar e contra as suas próprias declarações de princípios, junto com o condicionamento das massas, com doses de medo e de ódio, cada vez maiores, mostram que a máquina está já em movimento. 
Num passado histórico recente, nos anos anteriores às duas Guerras Mundiais, ocorreram guerras ditas regionais, que foram ensaios ou «laboratórios», para as destruições massivas das Guerras Mundiais que se seguiram. 
É sempre o mesmo fenómeno, se nos quisermos abstrair das circunstâncias particulares do presente que é o nosso. 
Temos a destruição massiva de capital acumulado e de vidas, porque o sistema capitalista atingiu o seu limite em termos de exploração, tanto em extensão geográfica, como em rentabilidade. Isto não isenta de responsabilidade criminal os que promovem as guerras, os massacres, as destruições de vidas. 
Paul VALÉRY escrevia em «La Crise de l’esprit»(1919): « Nós, civilizações, sabemos agora que somos mortais». A civilização é um ténue verniz, que estala logo, com a selvajaria do capitalismo globalizado. Nada o pode domar; ele devora os próprios fiéis, os discípulos mais dedicados, na sua louca corrida à destruição. 

Quando o capitalismo era jovem, a destruição não conseguia ser universal. A humanidade e as sociedades reconstituiram-se graças à sua energia intrínseca, à sua vontade de viver. Mas, agora, as guerras são incessantes; a sua acumulação faz com que o «clímax», ou seja, a destruição global, apareça como mais e mais provável.

Nenhum dos que presenciaram, em 1939, a invasão alemã da Polónia, podia imaginar que a futura IIª Guerra Mundial acabaria com uma completa destruição de cidades e com crimes em massa contra populações civis indefesas. 

Todo o mal foi atribuído aos nazis na Alemanha e aos regimes fascistas, seus aliados. Porém, o mal não foi tão unilateral como a propaganda dos vencedores (a «História») nos quer fazer crer. Os crimes dos vencedores são perdoados, esquecidos, relativizados, mas eles permanecem. São sementes de ódio; tal como os outros sofrimentos, infligidos às populações vítimas do nazismo e do fascismo. 

Recordemos que a «banal» violação duma fronteira (da Polónia em 1939), acabou por dar, no final, uma hecatombe nuclear (e um crime contra a humanidade) com muitas centenas de milhares de vítimas civis, em Hiroxima e Nagasaki. Hoje, o arsenal nuclear das diversas potências é um múltiplo, incrivelmente elevado, das bombas nucleares detonadas nas duas cidades japonesas. Não se pode, hoje, ignorar a ameaça duma guerra global, provocando a destruição total da civilização humana. A ONU é impotente, os governos com vontade de obrar pela paz são ignorados pelos governos apostados na guerra. 


As imagens terríficas do quadro de Brueghel o Velho, «O Triunfo da Morte», estão  muito  apropriadas. Quem se debruce sobre as várias partes do quadro e suas diversas cenas, concluirá que Brueghel não quis mostrar «um ato de Deus», mas sim a loucura dos humanos. 

Esta obra genial permanece atual, pois vem nos recordar que a morte triunfa, enquanto produto da guerra; que a guerra é o produto dos exércitos e dos poderes; que esta guerra nada tem de transcendente, de vontade divina; mas, que resulta da vontade de poder, de mais e mais poder, dos poderosos.




sábado, 28 de outubro de 2023

«LEIS DO MERCADO»? EU DIGO-VOS O QUE SÃO.

 A hipocrisia dos intitulados políticos e economistas ocidentais, faz com que as pessoas vivam na doce ilusão de que as coisas estão a melhorar, globalmente. Há alguns «recuos», mas a exploração dos trabalhadores não é aquilo que era noutros tempos. A sério?!?


Em boa lógica, as pessoas - quase todas - vivem em estado de denegação. Pois a intensificação da exploração do trabalho e a depredação dos recursos ambientais, abrangem cada vez mais zonas do globo, são cada vez mais impiedosas para os povos indígenas e para o próprio sustento do ecossistema Terra. Esta é a verdadeira face da globalização.

Por exemplo, a quantidade enorme de gadgets que as pessoas adquirem, nas partes do mundo mais afluentes, têm  um tempo «de vida útil» muito curto. Cada vez mais curto (pensem nos computadores, nos smartphones, etc.) . Nestes gadgets de «high-tech» estão inseridos componentes minerais que são extraídos de inúmeros locais, mas quase todos eles situados no Terceiro Mundo. As chamadas «terras raras» são um bom exemplo. Na realidade, não são assim tão raras, pois o elemento mais raro deste grupo é mais abundante na crosta terrestre, que o ouro. Só que o ouro é explorado quando se encontra em veios, mas tal não acontece com as «terras raras». Para se concentrar o suficiente de um dado elemento pertencente a este grupo, é preciso extrair toneladas e toneladas de terra e de rocha, formando imensas escombreiras. O solo fica estéril durante muitos anos. O processo de concentração e refinação destes «metais raros» também é muito poluidor, criando-se enormes lagos envenenados contendo os subprodutos tóxicos destes processos. 


A China é o principal produtor de «Terras Raras»; porém não é por possuir concentrações favoráveis desses elementos, visto que eles estão mais ou menos dispersos - em concentrações semelhantes - por toda a crosta terrestre. Aquilo que é diferente, é que na China as «regulamentações ambientais» estão quase ausentes. Igualmente, as condições salariais e de higiene são deploráveis, mas as autoridades chinesas têm tudo sob controlo. As pessoas sensíveis aos direitos humanos e à ecologia (a maior parte, vivendo no conforto híper tecnológico) não se inquietam muito também com as zonas do interior da China e seus habitantes. 

O mesmo, ou pior, se passa com a exploração na República Democrática do Congo dos minérios estratégicos para a indústria eletrónica e componentes obrigatórias em qualquer bugiganga digital que utilizamos. A depredação da floresta tropical-equatorial e a transformação de crianças em escravos das minas, não é dos séculos passados, é de agora!

Sem esquecer  a louca corrida para explorar todo e qualquer depósito de Lítio (incluindo na Serra da Estrela, um Parque Natural de primeira importância no centro-norte de Portugal), para alimentar a indústria automóvel EV, para consumo (e paz de espírito) dos cidadãos dos países ocidentais: Estes são ricos, ecologistas, preocupados com questões sociais, mas só dentro do perímetro das suas sociedades e das paisagens abrangidas pela sua visão estreita!  

Então, a questão do mercado resume-se aos termos seguintes:

- Os mercados hoje são internacionais, globalizados, numa escala sem precedentes.

- O que é consumido pelos países afluentes (Norte América, Europa Ocidental, Austrália) em termos agrícolas mas, sobretudo, industriais vem - na sua grande maioria- de países do Terceiro Mundo

- As razões principais disto são: a enorme discrepância salarial, da ordem de dez vezes menos nos países pobres em relação aos ricos. A total ausência ou o não cumprimento de normas de proteção do ambiente e depredação constante dos recursos.

- Além disso, as multinacionais que exploram os recursos minerais nesses países, têm capacidade para corromper e/ou vergar a vontade dos governos locais. Estes, preferem fechar os olhos, a terem uma perda de rendimentos sob forma de «royalties» e também perderem muitos postos de trabalho, caso as multinacionais saiam. 

- Portanto, os mercados de matérias-primas e do trabalho não são de todo «livres», pelo menos no sentido comum do termo. Seria um mercado livre, se um comprador e um vendedor (quer em termos individuais, quer coletivos) têm ambos uma certa capacidade de negociação e o preço (quer de mercadorias, quer da mão-de-obra) é o resultante dessa negociação. 

- Os recursos da minoria da população mundial que beneficia desta situação, são fruto da superexploração do trabalho no Terceiro Mundo;  da completa rapina e destruição de recursos naturais dessas partes do Globo.

Uma análise económica honesta dos custos globais, deveria ter em conta os factos evidentes que eu mencionei acima. Mas, a narrativa dos economistas contemporâneos é quase toda uma enorme falácia, para adormecer as consciências. Digo isto, porque sei que eles sabem: os economistas ocidentais sabem perfeitamente os factos acima apontados.

Não há leis do mercado, no sentido de «Leis da Física», ou de outra ciência exata, ou natural. A «lei» do mercado é somente a imposição violenta da exploração.



quinta-feira, 13 de julho de 2023

MIKE WHITNEY, NUM ARTIGO MEMORÁVEL, COMPARA AS ECONOMIAS DOS EUA E DA CHINA

Na minha opinião, embora M. Whitney apresente como imagens que «dizem tudo», uma comparação entre dois mapas de caminhos de ferro de alta velocidade na China em 2008 e em 2023, este outro diagrama (abaixo) que ele inclui no artigo, da responsabilidade do FMI, ainda é mais impressionante. Será mesmo a prova da tese que Mike Whitney defende ao longo do artigo... 




 https://www.unz.com/mwhitney/the-one-chart-that-explains-everything-2/ 


Deste excelente artigo, depreende-se que:
- A China vai tornar-se a maior economia (capitalista) no século XXI.

quarta-feira, 12 de julho de 2023

A DEGENERAÇÃO DOS VALORES LIBERAIS

 A subversão do status quo é feita do interior dos think tanks e das corporações, que governam o mundo capitalista ocidental. Este fenómeno faz curto-circuito a todos os valores, às construções teóricas e às crenças ou ideologias, que as pessoas das gerações mais antigas transportavam. 

                                 Imagem: George Washington na travessia do rio Delaware

Esta subversão não é uma evolução decorrente das transformações inevitáveis das sociedades humanas, sejam elas bruscas (golpes, revoluções) ou suaves (mudanças de maiorias eleitorais, etc.).  Trata-se antes duma engenharia social, fabricada para substituir o «consenso» social-democrático, o qual serviu como forma da aplacar os ventos de revolta, sobretudo na  segunda metade do século XX, com uma aspiração confusa mas inegável para o socialismo por parte das classes que não beneficiam da sociedade capitalista, mas também da juventude universitária, oriunda de meios não proletários na sua maioria, que  se opunha aos princípios da sociedade «burguesa», ao  regime capitalista e às guerras imperialistas e neocoloniais. Mas substituir esse «consenso social-democrata» por quê? 

Penso que os ideólogos e psicólogos ao serviço das corporações (alguns ocupando lugares em instituições académicas) conhecem profundamente a matéria-prima. Eles têm como função moldá-la (influenciar). Seu conhecimento profundo, em vez de ser posto ao serviço da libertação dos humanos em relação às cadeias físicas e psicológicas que os amarram, tem sido usado perversamente para conduzir as pessoas para onde eles (manipuladores) querem. Esta mão-de-obra especializada e geralmente bem paga, está no centro do complexo  que inclui as indústrias do entretenimento, da informação «de massas» e das universidades (hoje, centros de fabricação de conformismo).

É sabido que o mundo capitalista sofreu uma grande mutação na sequência do fim da «Guerra Fria nº1», os anos do globalismo «feliz», ou triunfante. Os anos 90 do século passado e a primeira década do século XXI, foram  ocasião de intensificação do capital financeiro, em detrimento dos Estados e do capitalismo industrial. Este último, foi subordinado ao capitalismo financeiro e, além disso, as infraestruturas (fábricas) foram desmontadas dos países capitalistas do centro, para serem implantadas nos países mais pobres da periferia da Ásia, América Latina e África. Este salto permitiu que as taxas de rendimento do capital fossem maximizadas, mas à custa da destruição do tecido industrial nos países tradicionais do capitalismo e da precarização e pauperização das classes trabalhadoras respetivas. Estas classes trabalhadoras tinham sido mantidas num estado de relativa satisfação, durante as chamadas «trinta gloriosas» - ou seja - nos trinta anos que sucederam ao fim da IIª Guerra Mundial. Neste período histórico, a progressão da URSS e dos países socialistas, incluindo países considerados do IIIº Mundo, como a Jugoslávia, Cuba e China Popular, exerceram uma grande atração nas classes laboriosas do mundo capitalista, que a propaganda anticomunista não conseguiu  neutralizar. Pelo contrário, quanto mais difamassem o «socialismo real», mais ele ganhava prestígio junto de muitos, incluindo a jovem geração, nascida no pós- IIª Guerra Mundial. Esta, habituou-se a ter como dado adquirido, o usufruto de condições de relativo bem-estar, decorrentes da elevada rentabilidade do capitalismo e da sua compreensão de que era do seu interesse dar condições de vida decentes à classe trabalhadora e, sobretudo, aos seus filhos. Chegou-se ao ponto que as pessoas tomavam como adquirido, que a geração dos filhos iria ter um bem-estar superior à dos pais; que iriam ter acesso ao ensino universitário, coisa quase exclusiva dos filhos da média e alta burguesia, apenas há uma geração atrás.  O sonho de evolução gradual para o socialismo, sem revolução, com progressiva igualização das classes sociais, revelou-se como uma utopia, quando a classe empresarial decidiu contra-atacar através da ideologia «neoliberal». Para derrotar a ideologia social-democrata e os respetivos partidos de governo na Europa Ocidental, fizeram uma campanha bem planificada de desconstrução das instituições que funcionavam razoavelmente nestes países capitalistas, mas que seguiam uma lógica de servir o público e não de criar lucro. Houve instituições parcial ou totalmente privatizadas (infraestruturas: eletricidade, água, estradas, serviços de saúde);  outras, postas em concorrência com instituições privadas (ex.: escolas públicas descapitalizadas, em concorrência com escolas privadas, recebendo subsídios do Estado); outras ainda foram extintas, ou tornadas residuais (ex.: programas de construção e gestão de habitação social).  

Nas esquerdas, não houve clarividência e sentido estratégico. Cedo se deu o retraimento da esquerda «clássica» (associada a lutas nas empresas, através de um sindicalismo classista); contestada por uma esquerda dita «festiva», dita também de «causas», como as lutas LGBT, o feminismo, alheado das suas raízes operárias históricas, a ecologia política (que não se pode confundir com Ecologia enquanto domínio científico) e outras «causas fraturantes».  De facto, foram fraturantes, mas no sentido de porem setores contra setores, dentro da mesma classe, e assim tornarem impossível ou inócua qualquer tentativa de levar a cabo um combate integrado contra a exploração capitalista. Não só os trabalhadores não compreenderam logo, na sua grande maioria, como estavam a ser manipulados, também as direções dos partidos e dos sindicatos operários, só tomaram consciência demasiado tarde. Tragicamente, durante decénios, para satisfazer uns e outros, em resultado de uma política cem por cento virada para conquistar votos e lugares nos parlamentos, essas direções foram incapazes de qualquer contra-ataque credível. 

Recentemente, os grupos marginalizados, como as segunda e terceira geração de emigrantes em França e noutros países europeus principalmente, protagonizaram revoltas, em geral na sequência de um assassinato, por um polícia, de um deles. 

Estes emigrantes - vindos de África principalmente - foram mantidos em ghettos, sujeitos a maior exploração e a trabalhos considerados «inferiores» e mal pagos, perante a classe trabalhadora dos países recetores, largamente indiferente, quando não hostil à sua vinda e estadia, de supostamente «invasores», não percebendo que estes emigrantes eram importados para  fazer pressão sobre a classe trabalhadora nacional. O resultado foi o crescimento avassalador de partidos de extrema-direita, que capitalizaram o descontentamento das classes cujo modo de vida estava a ser negativamente impactado pela emigração. Este estado de coisas foi mantido e diretamente encorajado pelos partidos de centro-direita e centro-esquerda, como representantes do grande capital, pois  eles assim tinham a classe operária desunida, ao contrário do que aconteceu em Maio-Junho de 68, em que a palavra de ordem era de solidariedade total com os emigrantes e participação destes, «ombro-a-ombro» com o operariado francês, nas greves.

A retórica do liberalismo mantém-se, fica bem nos discursos, mas o espírito é exatamente o mesmo que o dos «negreiros», os que - em vários países «brancos» - organizavam a escravatura e comércio dos escravos africanos, até bem dentro da segunda metade do século XIX. 

A mentalidade imperialista nunca foi tão virulenta como agora, pois a deseducação das camadas populares fez com que caíssem na propaganda estatal, nos vários países da OTAN. A «liberdade de imprensa» de agora, é a censura generalizada em redes sociais e sites da Internet. Esta censura parece-se mais com a da inquisição, contra os recalcitrantes e os livre pensadores e com a censura de Estado, nos séculos XIX e XX, contra correntes realmente revolucionárias.

Podia dizer-se que «a ditadura do capital não precisa de realizar a defesa genuína de qualquer liberdade, exceto da liberdade de comércio». Porém, mesmo esta, é logo renegada, abandonada, pelo uso e abuso das sanções (totalmente ilegais) que pretendem vergar regimes que não se submetem aos imperialistas, sanções cruéis porque resultam exclusivamente em sofrimento do povo. 

O que resta de liberalismo na Europa ou América do Norte, nos países que se auto classificam como «democracias»? Quase nada, ou mesmo nada. 

Note-se que os dirigentes desses regimes ditos democráticos, não têm feito senão imitar «ditaduras do proletariado», sob pretexto de segurança, de combater o terrorismo, de combater «as forças do mal». A vigilância generalizada existe em grande escala em Londres, por exemplo, onde é impossível atravessar o centro, sem se ser filmado uma centena de vezes, por câmaras de vigilância discretamente distribuídas por todo o espaço público. Mas, isso é verdade também em múltiplos outros domínios. Edward Snowden e outros, revelaram como a NSA (uma agência dos EUA) intercepta sistematicamente todas as comunicações da Internet e de telefonia móbil, para as armazenar e as selecionar quando conveniente, através de pesquisa por algoritmos, até chegar aos olhos de agentes. Isto não é exclusivo dos EUA; eles têm uma rede de espionagem dos cidadãos do mundo inteiro, onde participam Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Nova-Zelândia, além dos EUA.

Claro que muitas pessoas se deixam enredar pela propaganda, pelo medo, pela angústia de ser designado «inimigo», etc. Hoje em dia, tanto dentro dos EUA como fora,  em muitos países vassalos, as pessoas são perseguidas por suas opiniões, sejam elas «conservadoras» ou «revolucionárias».  A ilusão de liberdade é resultante da técnica seletiva usada para suprimir toda a dissidência. Não são já precisos «gulag» ou campos de concentração; não são precisas prisões políticas e câmaras de tortura. O Estado consegue controlar as massas através do medo e da ignorância

Os poucos que denunciam este novo totalitarismo, ou são calados pelas pressões económicas, como a exclusão do emprego, ou por difamações a cargo de uma autêntica classe inquisitorial (fact-checkers). Estes fazem-se passar por «jornalistas», mas apenas são mercenários. 

 Embora a hora seja sombria, o facto de se desenvolver um aparato tão complexo, poderoso e caro, para ocultar a verdade aos cidadãos, mostra que estes ainda detêm considerável poder, embora potencialmente apenas. Se eles começarem a usá-lo sistematicamente, auto-organizando-se fora dos padrões instituídos, o derrube das ditaduras com máscara de democracia não andará longe. 

domingo, 28 de maio de 2023

[CJ HOPKINS] A CAÇA AOS OPOSITORES DO GLOBALISMO CAPITALISTA ESTÁ ABERTA

Na minha opinião, CJ Hopkins é - no momento atual - o mais genial e acutilante autor de sátira política. Que os lagartos pintados o odeiem é visto - por mim - como um título de glória, uma confirmação de que Hopkins acertou, com a sua certeira crítica. 

Começo a ficar cansado da perfídia: Eles fazem-se de ignorantes, de imbecis etc., para melhor esmagar seus adversários mais consequentes, sem que os ingénuos percebam a manobra pérfida deles. 

Todos temos a perder, com a anulação da liberdade de expressão. As leis ultimamente passadas, supostamente para «defender-nos dos inimigos da liberdade», são usadas pelos neo-(qualquer coisa) para se livrarem de qualquer opinião individual ou coletiva que apresente um perigo para eles. 

Para eles, nada pior do que as massas saberem a verdade, do que tomarem consciência de como têm sido manipuladas. Tudo indica que entrámos na era de transição para um totalitarismo «de novo tipo», pior ainda que os totalitarismos do século XX.

Leia «The Anti-Anti-Semitism Follies*» e ajuíze por si próprio/a. 

Presentemente, muitas pessoas são iludidas do modo mais completo. Uma parte do que se chamava «esquerda» está completamente confusa e  desorientada. Eu já sei o que aí vem, pois estudei a história do século XX e não só. 


                                 Uma cena célebre de John Cleese, fazendo o «passo de ganso»

segunda-feira, 22 de maio de 2023

FAZ COMO DIZ FREI TOMÁS ...

... NÃO FAÇAS COMO ELE FAZ!

Este provérbio diz-nos que uma doutrina pode ser correta e boa, mesmo quando proclamada por uma pessoa que, de forma encoberta, faz o oposto do que defende em palavras. É um preceito importante para se ter BOM SENSO. Eu aprecio o sentido crítico de muitas pessoas, mesmo das que não têm meus ideais.


Um dos autores que gosto de ler e que dá muita informação, é Matthiew Piepenburg, da empresa suíça Matterhorn. Numa escrita brilhante á qual tem habituado os seus leitores, traça o retrato realista da perda de estatuto do dólar como moeda de reserva e das suas implicações. O artigo «Dollar Woes to Debt Denial: The USA Is Screwed - Matterhorn - GoldSwitzerland», é uma leitura frutuosa; verá que tem "muito sumo".

Outro exemplo é o de Vladimir Ilitch Ulianov que esteve exilado na Suíça durante boa parte da Primeira Guerra Mundial: Ele lia o Neues Zürcher Zeitung (Zürich, já nessa altura, era uma importante praça financeira), o jornal melhor documentado sobre finança e economia na Suíça e no mundo. Tinha uma linha editorial em sintonia com a opinião dos seus leitores. Ninguém poderia esperar algo diferente do jornal que era leitura quotidiana da classe capitalista, conservadora, burguesa. Mas, então, este exilado não era o chefe dos bolcheviques, que pouco tempo depois iria tomar o poder na Rússia ?

- Era sim; o mesmo que se tornaria famosíssimo sob o pseudónimo de Lenine *. Ele queria saber os factos, não a propaganda, fosse de que lado fosse; por isso, ia às fontes mais credíveis, nessa época. Num regime capitalista, onde é que pode haver informação credível? Obviamente, os homens de negócios precisam de estar informados sobre o que se passa REALMENTE; não lhes interessa perder tempo com propaganda destinada às massas. Liam os jornais que melhor os informavam sobre os negócios, a economia, a guerra, a diplomacia, a tecnologia, etc.


quinta-feira, 20 de abril de 2023

DMITRY ORLOV - Lúcido diagnóstico de doença terminal dos EUA

 Abaixo, link de artigo de Dmitry Orlov (em francês):

Artigo original, em inglês:

https://cluborlov.wordpress.com/2023/04/10/the-futility-of-american-protest/


COMENTÁRIO

A minha impressão depois de ler o artigo acima, é que as sociedades da Europa Ocidental estão de tal maneira colonizadas mentalmente (e de todas as maneiras) pelos EUA, que têm vindo a adotar - inconscientemente - a visão americana do mundo e da sociedade, que lhes era totalmente estranha. A mentalidade que se desenvolveu e prevalece nos EUA, é tipicamente derivada do protestantismo de raiz calvinista, na sua vertente mais fundamentalista (puritana). Essa mentalidade acaba por se entranhar nos diversos estratos da população, pois esta tem sido incessantemente matraqueada durante séculos, por igrejas, sistemas de educação, instituições públicas, empresas, publicidade e cultura de massas.

Para mim, uma grande diferença de mentalidades entre um americano típico e um europeu típico, é que o primeiro está convencido de que «God is on our side», leia-se: do lado da América e do povo americano. Ora, esta é uma crença religiosa:  Está na essência do calvinismo e também do sionismo, ao fazer distinção entre «eleitos»  (Deus está ao seu lado), e os outros (estão perdidos, são pecadores, são perdedores...). É um sistema religioso (a teologia calvinista), que está na base dessa ideologia do «povo indispensável». É aí que radica a lógica das igrejas protestantes fundamentalistas, serem as mais intransigentes apoiantes de Israel, como se o estado sionista, racista e colonial, instalado na Palestina, fosse a «vanguarda» do Reino de Deus na Terra.

No que toca à relação das pessoas com o dinheiro, aos aspetos psicológicos desta relação, como muito bem sublinhou Orlov: Nos EUA, o dinheiro é o critério de tudo. 

Em países de raiz católica, como são os países latinos do sul da Europa, a relação ao dinheiro e à riqueza é (ou era) diferente da relação que têm  os cidadãos dos EUA:

- Tradicionalmente, na Europa do Sul, o facto de alguém ser rico, é compatível com ser-se pessoa de bem, se tiver adquirido a riqueza por meios lícitos e morais. Mas não é automático; os cidadãos estão atentos aos casos de enriquecimento à custa de processos nada limpos. 

Por contraste, para a moral comum dos EUA, ter-se muito dinheiro significa que a pessoa foi «eleita por Deus», que despejou sobre ela riqueza, enquanto sinal divino de que ela estava salva.

 Na Europa, uma pessoa rica pode SER, OU NÃO SER, considerada virtuosa. Mas, nos EUA a riqueza só pode ser sinónimo de virtude.



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PS 1: Uma sociedade em decomposição é aquilo que se pode ver, mas não é noticiado nos media mainstream do lado de cá do Atlântico:

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/north_america/chicago-is-a-blue-warzone/

segunda-feira, 20 de março de 2023

FIM DO SISTEMA CAPITALISTA TAL COMO O CONHECÍAMOS?



 https://goldswitzerland.com/this-is-it-the-financial-system-is-terminally-broken/ (*)

(*) Egon Von Greyerz é o gestor da empresa Matterhorn Asset Management.

O que escrevo a seguir, não se trata de uma profecia, embora pareça. É antes uma CONJETURA, COMO NAS MATEMÁTICAS: «O teorema está demonstrado ou não está» ... A realidade é esta, ou não é. 

Von Greyerz não é um «revolucionário», mas antes alguém prudente, sensato, que inspira confiança aos investidores. Se lerem o artigo acima, depressa compreenderão que aponta para algo gravíssimo, tanto mais que ele está nos antípodas do sensacionalismo e do catastrofismo, que são atitudes infelizmente corriqueiras nos dias presentes.

A construção dum sistema monstruoso, ou seja, o edifício financeiro assente sobre crédito, e crédito sem ter nada de sólido como garantia, tinha - num dia ou noutro - de estoirar. Isso já se tornara inevitável, aquando do «default» de Nixon em relação ao Acordo de Bretton Woods em 1971. Mas, como todas as coisas complexas, a realidade pode ser iludida durante algum tempo, mas acaba por vir à superfície.

Agora, as pessoas que não se importaram com os sérios avisos da minoria de pessoas com nomeada e respeitadas (caso de Von Greyerz, e de alguns outros) e que continuaram a jogar no casino corrupto e viciado das bolsas mundiais, vão ter que sofrer perdas enormes ou mesmo, entrar em falência. 

     Gráfico retirado do artigo:

Note-se que a falência do Crédit Suisse, é qualitativamente diferente das precedentes das últimas semanas nos EUA. Agora trata-se dum banco sistémico, ao contrário dos bancos de depósito que faliram nas semanas passadas. Estes, eram de pequena ou média dimensão, no mercado dos EUA. 

O acordo que levou à absorção do Crédit Suisse pela UBS, outro banco sistémico suíço, teve a garantia de empréstimo do Banco central suíço (BNS) até ao montante de 100 mil milhões de dólares. Repare-se que a UBS fechou o negócio de compra do Crédit Suisse, com uns «míseros» 3 mil milhões de dólares. Esta quantia, mesmo assim, seria demais para uma instituição falida, mas é provavelmente destinada a satisfazer aqueles clientes que ainda tinham ações do Crédit Suisse. Quanto ao resto, será impossível fazermos a avaliação dos riscos que a UBS vai ter de assumir (ao longo de anos) para dar conta dos muitos milhões empenhados em contratos de derivados  do Crédit Suisse e que a UBS tem de honrar.

Sabe-se que a banca na Europa está toda ela muito alavancada, sendo a paisagem realmente mais sombria do que a media financeira costuma pintar. Os grandes bancos nos EUA têm ainda alguma margem de manobra. Porém, isso não é um dado adquirido, pois existem demasiadas fragilidades no sistema: 

A extrema concentração do imobiliário para aluguer, nas mãos de duas mega empresas Blackrock e Vanguard (esta última, tem uma participação na Blackrock), faz com que a severa crise do imobiliário, sobretudo nos setores dos escritórios e comércio, tenha um impacto multiplicado. Mas, existem outros setores em crise, como o crédito automóvel, importante nos EUA, ou ainda as ruturas nas cadeias de abastecimento, efeitos das sanções contra a Rússia, a China e o Irão, conjugados com a realidade económica dum país desindustrializado, pelos seus próprios magnates. Quanto às indústrias tecnológicas, de que os EUA tanto se orgulhavam, estão em apuros, não só pela retração das vendas, como também pelos jogos financeiros. Estes incluíam, entre outros, a compra das próprias ações, para fazer brilhar estas empresas nas bolsas e assim atrair investidores.

Perante um Ocidente desindustrializado, sem aquele vigor do capitalismo industrial de outras eras, tem-se erguido e fortalecido um conjunto de países onde a indústria está no centro do investimento e tem demonstrado sua eficiência, inclusive nos domínios de ponta. O público ocidental tem uma ideia estereotipada, resultante da propaganda anti-chinesa e anti-russa, segundo a qual estes países não estariam à altura de competir, nestes domínios, com o «Ocidente». De facto, passa-se exatamente o inverso. Podemos ver isso, através do armamento mais sofisticado fabricado na Rússia e do programa aeroespacial Chinês, por exemplo. Esta propaganda ocidental - além de belicista, racista e reacionária - engana apenas quem quer ser enganado.

Se o mundo conseguir evitar um confronto global, com os seus riscos de guerra nuclear,  vai-se assistir  a uma nova era de capitalismo industrial, na China e nos países integrando a OCX (Organização de Cooperação de Xangai) e os BRICS, sobretudo. 

Não creio que ocorra uma mudança de paradigma no sentido dum socialismo, dum sistema socialista dominante. Mas creio que a situação das populações irá melhorar, sobretudo dos muitos milhões de excluídos nos países mais pobres. 

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PS1: Uma fuga dos documentos internos da UBS permite perceber a estratégia de «piratas» financeiros dos seus dirigentes, com a conivência das autoridades «fiscalizadoras» suíças: 

EXCLUSIVA: El documento interno de UBS



PS2: Com o aumento de 25 pontos-base nos juros, hoje (22/03/2023) anunciado pela FED, as contas públicas ficam ainda mais deficitárias. Os juros vão pesar mais 29%, em comparação com o ano fiscal anterior, com a agravante de haver diminuição na receita dos impostos.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

O MITO DA GLOBALIZAÇÃO, HEGEMONIA U.S. E CRISE DO CAPITALISMO

https://www.youtube.com/watch?v=GRKHCwVzvTs&feature=youtu.be

 NOVO LIVRO DE Radhika Desai «Capitalism, Coronavirus and War» está disponível para ser baixado grátis no endereço seguinte:

https://www.taylorfrancis.com/books/oa-mono/10.4324/9781003200000/capitalism-coronavirus-war-radhika-desai

Ben Norton (Geopolitical Economy Report) entrevista a autora, profª universitária e muito interessante.

A partir da posição assumida de marxista, não deixa de verberar os «marxismos» que tomam a globalização capitalista por aquilo que ela não é. Muito interessante sobretudo de centrar as questões na crise geral do capitalismo e fazer a crítica de uma visão da «globalização» como se fosse uma coisa autoevidente, quando na realidade, é apenas uma construção do neoliberalismo. Mas não acreditem em mim: Explorem esta rica entrevista que tem imenso conteúdo, demasiado para eu o sumarizar de forma satisfatória.  

 


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O «SEGREDO» DA ECONOMIA CAPITALISTA OCIDENTAL


Preço em euros do ouro (quilogramas) durante os últimos 20 anos

Não é por «culpa» de Putin, ou da guerra na Ucrânia, ou da pandemia de COVID. 
Os mercados assinalam, desde há vinte anos, a perda acelerada e constante de valor aquisitivo das diversas divisas. No caso do ouro, metal monetário (significa que é considerado «dinheiro»), a sua subida não é real, pois apenas reflete a descida exponencial das divisas-fiat, sejam elas consideradas «fortes» ou não, em relação ao dólar. O dólar é apenas uma das divisas que está a ser mais intensamente impressa, pelo banco central respetivo (Federal Reserve), sendo também o euro (pelo Banco Central Europeu) e outras divisas ocidentais. A média corporativa é dominada por interesses (capitais) relacionados com a economia financeirizada. Por isso, será muito improvável que possas encontrar este gráfico acima, e estes comentários, em tais órgãos de «informação».
 Assim, a elite do dinheiro vai continuando a fazer os seus jogos. Quem perde são os que veem seu salário, sua pensão de reforma, suas poupanças, «encolherem». A inflação, é simplesmente a excessiva impressão de unidades monetárias, em relação aos bens disponíveis nos mercados. Na linguagem comum diz-se que tal ou tal item, ou o «custo de vida» em geral, está mais caro
Na realidade, o que acontece é que a inflação é criada pelos banqueiros, quer os dos bancos comerciais, quer dos bancos centrais. São eles que criam as unidades de valor em brutal excesso em relação ao total de mercadorias disponíveis para venda, nos mercados. A consequência inevitável é o «aumento» do preço dessas mercadorias, medidas em termos de unidades de valor que estão permanentemente encolhendo. 
Como os ricos e seus conselheiros sabem isso, vão jogando de forma a aumentarem o valor REAL das suas posses, obtendo bens que não estejam sujeitos à erosão da inflação (como imobiliário, terrenos agrícolas, matérias-primas, objetos de arte ou de coleção, ouro e prata ), contra ativos cujo poder de compra vai sendo erodido pela inflação (todos os bens financeiros, tais como: o próprio dinheiro, ativos bolsistas, fundos, obrigações estatais ou privadas, derivados, etc.).
Portanto, as pessoas só têm uma maneira de não serem trituradas, das suas posses não serem anuladas, neste período de involução e destruição acelerada do capital, sob todas as formas: É investirem em bens não financeiros. Estes, aconteça o que acontecer, guardarão a sua utilidade, haverá sempre quem queira comprá-los, terão tendência no longo prazo, a conservar o valor real, ou seja, não medido em divisas fiducitárias. É sabido que TODAS as divisas acabam por ter o seu valor descendo até zero
          Valores das divisas-fiat (escala logarítmica) em função do ouro, retirado de AQUI

São inúmeros os exemplos que nos dá a História, talvez os mais célebres sejam a depreciação do denário, no final do império romano, dos «assignats», na revolução francesa, ou dos «reichmark», na república  de Weimar. Mas o ouro, por contraste, no longo prazo, mantém o mesmo poder aquisitivo
Um dos mais importantes índices, é o preço do petróleo. Pois bem, em termos de gramas ou onças de ouro, o preço do barril de petróleo pouco variou desde 1950 até hoje, como se pode ver pelo gráfico abaixo:


Mas, se vires o mesmo gráfico, em termos de preço em dólares / barril de petróleo, no mesmo intervalo de tempo, verás oscilações brutais e um crescimento geral do preço em dólares.
 
Na figura seguinte, vê-se o preço do petróleo em EUROS (cinza) e onças de OURO:



Como se pode verificar, o preço do petróleo em ouro, permanece quase constante neste intervalo de tempo. 
O petróleo e todos os outros combustíveis, têm uma importância tal, que seu custo vai influenciar todos os outros preços, desde matérias-primas, a transportes, a alimentos, etc. 
Os políticos começaram a modificar os critérios para medição da inflação, no início dos anos 80, para poderem disfarçar a real perda de valor das divisas e continuarem a fazer o mesmo jogo, de gastar muito mais do que a receita dos diversos impostos permitia. Assim, puderam levar a cabo políticas deficitárias, com orçamentos aldrabados, tal como os montantes dos PIB.
Vê a comparação entre os índices oficiais, e índices de inflação calculados pelo método usado ANTES  das ditas alterações metodológicas, nos anos oitenta (a azul, com a metodologia anterior às modificações; a vermelho, as inflação segundo os critérios oficiais):




Não é nada misterioso, o modo como os ricos conseguem ser mais ricos, com a ajuda da classe política, associada com a classe capitalista, em geral. Se a classe capitalista não consegue corromper um certo político, acaba por destruí-lo, de uma maneira ou de outra. 
É assim que as pessoas humildes, com seu esforçado trabalho alimentam o enriquecimento ilegítimo dos que já são muito ricos. Os jornalistas e outros «fazedores de opinião», também estão comprados, pelo que não se pode esperar que eles nos forneçam as informações que eu delineei acima. 
Se quiseres saber mais e melhor sobre a realidade, aconselho-te a fazer a tua própria pesquisa!