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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MARIN MARAIS - TOMBEAU DE MONSIEUR DE STE. COLOMBE


Escrito após a morte de seu mestre, Monsieur de Ste Colombe, o jovem Marin Marais (Paris 1656- Paris 1728) mostra a sua capacidade de extrair um máximo de expressividade da viola de gamba.

Este estilo peculiar de peças lentas e plangentes, a meu ver, anuncia uma era mais centrada no indivíduo, mais interiorizada, pois tem ressonâncias profundas na psique. A música deixa de ser apenas representação, para ser uma forma idealizada de descrever estados de alma.

A qualidade subtil desta música apenas pode ser perceptível a pessoas que conservaram intactas as «cordas» da sensibilidade, o que - infelizmente - não é o caso hoje de muitas pessoas, nesta época de hedonismo desenfreado.

Num certo sentido, aqui transparece o lado intensamente humano deste compositor, pois a sinceridade da sua lamentação pela morte de seu mestre, não pode ser posta em causa por quem ouve atentamente e mesmo que não saiba quais os códigos musicais em vigor naquela época.

O modo menor, o andamento adagio ou lento, os cromatismos, a intensidade expressiva, são «artifícios» no sentido etimológico, ou seja técnicas da arte de compor... porém, resultam muito sinceros.
A arte tem de ser veiculada dentro de uma tradição e dentro de um conjunto de códigos, para que seja entendida pelo auditor. O auditor (da época, entenda-se), estava plenamente consciente do que constitui uma peça solene, grave, cheia de elevação.
Mas as nossas sensibilidades contemporâneas podem ainda assim usufruir destes momentos de êxtase e reflexão pura, devido ao facto da arte dos sons ser capaz de penetrar nos âmbitos mais profundos do ser.

Um hipotético auditor, que nunca tenha tido contacto com música barroca e mesmo que seja ignorante da arte dos sons, captará o essencial da mensagem da peça. Tal significa que a arte dos sons recorre a «constantes antropológicas», especialmente quando atinge um cume, em termos estéticos.