From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.
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sábado, 4 de novembro de 2023

MANIPULAÇÃO DO HOLOCAUSTO

Tive, há cerca de 20 anos, o privilégio de ler «A Indústria do Holocausto*», por Norman Finkelstein, professor universitário americano, de origem judaica. Ele descreve a utilização das vítimas falecidas ou sobreviventes do Holocausto, por advogados sem escrúpulos, que obtinham somas astronómicas, enquanto as vítimas e os seus descendentes ficavam com pouco ou nada. Por ter escrito este livro e nunca ter renegado suas convicções de esquerda, foi considerado «traidor» à causa judaica e banido dos meios pró  sionistas para todo o sempre. Fizeram-lhe uma suja campanha de difamação e perseguição, que lhe custou muito (perdeu o seu posto universitário, entre outras coisas), mas não o desanimou de alertar os seus concidadãos para a opressão do Estado de Israel sobre a população da Palestina.

Quanto ao lóbi judeu dos EUA, é dos mais poderosos, juntamente com o do armamento: As associações AIPAC e ADL são as principais organizações que supostamente representam os judeus americanos mas, realmente, são sobretudo meios de pressão direta do Estado de Israel sobre a política interna dos EUA. 

Os sionistas no poder em Israel são pessoas extremistas, que se guiam por passagens da Bíblia, interpretadas como lhes convém. Eles julgam que aí encontram justificação para seus crimes contra o povo da Palestina. 

Se eu fosse profeta, diria que a era da Paz mundial virá quando houver justiça para o povo da Palestina, quando houver pleno reconhecimento do Holocausto (Nakba) Palestiniano e quando existir um Estado da Palestina ao lado do de Israel, com seguras fronteiras para ambos e garantia internacional sólida de segurança de um e outro povo. Entretanto, só haverá guerra, destruição: A própria ideia de direitos humanos está a ser «assassinada», juntamente com a de direito humanitário internacional.

Eu não sou judeu; porém, tenho amigos judeus e sempre tive muito respeito pelo povo judeu. Parece-me uma traição ao povo judeu e à memória do Holocausto, a utilização política absurda que a delegação de Israel na ONU fez, ao apresentar-se com a «estrela de David». Era um dístico que os judeus eram obrigados a usar, na Alemanha hitleriana e nos países ocupados pelas hostes nazis. Realmente, eles estão a mostrar que não aprenderam nada com a História dolorosa do seu povo. Nomeadamente, estão a querer ocultar, com propaganda, crimes de guerra e contra a humanidade que o seu governo e o exército israelita estão a perpetrar. Querem ser vistos como «vítimas», quando o Mundo inteiro vê que eles são os verdugos!


Os (talvez?) descendentes de vítimas do Holocausto judaico às mãos dos nazis, estão agora a causar - eles próprios - um Holocausto aos seus vizinhos, ao povo palestiniano, que merece igual dignidade que os judeus, enquanto seres humanos e enquanto povo. 

A raiz do mal, está no conceito supremacista de nação judaica e de «raça» judaica, que foi adotado pelos políticos sionistas. Na origem, o sionismo era um movimento claramente profano, antirreligioso mesmo. Muitos judeus religiosos têm inúmeras vezes denunciado o genocídio dos Palestinianos desde há 75 anos. São contrários à própria ideia dum Estado de Israel, baseando-se na sua interpretação da Bíblia judaica. 

Também no cristianismo, a «Jerusalém Celeste» foi sempre considerada simbólica. Designa a capital do Reino de Deus, depois da vinda de Jesus Cristo. É um conceito teológico, mais do que um lugar geográfico. Por mais sagrado que seja Jerusalém para as três religiões monoteístas (o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão), esta cidade não pode ser a «posse» de nenhuma delas.

 Na fúria dos fanáticos sionistas, uma das obsessões na sua guerra contra os árabes, é a destruição da mesquita de Al-Aqsa, um dos locais mais importantes do Islão. A invasão e dessecração da referida mesquita por um bando de fanáticos sionistas, foi um fator para o desencadear da presente guerra. Havia, no entorno da mesquita, forças militares israelitas que não fizeram nada para contrariar os invasores sionistas e defenderem os fiéis muçulmanos agredidos. Esta invasão foi claramente planeada. Eles queriam desencadear uma resposta irada das forças da resistência palestiniana. Isso seria o pretexto para a  limpeza étnica definitiva, a Naqba 2.0.

   

                         

Os sionistas fanáticos e violentos, são objectivamente os piores inimigos de Israel. Ninguém, no Médio-Oriente, ou no vasto mundo muçulmano, está disposto a desculpar, ou atenuar a culpa do Estado de Israel, nem dos governos ocidentais coniventes. 

Os fanáticos pensam que tudo lhes é permitido ... incluindo, aniquilar um povo inteiro

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*A Indústria do Holocausto, por Norman Finkelstein

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

ENTRAMOS NA FASE DE DESTRUIÇÃO CÍCLICA [CRÓNICA(Nº21) DA IIIª GUERRA MUNDIAL]

 

Entrámos em pleno na fase de destruição do sistema capitalista mundial. Nada é linear, mas a acumulação de violência, sobretudo de violência de Estados, apesar e contra as suas próprias declarações de princípios, junto com o condicionamento das massas, com doses de medo e de ódio, cada vez maiores, mostram que a máquina está já em movimento. 
Num passado histórico recente, nos anos anteriores às duas Guerras Mundiais, ocorreram guerras ditas regionais, que foram ensaios ou «laboratórios», para as destruições massivas das Guerras Mundiais que se seguiram. 
É sempre o mesmo fenómeno, se nos quisermos abstrair das circunstâncias particulares do presente que é o nosso. 
Temos a destruição massiva de capital acumulado e de vidas, porque o sistema capitalista atingiu o seu limite em termos de exploração, tanto em extensão geográfica, como em rentabilidade. Isto não isenta de responsabilidade criminal os que promovem as guerras, os massacres, as destruições de vidas. 
Paul VALÉRY escrevia em «La Crise de l’esprit»(1919): « Nós, civilizações, sabemos agora que somos mortais». A civilização é um ténue verniz, que estala logo, com a selvajaria do capitalismo globalizado. Nada o pode domar; ele devora os próprios fiéis, os discípulos mais dedicados, na sua louca corrida à destruição. 

Quando o capitalismo era jovem, a destruição não conseguia ser universal. A humanidade e as sociedades reconstituiram-se graças à sua energia intrínseca, à sua vontade de viver. Mas, agora, as guerras são incessantes; a sua acumulação faz com que o «clímax», ou seja, a destruição global, apareça como mais e mais provável.

Nenhum dos que presenciaram, em 1939, a invasão alemã da Polónia, podia imaginar que a futura IIª Guerra Mundial acabaria com uma completa destruição de cidades e com crimes em massa contra populações civis indefesas. 

Todo o mal foi atribuído aos nazis na Alemanha e aos regimes fascistas, seus aliados. Porém, o mal não foi tão unilateral como a propaganda dos vencedores (a «História») nos quer fazer crer. Os crimes dos vencedores são perdoados, esquecidos, relativizados, mas eles permanecem. São sementes de ódio; tal como os outros sofrimentos, infligidos às populações vítimas do nazismo e do fascismo. 

Recordemos que a «banal» violação duma fronteira (da Polónia em 1939), acabou por dar, no final, uma hecatombe nuclear (e um crime contra a humanidade) com muitas centenas de milhares de vítimas civis, em Hiroxima e Nagasaki. Hoje, o arsenal nuclear das diversas potências é um múltiplo, incrivelmente elevado, das bombas nucleares detonadas nas duas cidades japonesas. Não se pode, hoje, ignorar a ameaça duma guerra global, provocando a destruição total da civilização humana. A ONU é impotente, os governos com vontade de obrar pela paz são ignorados pelos governos apostados na guerra. 


As imagens terríficas do quadro de Brueghel o Velho, «O Triunfo da Morte», estão  muito  apropriadas. Quem se debruce sobre as várias partes do quadro e suas diversas cenas, concluirá que Brueghel não quis mostrar «um ato de Deus», mas sim a loucura dos humanos. 

Esta obra genial permanece atual, pois vem nos recordar que a morte triunfa, enquanto produto da guerra; que a guerra é o produto dos exércitos e dos poderes; que esta guerra nada tem de transcendente, de vontade divina; mas, que resulta da vontade de poder, de mais e mais poder, dos poderosos.




quinta-feira, 3 de agosto de 2023

UMA TEORIA DA NEUTRALIDADE e UMA PRÁTICA VIRADA PARA A PAZ

 Pascal Lottaz tem estudado as políticas dos países neutrais. Estudos desta natureza são surpreendentemente escassos, em termos académicos, tendo os países guerreiros recebido muito mais atenção e detalhe. Porém, algumas características dos países neutrais assim como o modo como adquirem ou revocam a sua neutralidade, são particularmente interessantes: Veja o vídeo aqui com  o conteúdo de uma conferência que deu há pouco tempo: Neutralidade na Nova Guerra Fria


Ele entrevistou Alex Mercouris (ver vídeo abaixo), que tem feito a crónica diária da guerra na Ucrânia. O seu ponto de vista é abrangente. Tem um conhecimento profundo da história contemporânea, o que lhe permite dar esclarecimentos muito válidos sobre as raízes dos confrontos atuais. 


Veja também a primeira parte e terceira parte deste diálogo: 

«Todos os Governos Mentem e a Media Também»

«Esqueça a OTAN, faça a sua própria coisa»


quarta-feira, 28 de junho de 2023

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA, PARTE XVIII

             Se eu fosse um profissional de escrita e de política, se estivesse envolvido no jornalismo mediático, estaria a remoer o que poderia vender para o meu público, desde a minha última crónica. O meu ponto de observação, sendo de alguém muito pouco interessado na «agenda» de uns e de outros, é na verdade, o que realmente me interessa no tempo transcorrido entre a última crónica (a nº XVII) e a de hoje.

Primeiro, quero dizer-vos que não irei falar do golpe de Prighozin e de Wagner, por uma razão muito simples; estou farto de desinformação, de uns e de outros, não creio que nada de realmente novo possa ser dito sobre o ocorrido, pelo menos nos tempos mais próximos, até porque os arquivos (em geral, só abertos aos historiadores, passados 50 anos...) poderão fazer deitar por terra as versões de uns e de outros, e até mesmo dos que não estejam em nenhum campo. Dito isto, quero deixar claro que lamento o derrame de sangue ocorrido, a morte de aviadores russos; para eles e suas famílias é uma tragédia: Ainda por cima, sem-sentido. 

Olhar o Mundo, como gostaria que isso fosse possível, mas de longe, de muito longe; não no tempo, mas - pelo menos - no espaço!

Há quem diga que a História se repete, há quem atribua essa repetição à incapacidade de jovens gerações «se lembrarem» de eventos ocorridos antes delas serem adultas, ou mesmo de terem nascido. O estudo da História é levado a cabo com uma superficialidade enorme, mesmo entre muitos dos indivíduos que se dizem «cultivados». E, até os que se dignam debruçar sobre a História do Mundo, aprendendo o que ocorreu umas décadas antes de terem nascido, é quase certo que ingiram versões de História fabricadas para confortar esta ou aquela tese. Sabemos que não existe nenhum historiador, no presente ou passado, que não seja (... que não fosse) tendencioso. Todos têm a sua ideologia, todos interpretam os acontecimentos de acordo com os seus credos respetivos. Não posso atirar-lhes a pedra! Pois eu também vejo o presente e o passado de acordo com as minhas convicções e simpatias, ou seja, com subjetivismo.

No presente, eu seria um pouco como o herói de Stendhal, Fabrice (do romance «La Chartreuse de Parme»), no meio da confusão da batalha de Waterloo: 


Vê umas tropas a avançar, depois uma carga de cavalaria, soldados mortos e feridos por estilhaços de balas de canhões, um grande alarido... Mas, ele está tão perto do que se passa, que não consegue perceber nada. Nem quem está a perder, ou a ganhar; nem a lógica dos movimentos de uns e de outros. Nem as estranhas ordens gritadas no meio da confusão... Tudo lhe parece um enorme caos, que efetivamente terá sido. É sempre assim, para quem está metido no meio de uma batalha. 

O fresco magnífico de Victor  Hugo, sobre a mesma batalha, inserido na sua obra-prima («Les Misérables»), é muito diferente. Ele descreve em pormenor a carga da cavalaria pesada francesa, que se desenvolve colina acima, encontrando um inferno de metralha britânica pela frente.

 É, sem dúvida, um estilo épico, mas de certeza que não foi como tal, que o viveram ou sentiram os protagonistas do acontecimento (do lado napoleónico, ou britânico). 

Muito mais próxima da realidade é a descrição da batalha da Moskva, ou de Borodino, em 1812, entre «La Grande Armée», composta por tropas de toda a Europa ocidental e central e o exército russo, feita por Leão Tolstoi

no romance «Guerra e Paz», escrito cerca de meio-século depois da referida batalha. 

De qualquer maneira, o elemento épico dum combate, seja uma escaramuça ou uma batalha decisiva, está completamente ausente, na realidade: É a posteridade que elimina os casos que não satisfaçam os padrões, que não se coadunem com a «coragem» e o «heroísmo», do lado que se pretende glorificar.  Será surpreendente encontrar um escritor de uma dada nação, que faça a apologia do comportamento de militares da nação inimiga. Em geral, as cenas atrozes e reprováveis, são tidas como da responsabilidade do campo que mais se detesta. 

Os pacifistas verdadeiros, que não estão em nenhum dos campos, são considerados «traidores» ou «cobardes», por ambos os lados. Ficam sujeitos a levar um tiro na nuca, ou algo assim, pois estão «fora do quadro»; são uma «mancha» na pintura; quanto muito, serão «homenageados» depois de mortos mas, seu exemplo de retidão moral, de coerência e humanismo, não será cultivado pelas gerações vindouras.

Por estas razões, uma guerra, seja ela qual for, é sempre um recuo civilizacional. Não somente para as gerações que nela participam; também para a descendência de ambos os lados. Os vencedores, segregam um nacionalismo «otimista» e os vencidos um nacionalismo «pessimista».

Por isso, um ciclo de guerra recomeça, após cerca de uma centena de anos: Os horrores da guerra de 1914-18, já não são percetíveis às gerações que nasceram  por volta de 2000. 

Os Estados ergueram monumentos em memória dos soldados caídos nesta guerra chamada «A Grande Guerra», para os enterrar uma segunda vez, mais fundo ainda, no esquecimento. Os livros de história preocupam-se em fornecer causas económicas, aspetos ideológicos ou de geoestratégia, que permitam atribuir os motivos de tudo o que se passou. Mas, apenas alguns livros, romances quase esquecidos, detalham os horrores da tal «guerra para acabar com todas as guerras». 

E agora, temos os bisnetos dos combatentes da Iª Guerra mundial,  a deixarem arrastar-se pelo «fervor patriótico», ou pelo «terror do inimigo», para matar e morrer, como se isso fosse o maior e mais nobre dever. Como se as suas famílias devessem ficar eternamente gratas pelo seu sacrifício inútil! Todos os ditadores, seja qual for a sua tendência, gostam da guerra: ela permite forçar a «união sagrada» em torno dos regimes. Estes, supostamente, seriam a barreira para a «barbárie» (sempre a do outro).

Francamente, isto é realmente estúpido, primário e criminoso, ao ponto de despertar em mim um desejo de não ter nada que ver, de não querer saber de nada, de me retirar física e mentalmente para um refúgio onde possa ilusoriamente desfrutar de paz da alma. Mas, este desejo é contrariado pelo meu entendimento de que as pessoas mais sacrificadas são, quase sempre, as que menos responsabilidades têm no conflito. De que os poderosos - de um e do outro lado - estão a jogar as vidas dos seus soldados e civis, para engrandecer o seu nome e o seu regime... Não há os bons e os maus; há os poderosos e os humildes. Estes últimos, estão destinados a serem triturados sem piedade, para justificar sonhos megalómanos, seja de quem for. 

Não existe «causa justa» numa guerra: Ou melhor; a única causa que se deve considerar humanamente justa é a que defende o cessar-fogo imediato, a procura de uma resolução pacífica para o conflito. 

O que mantém uma guerra, embora reconhecida por todos como tragédia, é que as pessoas foram doutrinadas a considerá-la  «inevitável, por causa de X» (X= nome de Chefe-de-Estado e da Nação inimigos). É um truque muito velho, mas que funciona; e continua a funcionar, porque as pessoas preferem continuar dentro do rebanho, em vez de mostrarem independência, de terem a coragem de dizer «não!».

Não me compete dizer o que os outros têm de pensar ou fazer. Mas gostaria de ver pessoas de elevada estatura intelectual e moral, erguerem-se e denunciarem a barbárie. 

Voltando à Primeira Guerra Mundial, creio que a censura e o fanatismo xenófobo (em todos os países beligerantes), não conseguiram impedir que vozes de vários quadrantes políticos e ideológicos se pronunciassem, falassem contra a corrente: essas personalidades, terão sido mais tarde homenageadas em vida, ou depois de falecerem, por aqueles mesmos que os ignoraram ou insultaram, anos antes.  

Desculpem, mas o que saiu nesta prosa não é verdadeiramente o que deveria ser, ou seja, um relato do que se passou. Os meus leitores me desculpem. Eu realmente disse o que - a meu ver - não deveria ter acontecido, mas acontece e aquilo que eu gostaria de ver, mas que não vejo. Por este motivo, decidi chamá-la «UMA NÃO-CRÓNICA»


domingo, 25 de junho de 2023

«PAZ SOBRE A TERRA» (coro a capella) DE ARNOLD SCHÖNBERG

Friede Auf Erden Opus 13 · Laurence Equilbey ·

https://www.youtube.com/watch?v=-JNuDX_aH00&list=OLAK5uy_kZooPVjuZxew34bzTg3C-18ZPAncy8f9U

                                  Arnold Schönberg

https://www.antiwarsongs.org/canzone.php?lang=en&id=42044


PAZ SOBRE A TERRA*

[1886]‎

Letra de Conrad Ferdinand Meyer (1825-1898), escritor e poeta suíço.‎
Música de Arnold Schönberg "Friede auf Erden, op. 13", composto em 1907.

‎Quando os pastores abandonaram seus rebanhos
E trouxeram a mensagem do anjo
Atravessando a porta baixa
Para a mãe e a criança,‎
As gentes do céu continuavam
Cantando sem parar no firmamento
E o céu continuava vibrando:‎
‎« Paz, paz sobre a Terra ! »‎

Desde que os anjos lhe aconselharam,‎
Ó, quantas ações sangrentas
A disputa por esse cavalo selvagem
revestido duma couraça, se realizaram !‎
Em quantas noites de Natal
O coro dos espíritos aflitos cantou
Implorando premente, num gemido:‎
‎« Paz, paz sobre a Terra ! »‎


No entanto, existe uma fé eterna 
 Segundo a qual o fraco não será para sempre vítima
Do gesto mortífero atrevido
A cada vez:‎
Um pouco como a justiça
Vivendo e trabalhando na morte e no horror,‎
E um reino que se irá construir
Que procura a paz sobre a Terra.‎

Pouco a pouco vai tomando forma
A sua carga sagrada
Forjando armas sem perigo
As espadas de chamas para o Direito
E uma raça esplêndida
Irá florescer com filhos poderosos
Cujos sonoros clarins anunciarão :‎
‎« Paz, paz sobre a Terra ! »‎



[* traduzido para português por Manuel Banet]

quinta-feira, 28 de julho de 2022

QUEM TEME A PAZ?

Portugal é um país cristão ou, pelo menos, com fortes raízes e cultura cristãs. É muito fácil criticar o cristianismo. Há quem tenha dito (Nietzsche) que é a religião dos fracos, dos escravos, mas não no sentido emancipatório, antes no sentido de justificação da desigualdade, da opressão, etc. Outros pensam que muito daquilo que se fez em nome da Cruz, ao longo da História, é tão horrível que, na sua essência, o cristianismo deve ser portador de ódio e não de amor, não se pode aceitar que «a religião do amor» nada tenha que ver com desmandos e crueldades exercidas pelos que se designam como seus fiéis seguidores. 

Enfim, a paz de espírito, a renúncia a meios violentos de afirmar uma determinada verdade, não é exclusivo do cristianismo, mas antes é vulgar nas outras grandes religiões. Por exemplo, no budismo, é muito explícita a condenação da violência, porém houve samurais budistas, houve perseguições cruéis dos convertidos ao cristianismo por budistas, houve «monges-soldados». O islamismo proíbe que as pessoas sejam convertidas à força, à religião do Alcorão.  Porém, nas épocas de expansão do Islão, a conquista militar desembocava numa conversão forçada das populações. As populações conquistadas e não-convertidas, estavam sujeitas a um imposto específico, por continuarem a exercer sua religião tradicional e sujeitas também, com frequência, a serem transformadas em escravas. 

A verdadeira paz é interior. Não é privilégio de alguma religião, ou corrente ateísta. A paz de espírito significa que nós somos guiados pela nossa própria ética. Ela pode decorrer da adesão a uma religião, ou ideologia não-religiosa. Porém, na sua essência, esta ética dedica-se a viabilizar um mundo menos mau: Um mundo onde as forças do mal não se podem servir de e manipular os sentimentos das pessoas, por forma a chegarem aos seus fins desprezíveis, que se resumem, essencialmente, ao poder. 

Assim, a distinção essencial, não é étnica, religiosa, ou outra, senão que se está a favor - ou não - da distribuição o mais ampla e o mais igualitária possível do poder. Por outras palavras, pretende-se evitar a concentração do poder - quaisquer que sejam as razões invocadas para o fazer - ou se acha que há legitimidade para impor essa (falsa) solução de concentração do poder, para se «fazer reinar» a paz. No segundo caso, está-se a mascarar (perante os outros e si próprio) o desejo de poder, de domínio sobre os outros. 

O domínio sobre si próprio, a transformação pacífica, por dentro, de pessoas realmente imbuídas de pacifismo, é difícil de realizar, na prática. Mas, em teoria é muito simples de enunciar, de uma simplicidade que uma criança de tenra idade pode perceber: «Não trates os outros do modo como não queres que te tratem a ti» ou, formulado pela positiva, «Trata os outros do modo como gostas de ser tratado».

Não acredito que existam «genes da agressividade», nem que a agressividade contra um grupo, uma nação, uma fação seja ela qual for, esteja baseada em algo profundo, instintivo. Acredito que é devido à educação e ao entorno social, que são criadas as condições da intolerância, de se considerar que existem «raças» ou etnias com méritos diferentes, ou que a «competição e a superioridade dos vencedores» sejam as legítimas causas da desigualdade.

Os que não participam diretamente numa guerra estão sujeitos,  porém, à guerra psicológica, a serem forçados, coagidos física e psicologicamente, a «se arrumarem» num ou noutro lado. Alguém pacifista - no genuíno sentido da palavra - não deseja a continuação da guerra, deseja que haja cessar-fogo, para se encetarem conversações de paz, para que os povos sejam poupados a mais mortes, destruições e desgraças. 

Porque acontece isto? Ou seja, por que razão uma boa parte das pessoas, não envolvidas nas operações militares, se sentem «justificadas» em opinar que a guerra deva continuar até um dos lados («o nosso») ter esmagado o outro? Elas sentem-se justificadas (?) a decretar a continuação da morte, ferimentos, traumas, em pessoas desconhecidas, de um e do outro lado, completamente inocentes das causas e peripécias que levaram ao estado de guerra. 

Na realidade, os poderosos são os causadores e beneficiários deste estado de supressão do que há de realmente humano no ser humano. Esta supressão tem de ser prévia ao estado de guerra, para ser possível «ativá-la» e «potenciá-la» quando este estado de guerra se inicia. Os tambores da guerra começam a troar muito antes das primeiras batalhas. 

Quem realmente tem uma profunda convicção religiosa, seja em que religião for, ou tem um sentido ético profundo, sendo ateu ou agnóstico, não pode deixar de fazer tudo para que a política militarista, belicista,  deixe de se apoderar de nós, da nossa sociedade. Temos de começar por nós mesmos, mas também com os familiares, amigos, colegas... É sempre a propósito falar-se de paz, é sempre adequado propor soluções com vista à resolução dos conflitos. É da responsabilidade de cada um fazer com que a opinião pública se transforme, que exija aos dirigentes políticos soluções pacíficas imediatas aos conflitos bélicos.

    


domingo, 13 de março de 2022

SAM COOKE - A CHANGE IS GONNA COME


Ouve a célebre canção de Sam Cooke, cantor e compositor negro, iniciador da corrente chamada «Soul», corrente que tem, como nomes mais conhecidos, Aretha Franklin ou Otis Redding, ambos já falecidos.

                                          
Gravação de 1963

Sam Cooke foi um fenómeno de ascenção fulgurante no início dos anos sessenta, quando gravou esta canção. Desde então, esta canção e muitas mais de sua autoria, foram retomadas por inúmeros cantores, incluíndo Aretha Franklin e Otis Redding.
«A change is gonna come» é uma balada intemporal, que fala das suas origens humildes, oprimido mas orgulhoso de sua pessoa, de sua dignidade como ser humano. É sempre verdade, que uma mudança há-de vir. Ela é muitas vezes identificada com o movimento pelos direitos civis, no início dos anos 60 nos EUA. É temporalmente assim, mas quando uma obra-prima apela a valores universais, tem ressonância em todos os corações humanos, sejam eles de onde forem! 

No atual ambiente de guerra total, não podemos abdicar dos nossos direitos, da nossa dignidade e da nossa razão. 

- Quando os opressores de hoje julgam que nos estão esmagando, estão a pisar a nossa sombra

- Quando eles se atrevem a calar a boca dos justos, multiplicam-se as bocas que os denunciarão

-Quando eles julgam que o seu tempo é chegado, têm razão; pois falta pouco para serem julgados e condenados pelos crimes que cometeram.

Pela Paz!  

Manuel Banet

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A Change Is Gonna Come

I was born by the river, in a little tent
Oh, and just like the river
I've been running ever since
It's been a long
A long time coming
But I know a change gonna come
Oh, yes it will
It's been too hard living
But I'm afraid to die
'Cause I don't know what's up there
Beyond the sky
It's been a long
A long time coming
But I know a change gonna come
Oh, yes it will
I go to the movie
And I go downtown
Somebody keep telling me
Don't hang around
It's been a long
A long time coming
But I know, a change gonna come
Oh, yes it will
Then I go to my brother
And I say, brother, help me please
But he winds up, knockin' me
Back down on my knees
Oh, there been times that I thought
I couldn't last for long
But now I think I'm able, to carry on
It's been a long
A long time coming
But I know a change gonna come
Oh, yes it will

sexta-feira, 11 de março de 2022

CRÓNICA (nº1) DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL - MÚLTIPLOS TIROS NO PÉ




Vivemos em tempos interessantes; interessantes, no sentido de algo inédito. Não é todos os dias que se observa um Império a desmoronar-se. Pois creio, sinceramente, que é este espectáculo que temos diante dos nossos olhos.

O gigante americano ficou ébrio da vitória sobre seu arqui-inimigo, a URSS. Desde então (1991), tem multiplicado as agressões. Começou depressa e em solo europeu. Lembremos que foi por sua iniciativa e com ajuda do governo vassalo da República Federal da Alemanha, que  começou o desmembramento da República Federativa da Jugoslávia. O Ocidente mostrou particular raiva contra os sérvios, que sempre foram russófilos. Toda a história da horrível guerra civil jugoslava está manchada pela ingerência «humanitária» (criminosa, na verdade) dos ocidentais, com ou sem a capa da ONU, até ao ponto máximo da guerra dita do Kosovo (1999), em que foi bombardeado pela NATO um país europeu, a Sérvia, que não estava a ameaçar nenhum membro daquela Aliança. Foi um crime de guerra, agravado pelo facto de terem efetuado bombardeamentos aéreos indiscriminados, matando e ferindo inúmeros civis, nomeadamente, em hospitais e noutros locais sem função militar, assim como na embaixada da China, um muito sério incidente diplomático. 

Mas, eles não se ficaram por aqui. Como vingança contra os Talibans, que afinal de contas, tinham dito apenas que queriam ver provas de que Osama Bin Laden estava implicado nos ataques do 11/9, para o entregar às autoridades americanas, decidiram fazer um ataque-relâmpago ao Afeganistão, com «carpet bombing», ou seja, um attaque aéreo com uma densidade de bombardeamento que não deixava pedra sobre pedra, nem qualquer sobrevivente. Foi assim que iniciaram a campanha. Depois, puseram no governo de Kabul,  fantoches por eles escolhidos:  Senhores da guerra, subsidiados pela CIA, que se dedicavam a proteger o cultivo do ópio e a traficá-lo na Ásia Central. Também tinham interesse num projetado gasoduto, que conduziria o gás natural da Ásia Central, para portos nas costas da Ásia do Sul e daí, para o resto do mundo (projeto da UNOCAL). 

Digo isto, porque as pessoas são bombardeadas pela falsa narrativa (fake news) de que «nunca tinha havido uma guerra no solo europeu desde 1945»! Com esta falsa narrativa, tipicamente orwelliana, a media mainstream está a tentar erradicar a memória do crime da chamada guerra do Kosovo. Continuam a fazer o jogo da superpotência americana e dos seus «gnomos» europeus. Quando referem a invasão e ocupação do Iraque, mostram-se falsamente objetivos, pois escondem que as causas desta invasão foram completamente diferentes. A superpotência americana não tolerava que Saddam Hussein (o ex-vassalo, que fez guerra por procuração contra o Irão Xiita, lembrem-se) se tivesse rebelado e iniciado a venda do petróleo noutras divisas (nomeadamente, o euro), que não o dólar. Isso custou-lhe a vida e de um milhão de civis iraquianos, que - supostamente - os americanos e seus aliados tinham vindo «libertar» ! 

Mas o monstro globalista entendeu que não era ainda chegado o momento de partilhar o poder, fosse com quem fosse. Obama e Hillary e os neocons que os apoiavam, fizeram a guerra da Líbia, outro Estado próspero. Era o Estado com mais elevado nível de vida, em toda a África. E tudo isto, porquê? Porque Kaddafi tinha tido a ousadia de propor, numa cimeira africana, uma moeda única africana (à semelhança do euro) para os africanos deixarem de entregar suas riquezas, a troco duma moeda sobre a qual não tinham qualquer controlo (em dólares e/ou euros). Para cúmulo, tinha proposto que o «novo dinar» fosse garantido pelas reservas de petróleo dos participantes e em ouro. Duram até hoje os efeitos da destruição da Líbia e sua transformação em campo de treino e ação para diversas fações da Jihad. Fizeram reverter à miséria total um país que foi rico. Foi transformado num Estado falido onde, nas praças centrais, se podem observar mercados de escravos (em pleno século XXI). Só quem está fanatizado, é que não vê os intuitos civilizacionais e democráticos do «Ocidente»!

A densidade e velocidade dos acontecimentos faz com seja difícil manter atualizada uma cronologia. Para mim, é ponto assente, que os que em 2013-14 incitaram e promoveram o golpe Neo-Nazi de «Euromaidan» (Victoria Nulan, o embaixador dos EUA na Ucrânia e o Presidente Barack Obama), deveriam sentar-se na bancada dos réus, dum tribunal penal internacional. Mas, tal tribunal teria de se guiar pelas regras do Direito Internacional para fazer justiça. Embora eu não acredite que tal aconteça, estou convicto que, para estes criminosos não haverá nunca perdão. São criminosos contra a humanidade. As pessoas que reviram os olhos e pensam que estou a exagerar, infelizmente, só "sabem" o preconceito, não sabem Direito Internacional, nem as Convenções de Genebra, nem a Jurisdição resultante dos Julgamentos de Nuremberga, nem os princípios e declarações vinculativas da ONU, etc.

Claro que nenhum dos povos-mártires vai esquecer. Só para falar dos últimos 25 anos: ex-Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen. E, agora é a vez da Ucrânia, incitada pelos americanos a fazer a guerra nos territórios do Donbass, causa imediata da intervenção russa. Também não esquecerão, que têm sido objeto de bárbaras e ilegais sanções económicas, definidas (pela ONU) como actos de guerra. Têm sofrido sanções ilegais os seguintes países: Rússia, China, Irão, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba, etc., países não alinhados com Washington. Lembro que as convenções internacionais consideram crime, o que os ocidentais fazem constantemente: Impor sanções unilaterais (ou seja, sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU), sabendo muito bem que, quem sofre é a população inocente dos crimes, supostos ou reais, cometidos pelos governos respetivos. 

A loucura dos chamados «líderes» do Ocidente, chegou ao ponto de diabolizarem e encorajar atitudes raivosas e histéricas de discriminação, quando não de agressão, contra cidadãos russos. Estes, para manterem seu posto de trabalho, teriam de vir a público e por escrito declarar que estão contra Putin e contra a invasão. Estes, que não se ajoelham, mesmo que estejam de acordo com ambas as afirmações, podem recear ser destituídos da nacionalidade russa, em consequência de declaração pública, assimilável a traição. Seja qual for o motivo da recusa, os recalcitrantes são corridos, enxotados, demitidos, expulsos dos empregos. Ah! Esta União Europeia, paladina dos Direitos Humanos, estamos realmente edificados pelo seu sentido de justiça, de equidade! Que belo exemplo estão dando ao Mundo!

Agora, com as loucas sanções, o senil Joe Biden e sua coorte de neoconservadores (disfarçados, ou não) pensa estar a dar o golpe mortal à economia russa, proíbindo a importação de petróleo russo. Este constituía cerca de 7% do petróleo total importado pelos EUA, muito pouco, mas o suficiente para impedir a operação de muitas refinarias que, durante décadas, estiveram adaptadas a processar petróleo «pesado» venezuelano e, depois das sanções impostas à Venezuela (e do roubo das suas contas e de seu ouro!), recorriam ao petróleo do Yukon (Rússia) com uma composição compatível com as ditas cujas refinarias. Seria surpreendente que Biden conseguisse a reviravolta do Congresso, para anular as sanções impostas. Mas, mesmo nesta eventualidade, para a Venezuela  iria demorar dois anos, responder à procura acrescida de «crude», porque teria de repor em funcionamento poços e meios para transportar o petróleo. O preço do crude e da gasolina refinada, aumentaram exponencialmente, nos EUA. Coisa que determina - em qualquer país - uma recessão económica, visto que com o preço da gasolina, sobem os preços de todas as mercadorias, dos alimentos aos produtos das indústrias que ainda lá restam. A medida recebeu um «não» da UE e dos países tradicionalmente aliados de Washington, pois atualmente dependem em 40% (petróleo e gás) em média, das importações vindas da Rússia.

 É notável que a Rússia, no meio de tantos atos hostis, de sanções contra o seu banco central (ação inédita, o congelar dos ativos do mesmo), da expulsão do sistema SWIFT de muitos bancos russos etc., não tenha decidido fechar a torneira do gás e não receber novas encomendas de crude, dos países que adoptaram tais sanções. 

Esta guerra é híbrida. No teatro da Ucrânia, há operações militares, com mortos e feridos,  deslocados, destruição de infraestruturas. Noutro plano, o da economia e finanças, há a outra guerra, de sanções e contra-sanções. A consequência é o que estamos a presenciar em todo o mundo (inclusive, em países neutrais): os preços dos combustíveis fósseis sobem em flecha; há escassez de matérias-primas, por não-produção, ou por falta de abastecimento, ou estrangulamentos nos transportes; há receio fundado de uma crise alimentar mundial, visto que os adubos precisam de componentes do petróleo. Além disso, a Rússia e a Ucrânia, juntas, asseguravam uma percentagem muito elevada das exportações de trigo (da ordem de 30% do total mundial, salvo erro). A Rússia não usou (até agora) a arma alimentar; caso o fizesse, as nações mais atingidas seriam as do Terceiro Mundo. Vão, os «mentirosos» dos governos e da média dizer que isto tudo «é culpa do Putin», etc., mas quem se deixa convencer por tais «argumentos», é a faixa da população mais desinformada e acrítica. 

A guerra contemporânea joga-se em múltiplos planos. Não falei aqui dos ciber-ataques, prefiro deixar o tópico para outra ocasião. Resumindo, a guerra contemporânea reveste-se, simultaneamente: 

- Da forma clássica, com tropas, armamento, etc. 

-De guerra diplomática, com nações não envolvidas, a serem capturadas e arrastadas para tomar posição. 

- Da guerra económica, que no presente atinge o auge, com sanções e contra-sanções, bloqueios e mudanças rápidas de parcerias comerciais.

- De guerra cibernética, com ações de «hackers», ao serviço das agências de espionagem, quer para obter informação do inimigo, quer para danificar seus ficheiros e dispositivos.

- Finalmente, a guerra «cognitiva» (ou guerra de propaganda), está dirigida tanto às populações inimigas, como amigas

Todos nós - queiramos ou não - estamos envolvidos; quer estejamos a milhares de quilómetros das operações militares ou muito próximos, vamos ter dificuldades económicas, devido à hiperinflação, a escassez de bens (quer por falta de produção ou de transporte, ou devido ao regime de sanções); seremos bombardeados por notícias ( tal como na pandemia do COVID), muitas falsas, distorcidas, fora do contexto, impondo uma «ortodoxia» sobre todos os assuntos relativos à guerra e a posição que seria «correto», «moral», «patriótico», tomar. 

Receio que a minha posição de condenar toda e qualquer guerra e de levantar a voz por conversações de cessar-fogo, seguidas de conversações de paz, não se faça muito ouvir, nestes tempos. A «bandeira» da liberdade de expressão, sem a qual não existe democracia liberal, já caíu das mãos dos que, ontém, se diziam seus defensores. Eles são, agora, defensores duma censura férrea!

A ruína do sistema mundial capitalista está em curso. A globalização está completamente posta em causa. O dólar está em apuros e não acredito que possa continuar durante muito tempo a ser a principal moeda de reserva do sistema bancário, ou até, em termos comerciais. 

As criptomoedas mostram a sua instabilidade inerente: Não terão, no futuro, capacidade para substituir o sistema monetário, dito de Bretton Woods, já muito abalado. Mas, a única forma dum mundo caótico funcionar, quando a paz voltar, quando for necessário estabelecer um novo sistema monetário, é a seguinte: 

- Haverá várias divisas, assim como ouro e petróleo (e, talvez, outras matérias-primas), formando um cabaz, parecido com o atual «SDR» (Special Drawing Rights) do FMI, mas com estatuto muito mais amplo. Com efeito, os SDR funcionam sobretudo como moeda contabilística interna do FMI, embora seja possível os governos fazerem empréstimos em SDR e podem também ter fundos em SDR. Mas, o dólar americano continua a ser a moeda de reserva mais usada, pelos bancos centrais do mundo inteiro. Ora, isto inclui a China, a qual possui perto de um trilião em bonds do tesouro dos EUA . Ela vai tirar as suas conclusões do comportamento do Ocidente, que rouba o ouro e as reservas dos bancos centrais. Foram os casos recentes, com a Venezuela e Afeganistão. Agora, também, com o roubo das reservas do Banco Central da Rússia. A ligação estratégica entre a Rússia e China vai-se reforçar e aprofundar. Um maior fluxo comercial existirá entre eles, os dois gigantes do Continente Euro-asiático. Uma fatia substancial do comércio, abrangendo também outras nações, vai fazer-se em rublos ou em yuan, ou até com troca de mercadorias por ouro (ou certificados-ouro). O ouro vai de novo, tal como fez durante milhares de anos, entrar por via das trocas comerciais, no sistema financeiro mundial. Isto equivale à morte do dólar, enquanto moeda de reserva. Pois, será claro para muitos países que, em vez de reservas em dólares, que podem ser congeladas, ou mesmo expropriadas por decisão de Washington, mais vale terem ouro em reserva, podendo facilmente transacionar bens de importação ou exportação, por ouro (os bonds em Yuan convertíveis em ouro, no mercado de Xangai, são para isso).

Os EUA e aliados da NATO e UE, têm estado a dar tiros no pé; as medidas que tomam contra a Rússia estão a «fazer boomerang». Estranhamente, eles próprios estão a precipitar a queda do Império do dólar, a perda de sua hegemonia mundial. Não perfilho os sistemas políticos e ideológicos vigentes na Rússia ou na China; porém, reconheço que seus governos estão a usar, com inteligência e astúcia, os instrumentos ao seu dispor, nesta guerra total e híbrida, característica da  IIIª Guerra Mundial.


PS1: Omiti a guerra biológica na panóplia da guerra híbrida: Talvez seja tão ou mais horrível que a guerra atómica. Os russos encontraram na Ucrânia laboratórios, financiados pelos EUA e cumprindo encomendas dos mesmos, dedicados ao fabrico e testagem de armas biológicas, perto da fronteira com a Rússia.  

PS2 : O «think tank» Rand Corporation é extremamente poderoso e influente na determinação da política externa e na geo-estratégia do governo dos EUA. Aqui, Manlio Dinucci dá-nos a análise impressionante dos seus planos em relação à Rússia, com particular destaque para o papel da Ucrânia.  

Overextending and Unbalancing Russia.

https://www.globalresearch.ca/rand-corp-how-destroy-russia/5678456

PS3: O fim do reino do dólar está próximo. Prova disso, é a proclamada vontade da Arábia Saudita em vender petróleo, recebendo yuans. Embora continue a vender uma maioria do petróleo em dólares, a outros clientes , o «tabu» está quebrado. O Emirato de Abu Dhabi já está a alinhar-se pela mesma posição. Se os produtores de petróleo começarem a aceitar outras divisas, que não o dólar, a base financeira do império americano fica ferida de morte. Saiba porquê no artigo seguinte: 

https://www.zerohedge.com/markets/petrodollar-cracks-saudi-arabia-considers-accepting-yuan-chinese-oil-sales


sexta-feira, 4 de março de 2022

10 CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA, DE QUALQUER GUERRA






- Os povos de ambos os lados atribuem suas perdas ao inimigo. Isto é lógico, mas o que não é lógico é que identificam como inimigo, o outro povo com que lutaram. Em boa lógica, deveria ser considerada como inimiga, a classe dominante nos dois países em conflito, pois foi com manobras deliberadas e intencionais de ambas, que o conflito (em geral, com componentes diversos desde políticos e económicos, a estratégicos), degenerou em conflito armado. Estas classes dirigentes são «competentes» apenas, em extrair o máximo do povo, explorá-lo até ao ponto em que ordenam a sua «sangria», pois assim mantêm os seus privilégios.

- A destruição do capital, seja capital físico, como edifícios, instalações de fábricas, etc, seja capital financeiro, vai oferecer oportunidades, quer aos capitalistas do país derrotado, quer aos do país vencedor, quer aos de países terceiros. Por isso, o grande capital não se importa muito em fazer eclodir uma guerra, por mais paradoxal que nos pareça, a nós simples mortais, pois eles sabem que a ruína de uma economia é a bonança de outra. Se forem realmente globais, como o são hoje os grandes empórios financeiros e industriais, saberão tirar partido desta situação de guerra.

- As pessoas, atemorizadas, irão alinhar-se automaticamente pelos pontos de vista dos seus chefes. A dissidência, em qualquer dos campos, será diabolizada e criminalizada, mesmo que seja ordeira, pacífica. Haverá repressão violenta, brutal e os olhos não irão chorar essas vítimas, mas irão brilhar de alegria, em grande parte das pessoas, tomadas pelo medo e pelo ódio, pelo rancor e pela sede de vingança. Toda a discussão racional fica impossível, torna-se mesmo perigosa, pois haverá imensa probabilidade dum ou outro interveniente se tornar completamente irracional, deixando o campo dos argumentos, para o dos insultos e até, da agressão física.

- A guerra irá empobrecer todos, países vencedores, como vencidos: Mas, os que dominam as sociedades não serão os perdedores. Raramente, grandes financeiros ou industriais são pessoalmente inquietados, presos, julgados e condenados. É muito mais frequente que tal possa acontecer aos generais e políticos, homens de mão de financeiros e industriais. Os líderes políticos e militares irão condensar toda a ira das multidões e o castigo pelas estruturas de poder dos vencedores, disfarçadas em «justiça». 

- Durante séculos, através de uma narrativa viciada dos acontecimentos, vai ser transmitido o ódio e o rancor, nas socidedades herdeiras duma guerra perdida. Muito mais do que a exploração, que poderá ter sido o ponto prévio para essa derrota, muito mais que atos da classe dirigente, que se terá comportado como inimiga do seu próprio povo,  o nacionalismo vai nomear como culpado de tudo, o país e o povo que lhe fizeram a guerra. O país que foi derrotado vai experimentar um renovo do nacionalismo, quaisquer que sejam os governos que aí se instalem.

- Os poderosos veem a guerra como um «baralhar e dar de novo» das cartas, na geopolítica. Não é senão um «jogo», para eles. Esse jogo já era bastante cruel e criminoso, nos séculos passados, em que as armas mais mortíferas eram espingardas e canhões. Mas no presente, é possível (e credível) acontecer uma conflagração nuclear, o que faria do rebentar da guerra, apenas o prelúdio da catástrofe final para a humanidade inteira, que não terá, podemos estar certos, capacidade de se refazer de tal golpe. Isto porque o próprio ecossistema que a suporta, entrará em colapso irreversível e irrecuperável, durante milénios. Os elementos radiativos, resultantes das explosões permanecem radiativos durante milhões de anos, qualquer pessoa, que estudou no ensino secundário, sabe isso.

- Para a classe dirigente, a guerra torna-se não apenas apelativa, como "a solução", quando a economia está a descarrilar, como é o caso, hoje. A única maneira de desviarem a ira popular da sua gestão desastrosa, é desencadearem uma guerra. Como o fazer, então? O processo usual é de provocar constantemente o adversário, empurrá-lo até ele ficar com as «costas contra a parede», realizando atos de guerra não declarada, como a colocação de sistemas de mísseis, capazes de alcançar o território e a capital do inimigo, por exemplo. Ou ainda, criando pretextos para sanções económicas, formas de punição caracterizadas como «guerra económica» por todos, incluindo os textos oficiais da ONU. 

- Mas, para que a operação de preparação da guerra passe por ser uma tomada de medidas «defensivas» face a um «monstro», causador de todos os males, é preciso atemorizar e condicionar, através da guerra psicológica, o seu próprio povo. O povo de cada país está sujeito à pressão dos media e do governo, dos grandes interesses (os verdadeiros donos de ambos), que estão constantemente a condiciona-lo pelo medo, pelos instintos, pelo sub-consciente, para obterem a sua docilidade e aprovação. Veja-se que, nos países em guerra, geralmente, as taxas de aprovação dos líderes pelo público, costumam subir, pelo menos, nas fases iniciais da guerra. Isto não se deve ao acaso: As pessoas não se tornam - de repente - indiferentes, ou crueis, em relação aos outros seres humanos, sem uma forte «lavagem ao cérebro».

-Durante e depois do conflito armado são ensaiadas novas soluções, quer do ponto de vista da tecnologia militar, quer de outros pontos de vista. Por exemplo, as mais mortíferas armas, as biológicas, poderão ser lançadas, por um ou ambos os campos. Quem o fizer, estará a apostar na diminuição brusca da população do inimigo, sem que haja destruição da sua infraestrutura. Além disso, a «engenharia social» estará a operar em pleno, com «soluções» políticas, económicas e sociais com as quais os mais autoritários apenas sonhavam. Agora, poderão pô-las em prática, as tais «soluções», sem que tenham qualquer oposição, sem serem odiados, mas até serem saudados como os salvadores da pátria. São os coveiros da democracia, mesmo que tenham a boca cheia desta palavra.

- Os custos das guerras não se limitam às áreas em guerra. Irão ser muito ampliados, pelo facto delas serem desencadeadoras e agravadoras duma crise mundial. O globalismo trouxe a interdependência mundial, numa escala nunca antes vista. Por exemplo, as guerras incessantes no território europeu, antes do Século XVI, tiveram poucas consequências diretas e imediatas nos povos doutras regiões do mundo. Mas, as guerras intra-europeias ao longo do século XIX, alargaram-se às colónias e protetorados, nos vários continentes, desencadeando a rivalidade e belicismo, que engendraram a Iª Guerra Mundial. Qualquer país do mundo, onde quer que esteja, sofrerá os efeitos da guerra. Qualquer país, quer seja neutro, ou simpatizante dum dos lados, irá sofrer devido a rupturas no comércio, no investimento, no abastecimento e em tudo.

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https://off-guardian.org/2022/03/03/economic-restructuring-democratic-deficit-and-locking-down-liberty/


 https://www.globalresearch.ca/why-did-us-embassy-official-website-just-remove-all-evidence-ukrainian-bioweapons-labs/5772798


https://www.globaltimes.cn/page/202203/1253776.shtml


https://www.unz.com/pescobar/how-russia-will-counterpunch-the-u-s-eu-declaration-of-war/


https://www.goldmoney.com/research/goldmoney-insights/international-sanctions-on-russia-exacerbate-oil-market-tightness

terça-feira, 1 de março de 2022

«LE DÉSERTEUR» DE BORIS VIAN // QUANDO A MÚSICA DÓI



Aqui, uma das músicas que nos encheram o espírito e o coração, nos idos anos sessenta do século passado. Ou foi há vinte séculos???
Elas estão mais esquecidas porque raramente são evocadas ou retomadas, ao contrário das produções do showbiz, a máquina do espetáculo. Não é por acaso que existe - vemos à nossa volta, agora mesmo - uma sociedade sem memória coletiva, sem conhecimento da história, descerebrada. 
Infelizmente, eu terei de ser um desertor, se isto continua a ir de mal para pior. Demasiados sinais vão nesse sentido.
Não compreendo bem como as pessoas se deixam tomar pela paixão a favor da guerra, mas penso que esteja relacionado com a manipulação dos instintos profundos de sobrevivência, do medo da morte e de serem ostracizadas. Poucos são os homens e mulheres que têm a coragem (sim, hoje em dia é precisa) de pensarem por si próprios/as e, igualmente, de serem coerentes consigo próprios/as. 
Apesar do meu ceticismo, apelo ao bom-senso, à humanidade, ao sentido de responsabilidade de todos/as que me leem:
Não vamos, intencionalmente ou não, assoprar os ventos da guerra. Agora, do lado dos poderes, há um desencadear de furacões e tornados. 
Se queres a paz, trabalha pela paz!
Uma paz dentro de ti, com os outros, com aqueles/as com quem te sentes em dissonância, especialmente. 
Este Mundo é para ser partilhado por todo o género humano, por todas as culturas e países. 
A guerra, seja a que nível for, é sempre uma má solução; ou melhor, não é realmente uma solução. 
Tudo o que deixa, é desespero, destruição, amargor e desejo de vingança, nos que a sofrem. Em geral, sofrem muito também os que não têm um mínimo de participação na loucura coletiva. 

O meu coração não pode ter sentimentos antagónicos contra os povos, sejam eles quais forem... Os povos ucraniano, russo, da União Europeia, britânico, dos EUA... Não tenho nada contra eles (e os restantes)! 
Mas, tenho contra os dirigentes, os líderes que, ao longo de décadas, nos têm coletivamente levado para o abismo, passo ante passo, falhando redondamente na promessa (explícita ou implícita) de criar condições de segurança coletiva, para as nossas sociedades, para o Mundo.

O que parece extremo, de minha parte, não o é, afinal. Sempre foi a mensagem do humanismo, da filosofia, da espiritualidade. Se procurarem, verão que temos exemplos claros disso, no presente e nas tradições dos diversos países, que estão agora tão apartados. 
Neste contexto, é preciso evitar o mal que consiste em diabolizar o outro, em colocá-lo (explícita ou implicitamente) num plano de «não humano». 

A propaganda apoderou-se da media, sobretudo a media com meios mais poderosos de difusão. Em simultâneo, são censuradas informações e opiniões, que se afastem da ortodoxia ditada pelos poderes, nesta Guerra Global em que nos encontramos mergulhados. Estes mecanismos acabam por anular qualquer réstia de liberdade. Eles tendem a extravasar para aquelas áreas e assuntos que os poderes decidam que são «tabu». Porque, sem liberdade de informação e de opinião, não se pode manter nenhuma liberdade verdadeira.

Será que a humanidade se vai deixar levar - mais uma vez - ao matadouro? Desta vez, seria a vez definitiva; se houver vida, não haverá nada que valha a pena viver, no seguimento duma guerra nuclear. Note-se que é impossível haver uma guerra nuclear limitada. Nas circunstâncias atuais, há a certeza de que um primeiro golpe nuclear, por um dos adversários, não vai impedir que o outro conserve várias possibilidades de contra-ataque nuclear. 
Mesmo que não houvesse uma tal riposta, o «inverno nuclear», isto é, o arrefecimento brusco do clima e a diminuição duradoira da fotossíntese, devido às partículas de poeira radiativa em suspensão depois das explosões,  causaria o definhar lento, horrível e definitivo da espécie humana. 
Querem isso ... Ou preferem acordar da ilusão e do condicionamento e agir responsavelmente, como humanos? 

Le Déserteur

Le déserteur
Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter
Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Qu'elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins
Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer