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terça-feira, 7 de julho de 2020

O QUE SIGNIFICA CONCRETAMENTE O PREÇO DO OURO?

                            

O preço da onça de ouro em dólares US aproxima-se do seu recorde de sempre, a 25 de Julho de 2011. 
- Que importância tem isto? Tem a importância de uma marca simbólica, visto que o valor do dólar - assim como de todas as divisas «fiat», de todos os países, garantidas apenas pela «palavra» do respectivo governo - é um poderoso factor psicológico. 
Se as pessoas soubessem o que significa - verdadeiramente - a quantidade de dívidas (impagáveis!) de Estados, bancos, bancos centrais, empresas e particulares, uma quantia na casa dos quadriliões de dólares, número propriamente astronómico, é evidente que deixariam instantaneamente de ter qualquer confiança no dinheiro-papel e iriam querer trocá-lo, o mais depressa possível, por bens tangíveis. 
Assim se passou noutras crises monetárias, como a famosa crise hiper-inflacionária da República Alemã de Weimar de 1922-23, ou as crises que assolam a Venezuela, o Zimbabwe, a Argentina e outros países, cujas oligarquias locais se têm servido - sem vergonha - das riquezas dos países que governam. 
... E por falar nisso, cabe aqui uma referência especial à política da União Europeia e do BCE, que têm multiplicado a dívida, quer do referido banco central, quer dos Estados membros da Eurozona, sem qualquer preocupação em destruir a confiança na divisa «Euro». 
O esquema de Ponzi, já posto em prática aquando da crise do Euro de 2012, continua e é reforçado, tornando cada vez maior a folha de activos do BCE. 
Por outro lado, as dívidas dos Estados atingem valores que são considerados claramente impagáveis. Tecnicamente, todos estes Estados estão falidos. O único modo que têm para ir «pagando» as suas obrigações, desde juros das dívidas contraídas, até às obrigações com ordenados dos funcionários públicos e as pensões, é inflacionando a moeda. 
Ou seja, pagam 1000, mas essa soma uns poucos anos antes, no início da introdução do Euro em 2001 (por exemplo), equivaleria - em capacidade aquisitiva - a muito mais, o dobro, o triplo, ou mais... 
Ninguém pode dizer ao certo, porque as estatísticas estão falseadas, intencionalmente, como era prática corrente nos países de Leste do ex-COMECON. Assim, é praticamente impossível avaliar o valor real do dinheiro, portanto, quanto valem salários e todas as transacções em geral. A avaliação contabilística (feita pelo governo) é uma completa mentira. 

             

Como demonstrei noutro artigo, a única maneira de medir o valor do dinheiro-papel, é comparar os preços numa divisa, da onça de ouro, em vários momentos:
No início da introdução do Euro, era cerca de 300 € /onça troy. O preço do mesmo metal, hoje, é de 1576 € / onça troy. Portanto, o valor do Euro desceu de 5.25 vezes ou seja, vale 525% menos, em relação a 2001

Por este simples cálculo, se vê como a inflação e a sua ocultação se conjugam, para transformar a Eurozona numa experiência falida. Nem seria necessário passarmos pela experiência do Covid, para isso ser patente. 
Os únicos beneficiários da Eurozona são os grandes capitalistas, os grandes grupos, sejam eles financeiros, de comércio, ou industriais, que têm beneficiado da constante erosão dos salários de milhões de trabalhadores, mantidos num colete de forças, em que se lhes pede cada vez mais produtividade para menor paga. No regime de monopólios que vigora, o capitalismo genuíno não passa de figura de retórica. 
O que temos é um mercado protegido, com privilégios que vão desde ajudas estatais (isenção de impostos, abaixamento dos encargos sociais, etc), supostamente para «garantir» o emprego ou a «competitividade» ou outras mentiras, até aos «bail-outs» (resgates) sucessivos dos bancos ou de grandes empresas, supostamente para «salvar» a economia dum País da bancarrota. 
É justamente para a bancarrota que estamos a ser encaminhados, em toda a Eurozona, em especial nos «PIGS» (Portugal, Itália, Grécia, Espanha). 
A minha previsão é que estes governos do flanco sul europeu vão acentuar o despesismo, prometendo e dando a torto e a direito, garantindo assim os votos necessários para se manterem no poder.  

Os actuais ocupantes de lugares de poder têm a ilusão de terem as costas quentes. Pensam que estão apoiados nas forças repressivas/militares ... PSP, GNR, Forças Armadas, NATO. Mas, estas forças não estarão dispostas a defendê-los, se - elas próprias - compreenderem que nada ganham e arriscam-se a perder tudo se defenderem os pusilânimes governantes...

O povo deixará de ter ilusões, no momento em que perceber que não há recuperação do estado «pré-covid». As coisas foram feitas, justamente, de modo a que -de novo- fosse o povo a pagar a factura.  Isso tomará o seu tempo, mas não tardará muito, pois a realidade no terreno económico vai ditar a mudança de perspectiva.

Não encontro motivos para ser optimista em relação ao futuro próximo. Não fico feliz com a infelicidade dos outros. 
Porém, os meus concidadãos têm de acordar da hipnose em que ficaram mergulhados, para perceber o que se passou, o porquê daquilo que se está a passar e o que devem fazer, para tomarem em mãos a situação. 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

DIFERENÇA ENTRE NUMERÁRIO E VALOR

                            

No contexto actual de descalabro económico, causado deliberadamente pelos poderes globalistas, vamos experimentar uma aceleração da inflação... fatalmente. 
A forma como os governos disfarçam a inflação é como um porco com bâton, não deixa de ser exactamente o mesmo animal, pelo facto deste ter os lábios pintados!
O processo de disfarçarem a inflação é totalmente comparável aos lábios pintados no focinho do porco, porque a realidade subjacente é a mesma, com ou sem falsificação governamental. O fenómeno da inflação é - sempre foi e sempre será - um fenómeno monetário.
Na sua essência, é muito fácil de compreender; os disfarces do governo e dos economistas ao seu serviço, apenas são isso: disfarces, para impedir que as pessoas façam a avaliação real do grau em que são espoliadas.
Com efeito, a inflação tira ao pobre para dar ao rico; tira ao trabalhador para dar ao governo.
A história da utilização da inflação como instrumento fundamental da política económica e financeira dos governos, pode resumir-se nalguns parágrafos:
A partir do momento em que o governo dos EUA se desvinculou dos acordos de Bretton Woods, que obrigavam a manter uma convertibilidade do dólar em ouro (35 dólares US = 1 onça de ouro) e deixou de converter a moeda de reserva mundial em ouro, quando um governo estrangeiro pedisse essa conversão, as moedas começaram a «flutuar» umas em relação às outras e o preço do ouro (e da prata) experimentou uma subida vertiginosa. No mesmo momento, o Ocidente sofreu inflação, conjugada com o choque petrolífero, que desencadeou a crise chamada de stagflation ou seja, estagnação/inflação. A partir desse momento, os governos todos começaram a fazer batota na contabilização da inflação. 
Se os governos actuais usassem os mesmos critérios que no início dos anos 70, para avaliar a taxa de inflação ao consumidor, esta seria - de acordo com John Williams de ShadowStats.com - múltiplos da que nos é apresentada como sendo a inflação «oficial». Dizem que esta inflação não atingiu os dois por cento na Eurozona, porém, segundo os cálculos do género de ShadowStats (estes para a economia dos EUA) a verdadeira inflação deve cifrar-se nalguns países (como é o caso de Portugal) bem próximo, senão acima, dos 10 % anuais, para um cabaz de consumo corrente das famílias.
Então, pode-se perguntar: «que vantagem tem o governo em subavaliar de forma tão grosseira a inflação»? 
Sem dúvida, tem vantagens e não são poucas:
- Dá a ilusão à sua população de que tem as coisas sob controlo, tem um efeito de auto-promoção da sua «bondade» em termos de gestão económica.
- Além disso, mantém uma pressão sobre os salários. Esta, exerce-se para além do emprego do Estado, não apenas na função pública, pois as empresas privadas acabam por ter um nível semelhante, em cada categoria salarial, ao nível salarial correspondente dos funcionários do Estado.
- O Estado está obrigado a gerir as pensões de reforma, as prestações sociais, etc. Estas, são indexadas a um índice que mede a erosão do valor do dinheiro. Simplesmente, o factor correctivo é diminuto. O Estado mantém assim suas obrigações, nominalmente. No entanto, paga com dinheiro que vale cada vez menos, iludindo a esperança das pessoas que trabalharam e descontaram durante décadas. Acabam por ter, depois, uma pensão muito mais baixa, em valores reais, do que jamais imaginaram.
- O Estado emite dívida: As obrigações do tesouro pagam um juro mais baixo do que deveriam. Se um empréstimo a dez anos tem um juro de dois por cento, teria de existir uma inflação bem inferior, em média, durante esse intervalo de tempo, para que o detentor dessas obrigações tenha uma remuneração correspondente. Não são apenas os grandes investidores privados, desde bancos comerciais, aos fundos especulativos, etc. que compram a dívida pública, também os fundos de pensões o fazem. O Estado faz «default» discreta e suavemente, sobre a sua dívida, mas não aparenta estar a fazer isso. 
- O PIB é uma espécie de «farol» da economia de um país. Apesar desta métrica ser muito questionável, em vários aspectos, ela é utilizada por todos os governos, para atrair investimento ou para utilizar como argumento eleitoral. Mas, ao valor do «PIB bruto» tem de se descontar a inflação, para avaliar o crescimento económico real dum país. Ora, o PIB é «corrigido», sistematicamente, usando um valor de inflação demasiado pequeno. Por exemplo; um país apresenta um valor de PIB bruto de 4%, num dado ano. Mas ele tem - por exemplo - cerca de 6% de inflação verdadeira, embora o governo diga que a inflação é só de 2%. O PIB «corrigido» será de 2% positivo, quando - na verdade - deveria ser de 4% negativo. 
O resultado cumulativo desta ocultação do valor real da inflação, é o empobrecimento das pessoas comuns que dependem, exclusivamente ou maioritariamente, de salário ou pensão para sobreviverem.  
Tem também efeitos perniciosos na governação, pois é indutor de políticas despesistas: todos os governos gostam de agradar aos eleitores, todos têm tendência a ultrapassar os limites das receitas, pedindo dinheiro emprestado nos mercados (emissão de dívida soberana). É assim que os Estados vão acumulando dívidas, sobrecarregando os orçamentos com o serviço das mesmas, impedindo que esse dinheiro, indo para juros das dívidas, seja investido para algo produtivo. 
Finalmente, na economia real, a maquilhagem do valor da inflação tem efeitos nefastos; pois, escondendo a realidade dos actores económicos, faz com que aumente a proporção dos investimentos não rentáveis. Isso significa que certas empresas são obrigadas a fechar portas e despedir trabalhadores, porque os cálculos para investimentos foram feitos com base em números falsos de inflação. 
Neste contexto, a única forma de avaliar correcta, na economia, é usar o padrão ouro. O padrão ouro, que foi sustentáculo das moedas principais, nos períodos de maior expansão do capitalismo (segunda metade do século XIX, por exemplo), permitiu grande estabilidade nos preços, com a inestimável vantagem que isso acarreta, para qualquer economia.
Hoje em dia, não existem divisas seguindo o padrão ouro: mas, a conversão das quantias expressas numa divisa, pela correspondente cotação em ouro, permitirá avaliar a rentabilidade futura (ou passada) de um investimento. 
A quantidade equivalente em ouro, no momento x (hoje) é maior que a quantidade equivalente em ouro, no momento x-z ? - Então, o investimento tem uma rentabilidade correspondente à diferença entre as duas quantidades. 
Só assim poderemos fazer uma estimativa, porque só o ouro conserva o valor real, ou seja, o poder de compra ao longo do tempo. 

                            

                                         Gráfico: Poder de compra do ouro na eurozona

A quantidade em ouro, necessária para comprar um elegante fato para homem (para um vestido de senhora também se aplica, claro), é cerca duma onça de ouro puro (31,1 gramas aproximadamente): isso correspondia a 20 dólares US, em 1913; hoje, corresponde a 1800 dólares US. 
Quem tivesse guardado, desde 1913 até hoje, num cofre, uma onça de ouro, poderia comprar um fato, com o valor dessa mesma onça de ouro. Quem tivesse guardado 20 dólares em papel, teria apenas possibilidade de, com essa quantia, comprar hoje... um par de peúgas, talvez! 
Podemos habituar-nos a pensar em termos de valor, não em termos nominais de divisas... Só assim estaremos em condições de salvaguardar nosso poder de compra. Só assim poderemos evitar fazer investimentos não rentáveis. 
No contexto actual, tem havido muitas pessoas sobre-endividadas, sem capacidade para saírem do buraco em que se meteram. É fundamental as pessoas educarem-se para saber como investir ou como pedir um empréstimo. Compreender a diferença entre o custo nominal (em divisa fiat) e o valor real (usando o ouro como critério/padrão) é fundamental, para não se cair naquelas situações.