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terça-feira, 19 de novembro de 2019

MANLIO DINUCCI: A ITÁLIA NA COLIGAÇÃO «ANTITERRORISMO»


Copiado de : https://nowarnonato.blogspot.com/2019/11/pt-manlio-dinucci-arte-da-guerra-italia.html

                             
A Arte da Guerra
A Itália na coligação “antiterrorismo”
Manlio Dinucci

O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, acolhendo em Roma, os cinco soldados feridos no Iraque, declarou que “o Estado italiano nunca recuará um centímetro diante da ameaça terrorista e reagirá com toda a sua força diante dos que semeiam terror”. Voou, então, para Washington, a fim de participar na reunião de grupo restrito da “Coligação Global contra o Daesh”, do qual fazem parte, sob orientação USA, a Turquia, a Arábia Saudita, o Catar, a Jordânia e outros países que apoiaram o Daesh/ISIS e formações terroristas análogas, fornecendo-lhes armas e treino de combate (conforme documentamos neste jornal).

A Coligação - que inclui a NATO, a União Europeia, a Liga Árabe, a Comunidade dos Estados do Sahel/Sahara e a Interpol, mais 76 Estados individuais - afirma no seu comunicado de 14 de Novembro, “ter libertado o Iraque e o nordeste da Síria” do controlo do Daesh/ISIS», embora seja evidente que as forças da Coligação deixaram, deliberadamente, a mão livre ao Daesh/ISIS.
Esta e outras formações terroristas foram derrotadas apenas, quando a Rússia interveio militarmente em apoio às forças do governo sírio.

A Coligação também reivindica ter “fornecido 20 biliões de dólares em assistência humanitária e para a estabilização do povo iraquiano e sírio, treinado e equipado mais de 220.000 membros das forças de segurança para estabilizar as comunidades locais”. O objectivo desta “assistência” é, na realidade, não a estabilização, mas a contínua desestabilização do Iraque e da Síria, fomentando instrumentalmente, sobretudo, as diversas componentes do independentismo curdo, para desagregar esses Estados nacionais, controlar o seu território e as suas reservas de energia.

Como parte dessa estratégia, a Itália, definida como “um dos maiores contribuintes da Coligação”, está empenhada no Iraque, principalmente, no adestramento das “forças de segurança curdas” (Peshmerga), em particular, no uso de armas anti-tanque, morteiros, artilharia e espingardas de precisão, em cursos especiais para franco-atiradores.

Operam, actualmente, no Iraque, cerca de 1.100 soldados italianos, divididos em diversas ‘task force’/grupos de trabalho, em vários lugares, equipados com mais de 300 veículos terrestres e 12 meios aéreos, com uma despesa, em 2019, de 166 milhões de euro.
A força do Iraque está apoiada por uma componente aérea italiana no Kuwait, com 4 caças-bombardeiros Typhoon, 3 drones Predator e um avião-tanque para reabastecimento em voo.
Com toda a probabilidade, as forças especiais italianas, às quais pertencem os cinco feridos, participam em acções de combate, mesmo que a sua tarefa oficial seja só de treino. O emprego de forças especiais é em si, secreto. Agora, torna-se ainda mais secreto porque o seu comando, o COMFOSE, foi transferido do quartel Folgore, em Pisa, para a área vizinha da base de Camp Darby, o maior arsenal USA fora da pátria, onde também são realizadas actividades de treino.

Na Coligação, a Itália também tem a tarefa de co-dirigir o “Grupo financeiro de combate ao “ISIS”, juntamente com a Arábia Saudita e os Estados Unidos, ou seja, aqueles que financiaram e organizaram o armamento das forças do ISIS e de outras formações terroristas (ver a pesquisa do New York Times, em 2013).

Fortalecido com todos estes méritos, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Di Maio, apresentou em Washington a proposta, imediatamente aceite, de que seja a Itália a acolher a reunião plenária da Coligação, em 2020. Assim, a Itália terá a honra de receber oponentes infatigáveis do terrorismo como a Arábia Saudita que, depois de financiar o ISIS, agora gasta os seus petrodólares para financiar a sua guerra terrorista, no Iémene.

il manifesto, 18 Novembro 2019



DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO
DANSK DEUTSCH ENGLISH ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO NEDERLANDS
PORTUGUÊS ROMÎNA SLOVENSKÝ SVENSKA TÜRKÇE РУССКИЙ


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

terça-feira, 15 de outubro de 2019

MANLIO DINUCCI: A NATO POR TRÁS DO ATAQUE TURCO À SÍRIA

                                                     RETIRADO DE NO WAR NO NATO

                                     

                                                    



A Alemanha, a França, a Itália e outros países que, em trajes de membros da União Europeia, condenam a Turquia pelo ataque à Síria, são, juntamente com a Turquia, membros da NATO, a qual, quando já estava em curso o ataque, reiterou o seu apoio a Ancara. Fê-lo oficialmente, o Secretário Geral da NATO, Jens Stoltenberg, encontrando-se em 11 de Outubro na Turquia, com o Presidente Erdoğan e com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu.

“A Turquia está na primeira linha, nesta região muito volátil, nenhum outro Aliado sofreu mais ataques terroristas do que a Turquia, ninguém está mais exposto à violência e à turbulência proveniente do Médio Oriente”, disse Stoltenberg, reconhecendo que a Turquia tem preocupações “legítimas” com a sua própria segurança”. Depois de, diplomaticamente, tê-lo aconselhado a “agir com moderação”, Stoltenberg salientou que a Turquia é “um Aliado valoroso da NATO, importante para a nossa defesa colectiva”, e que a NATO está "fortemente empenhada em defender a sua segurança”. Para esse fim - especificou - a NATO aumentou a sua presença aérea e naval na Turquia e investiu mais de 5 biliões de dólares em bases e infraestruturas militares. Além do mais, colocou um comando importante (não mencionado por Stoltenberg): o LandCom, responsável pela coordenação de todas as forças terrestres da Aliança.
Stoltenberg evidênciou a importância dos “sistemas de defesa antimísseis” inseridos pela NATO para “proteger a fronteira sul da Turquia”, fornecidos em rotação pelos Aliados. A este respeito, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu agradeceu, em particular, à Itália. Desde Junho de 2016, a Itália instalou na província turca do sudeste, em Kahramanmaraş, o “sistema de defesa aérea” Samp-T, produzido em conjunto com a França. Uma unidade Samp-T compreende um veículo de comando e controlo e seis veículos lançadores, cada um armado com oito mísseis. Situados perto da Síria, eles podem abater qualquer avião no espaço aéreo sírio. Portanto, a sua função, é tudo menos defensiva. Em Julho passado, a Câmara e o Senado, com base na decisão das comissões estrangeiras conjuntas, deliberaram prolongar, até 31 de Dezembro, a presença da unidade de mísseis italiana na Turquia. Stoltenberg também informou que estão em curso negociações entre a Itália e a França, produtores conjuntos do sistema de mísseis Samp-T e a Turquia, que deseja comprá-lo. Neste ponto, com base no decreto anunciado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Di Maio, para bloquear a exportação de armas para a Turquia, a Itália deveria retirar imediatamente o sistema de mísseis Samp-T do território turco e comprometer-se a não vendê-lo à Turquia.
Continua, assim, o trágico teatro da política, enquanto na Síria o sangue continua a jorrar. Os que hoje ficam horrorizados com os novos massacres e pedem para bloquear a exportação de armas para a Turquia, são os mesmos que voltaram a cabeça quando o próprio New York Times publicou uma investigação detalhada sobre a rede da CIA, através da qual chegavam à Turquia, também da Croácia, rios de armas para a guerra camuflada na Síria (il manifesto, 27 de Março de 2013 e Réseau Voltaire). Depois de ter demolido a Federação Jugoslava e a Líbia, a NATO tentou a mesma operação na Síria. A força do choque era constituída por um exército agressivo de grupos islâmicos (até há pouco rotulados por Washington como terroristas) provenientes do Afeganistão, da Bósnia, da Chechénia, da Líbia e de outros países. Eles afluíam às províncias turcas de Adana e Hatai, na fronteira com a Síria, onde a CIA tinha aberto centros de formação militar. O comando das operações estava a bordo de navios da NATO, no porto de Alessandretta. Tudo isto é suprimido e a Turquia é apresentada pelo Secretário Geral da NATO como o Aliado “mais exposto à violência e à turbulência do Médio Oriente”.

il manifesto, 15 de Outubro de 2019

sábado, 30 de setembro de 2017

REFLECTINDO SOBRE O NACIONALISMO

Catalunha, País Basco, Escócia, Flandres, etc... São frequentes nos últimos anos os casos de nações europeias, incluídas à força dentro das fronteiras de um estado, que tentam separar-se do estado, obtendo a independência por meios democráticos. 

                                  Foto de Pepe Escobar.

Porém, a arquitetura da Europa da UE não é nada favorável, com a sua rigidez, com as suas burocracias meticulosamente repartidas entre seus estados-membros, com os seus tratados que têm como um dos principais aspetos a manutenção do status quo. Vemos a difícil separação da Grã Bretanha da UE, o famoso «Brexit». Estes movimentos centrífugos e de recusa do ultra-centralismo, quer seja ao nível de estados-nações, quer ao nível de super-estado (U.E.), têm sido mais vigorosamente expressos nas nações cujo território encerra indústrias ou recursos naturais que permitiriam uma economia viável, fora do conjunto nacional no qual se encontram incluídas. 
Noutros pontos do globo, como nas zonas habitadas por curdos da Síria, Iraque (com potencial para se alargarem para partes do território Turco e Iraniano), verificamos tentativas de avanço para maior autonomia no caso da Síria e para uma completa independência (Curdos iraquianos).  Os traçados de fronteiras artificiais resultantes da 1ª guerra mundial e do desmoronar do império otomano, são responsáveis pela situação, mas também o próprio princípio centralista dos Estados, concentrando ao máximo o poder político, administrativo e económico.
As proclamações da ONU sobre os direitos dos povos à autodeterminação e independência, que foram um importante  apoio à luta e ao triunfo dos movimentos independentistas anti-coloniais, implicava também uma aceitação tácita das fronteiras arbitrariamente desenhadas pelos vários colonizadores. Esta situação fez com que - em África - não existe (que eu saiba) nenhum estado, presentemente, cuja população seja etnicamente homogénea, longe disso. Há zonas de povoamento de etnias cortadas por fronteiras entre estados; há etnias que são muito hostis uma em relação à outra e - no entanto - são obrigadas a coexistirem dentro do mesmo estado, a viverem sob o mesmo governo. 
Os estados e organizações supra-estatais de âmbito regional (como a UE) ou internacional (como a ONU) são totalmente incapazes de se auto-reformarem de modo a que seja mais fácil e natural a separação de povos que vivem dentro de suas fronteiras nacionais. 
O federalismo, como era entendido pela República espanhola , tinha permitido uma larga autonomia das nações que a constituíam.  Os princípios federativos da URSS (embora a prática fosse coisa totalmente distinta) também permitiam uma larga autonomia e a independência, em princípio.
O federalismo de Proudhon e de Bakunin foi largamente inserido nos princípios da 1ª Internacional, que a 2ª Internacional (dos partidos social-democratas e socialistas) herdou. É porém notável verificar-se que os herdeiros (nominais) de tais organizações - como o PSOE - têm uma posição claramente centralista.
Os processos de desagregação dos estados europeus, ou de outras paragens, é sintoma de senescência destas estruturas. Porém, sua decadência pode durar vários séculos.
Estou convencido que a esclerose dos estados vai de par com um maior autoritarismo, o que equivale - na prática - a maior centralização. Nunca se viu uma deriva autoritária de um poder, que não fosse centralizadora. 
Pelo contrário, a descentralização verdadeira, ou seja, a aplicação dum federalismo autêntico, faz com que as uniões entre várias entidades acabam por ser mais sólidas e duradoiras porque não se revestem do odioso duma etnia a oprimir outra, ou outras. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

EXPERIÊNCIAS DE AUTOGESTÃO [23 Set. 18:30 - Fábrica de Alternativas - Algés]

                                     Foto de Fábrica de Alternativas.-

Uma sessão na Fábrica de Alternativas dedicada à luta e construção de alternativas na região de Rojava / Curdistão Sírio. 

Na primeira parte, serão fornecidas informações, na segunda será aberto um debate. Estão todos convidados a participar. 

Após o debate haverá um jantar vegetariano [ limitado a 30 lugares, inscrição prévia para quem deseja jantar, em:  fabrica.de.alternativas@gmail.com ]




sexta-feira, 21 de julho de 2017

TERRORISMO É UM CONCEITO, NÃO É UM FACTO OBJECTIVO

                               

Neste curto vídeo, vê-se Jean-Luc Mélanchon, líder da esquerda na Assembleia Nacional francesa, está numa comissão da mesma, a defender uma proposta para adoptar um texto do Conselho da Europa (não é um órgão da UE, inclui todos os países europeus, quer façam parte ou não da UE, incluíndo a Rússia, por exemplo). 
Este texto de resolução enquadra o dever dos Estados em combater fenómenos como DAESH ou EI (Estado Islâmico), não com o argumento de que são organizações «terroristas», mas sim como grupos de criminosos de delito comum. 
Apresenta, como exemplo de utilização ideológica da etiquetagem de tal ou tal organização como sendo «terrorista», o caso do PKK, partido comunista do curdistão turco. Ele tem estado numa lista de organizações ditas «terroristas». 
Porém, seria muito estúpido continuar a classificá-lo como «terrorista», quando tem estado justamente na vanguarda da luta contra o Estado Islâmico, na Síria, sendo portanto aliado das forças que combatem este grupo de bandidos armados. 
Por outro lado chamar «combatentes» a um grupo de bandidos que não estão a defender nada, mas apenas cometer actos criminosos contra populações indefesas, é uma forma de encombrimento. 
Mélanchon argumenta que, ao conferir-se ao EI um estatuto de «combatentes», está-se a dar-lhes uma dignidade que eles não merecem. Devem ser tratados como são: bandos de criminosos e assassinos.

A linguagem encobre, muitas vezes, os verdadeiros alinhamentos de pessoas, organizações, intituições, países: é - portanto - necessário revelar o que «está por baixo» duma designação particular, do uso uma determinada expressão, como é o caso de «guerra ao terrorismo». 

O terrorismo é um conceito, não é um facto objectivo! 

As expressões «terrorismo» ou «terrorista», são de tal maneira carregadas ideologicamente, que os textos legais deviam ser livres de tal linguagem. Caso contrário, cai-se inevitavelmente numa subjectiva interpretação do que é terrorista e do que não é. 

Lembremos que os poderes de Portugal fascista consideravam os movimentos de libertação das ex-colónias como «terroristas». 
Na verdade, estavam a dizer que não reconheciam estes como dignos de um determinado tratamento, quer como opositores políticos, quer como exército insurgente. Recusavam-lhes o direito de serem considerados como guerreiros inimigos, sujeitos às convenções de Genebra sobre prisioneiros de guerra. 

Contrariamente à definição de «terrorista» ou de «terrorismo», que é afinal uma designação utilizada conforme as conveniências do poder e/ou dos que o contestam, deve-se optar por criminalizar claramente grupos que não têm respeito nenhum pelos direitos das pessoas e populações. Aliás, eles não escondem que são visceralmente contra os Direitos Humanos. 

São grupos de ideologia viciosa, não baseada em qualquer espiritualidade vinda duma religião, embora usem como pretexto uma ideologia ou uma religião (que - em si mesmas - não podem ser responsabilizadas por tais comportamentos). Fazem-no, para encobrimento de crimes, que cometem sistematicamente.

Os crimes nas áreas que controlam, são numa escala maciça. Eles defendem e vangloriam-se dos mesmos nos seus meios de propaganda. Isto mostra que não se trata de um grupo de combatentes, mas somente de um bando de criminosos.

 Não são portanto combatentes, como seria o caso dum exército insurgente. Eles não combatem, nem por um Estado, nem por uma religião, ou por uma ideologia. Só se revestem dessa aparência para cometer crimes, são criminosos. 
O termo de «combatentes», aplicado aos criminosos do DAESH, segundo Mélenchon, está a legitimá-los indevidamente