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terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA E A ETIQUETA «FASCISTA»

ESTA ETIQUETA É DADA PELA MEDIA CORPORATIVA A TUDO O QUE VAI CONTRA A AGENDA GLOBALISTA.

Giorgia Meloni e os Fratelli di Italia podem ser conservadores e anti-imigração, mas estão longe de serem fascistas. O seu sucesso eleitoral  resulta da saturação do povo italiano pela destruição do seu modo de vida, pela burocracia globalista que lhes quer impor os seus «não-valores». Este partido conseguiu 26 % dos votos. Sendo o maior partido, pode formar governo com outras duas formações de direita (Forza Italia e Liga Norte ). Conjuntamente, terão uma maioria absoluta nas duas câmaras (deputados e senado). 

O principal problema que leva as pessoas a votar nestas formações tem  a ver com a sua sensação de que perderam o controlo sobre o seu próprio país, com as imposições da Comissão Europeia. Com efeito há dezenas de anos que tiveram de arcar, sozinhos, com as consequências das vagas sucessivas de migrantes vindos do Norte de África. De facto, o problema não é especialmente italiano, mas sim global. 

                                            Imigrantes ao largo das costas italianas

É um problema da responsabilidade de países ditos ricos e democráticos. Deveriam trabalhar sem paternalismos, nem ambições de neocolonialismo, com as instituições dos países de origem, para que haja uma solução para os problemas terríveis que assolam esses países. 

Em vez disso, como hipócritas que são, continuam com a sua ingerência permanente e com exploração das riquezas naturais desses países, mas sem os custos de países coloniais (como o foram no passado, muitos deles). 

Hipocritamente, aceitam os imigrantes económicos disfarçados em refugiados políticos, porque isso lhes permite ter mão-de-obra barata e precária nos setores desertados pelos trabalhadores de origem dos seus países. Muitas vezes, leis destinadas a acolher perseguidos políticos, servem de cobertura à aceitação indiscriminada de imigrantes económicos. A constante utilização do direito de asilo, em casos que não o são, obviamente acaba por fragilizar os verdadeiros asilados políticos. 

As economias de onde vêm os imigrantes, foram pilhadas e exploradas nas épocas colonial e neocolonial. Os problemas estruturais desses países são mantidos ou agravados pelas políticas das chamadas «democracias», que têm participado no processo de manutenção desses países sob tutela. Basta ver o que têm feito no Mali, no Burkina-Faso, na Líbia ou na Síria, e em muitos outros casos.

Quanto aos países que se tornaram pontos de acolhimento dessa migração do desespero, ficam com a estabilidade social, económica e política, postas em causa. A velocidade a que tudo ocorre, impede qualquer assimilação da população imigrada. Esta é mantida em guetos. 

As populações de origem, que vivem na proximidade desses guetos, encontram-se confrontadas quotidianamente com pessoas de outras etnias, de outras culturas. Isto faz com que aquelas se sintam acossadas e desenvolvam complexos racistas e xenófobos. 

Mas, os que, nos seus condomínios privados de luxo, nos seus bairros da classe alta, tomam as decisões - em Bruxelas, Berlim, Roma, ou Paris - não têm que partilhar o seu espaço com esses imigrantes. Não lhes custa pessoalmente nada mostrarem-se «virtuosos». Não lhes custa impor aos cidadãos do seu país, o acolhimento forçado de outras etnias e culturas. 

A verdade é que os imigrantes são um «exército de reserva», ou seja,  desempregados, disponíveis para as tarefas mais duras ou menos bem remuneradas, muitas vezes abaixo dos mínimos salariais e em condições de sobre-exploração. O estatuto de «clandestino» ou «ilegal», que aflige muitos, é mais um instrumento de pressão, para a classe patronal e para as autoridades do país em que trabalham.

Tanto na Suécia, como na Itália, estou convencido que os fatores principais da viragem à direita, foram o problema da imigração não-controlada e da agenda globalista, que os respetivos governos anteriores perseguiam. Aliás, os mais prejudicados são os mais pobres da população autóctone, os quais têm de aguentar a concorrência da mão-de-obra do exterior, sobretudo em empregos manuais (construção civil, restauração, etc.). 


                               Principais fluxos migratórios para Itália

A incapacidade de lidar com este problema é uma das razões porque a classe trabalhadora, seja na França, na Itália, na Suécia, etc. se tem desviado massivamente dos partidos de esquerda, os quais se reclamam de «origem operária», mas que se tornaram estranhos ao sentir dos trabalhadores. O mesmo se pode dizer dos sindicatos. O resultado, é que o voto na «extrema direita» é - cada vez mais - o voto das classes populares e o voto na «esquerda» é - cada vez mais - o voto das classes médias-superiores, com diplomas universitários e bons empregos.

Tenho visto pessoas ditas de «esquerda» negar a evidência, mostrando-se realmente incapazes de raciocinar. É tal o seu medo de serem consideradas «racistas» ou «fascistas»,  ou outra etiqueta do género, que são incapazes de pensar objetivamente e de encontrar caminhos para a resolução destes problemas. 

De facto, a oligarquia globalista é a única a beneficiar deste estado de coisas. Tem ao seu dispor uma massa de trabalhadores dóceis, não sindicalizados, que não se misturam com os trabalhadores autóctones, fragilizados e incapazes de fazer valer os seus direitos legais. 

O fenómeno também toca a Portugal: Veja-se a enorme quantidade de imigrantes vindos do Sul da Ásia, que estão a trabalhar na Costa Alentejana, em propriedades agrícolas e em estufas. 

Por outro lado, os oligarcas têm garantido o controlo dos diferentes países, ao nível político, pelas divisões criadas no interior da cidadania: as cidadanias desses países de acolhimento, digladiam-se em lutas fratricidas. Não sabem mais nada, senão chamar nomes de «fascistas» ou de «comunistas»! 

Por fim, a média que está sempre ao serviço do grande capital reforça - constantemente - os estereótipos. Ela é propriedade de grandes capitalistas, ou tem necessidade da publicidade, paga por esses mesmos capitalistas. 

Chamar fascista a Georgia Meloni e ao seu partido é o adjetivo fácil; mas, se a media em Portugal seguisse os mesmos critérios, seriam «fascistas» dirigentes do CDS-PP e PSD, partidos portugueses onde há /houve elementos das direções que foram fascistas, incluindo ex-membros do último governo fascista, derrubado no 25 de Abril de 74. E,  pela mesma lógica, seria fascista o PS, que teve como membro o Prof. Veiga Simão, ex-ministro de Marcelo Caetano*, que aderiu ao PS após o 25 de Abril de 74 e foi membro de governos pós-25 de Abril. O caso do Prof. Veiga Simão não é único - longe disso! - na «democracia portuguesa». 

Esta etiquetagem traduz o incómodo dos lacaios do grande capital, face a alguém que sai fora do «consenso» (fabricado por eles). Chamar nomes, como «populista», «extrema-direita» ou «fascista», esconde o facto deste governo se apresentar contra Bruxelas, contra a Comissão Europeia, pelos interesses fundamentais dos italianos. 

Resta agora ver se  o novo governo italiano está disposto a fazer frente às ingerências (que começaram antes da votação, com declarações de Úrsula von der Leyen), ou se cede perante a pressão conjugada dos globalistas europeus e americanos.

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*Presidente do Conselho de Ministros, que sucedeu a Oliveira Salazar. O seu governo foi derrubado pela revolução de 25 de Abril de 1974 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

A EUROPA, ELA PRÓPRIA, ESTÁ A CAUSAR A MAIOR CRISE ECONÓMICA, ENERGÉTICA E ALIMENTAR DE QUE HÁ MEMÓRIA

 Infelizmente, nunca tivemos dirigentes políticos e burocratas tão incompetentes (corruptos?) como agora. Na altura em que seria mais importante ter muita prudência, a eurocracia (Comissão europeia, Parlamento europeu, Governos da UE) - numa quase unanimidade - tem adotado medidas incomportáveis, que são causa próxima da revolta nos Países Baixos, de inflação incontrolada no espaço europeu e da descida do Euro face ao Dólar. E muito mais, que iremos ver em breve. 

Não digo isto por alarmismo; digo, com a certeza de que nos estão a empurrar para o abismo: O «Great Reset» implicaria rutura total da sociedade? Mas então, não seria uma «renovação», como proclamam, mas um recuo para tempos feudais (neo-feudalismo). Infelizmente, há muitos elementos preocupantes e demasiadas evidências, para que alguém sensato possa desqualificar isto tudo com a expressão displicente de «teorias da conspiração».

Desde há algum tempo, tenho observado - com espanto e preocupação - as medidas tomadas por esta pseudoelite, que parece estarem desenhadas, não para uma «transição energética», como gostam de cacarejar, mas antes para a TRANSIÇÃO PARA A POBREZA, A DESTRUIÇÃO IRREVERSÍVEL DO FRÁGIL TECIDO INDUSTRIAL, AGRÍCOLA E SOCIAL DA EUROPA.

Como é típico dos políticos medíocres, precisam de um «espantalho» (Putin!) para justificar tudo o que vai mal, tudo o que ponha em xeque a mirífica e cor-de-rosa «transição energética», incluindo a generalização de carros exclusivamente movidos a energia elétrica para 2035. 



NB: Os dois vídeos que selecionei são falados em francês. A legendagem automática pode ajudar quem tem maior dificuldade em seguir a conversa. Aconselho o seu visionamento, porque as questões são colocadas francamente e são respondidas sem demagogia. 

PS1 : Veja o comentário de Alexander Mercuris. Foi produzido ANTES de ter sido anunciada (hoje, 18/07/2022) a cessação de envio de gás russo via Gazprom para a Alemanha e mais dois países europeus.  Parece que estava convencido que isto iria acontecer, inevitavelmente: 


PS2: Veja a entrevista realizada por Freddie Sayers, a Louis Gave AQUI: 

«How the West brought economic disaster on itself »

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

NADA, ABSOLUTAMENTE NADA.

Sinceramente, não gosto mesmo nada do regime instaurado na Bielorrússia. Mas, perante os polícias polacos que estão a bloquear a saída de refugiados de guerras causadas ou onde tiveram papel as potências europeias ocidentais em aliança com os EUA, o que dizem os defensores dos direitos humanos ocidentais? Nada, absolutamente nada.

O que dizem os defensores dos direitos humanos, sobre o que se está a passar na Áustria, perante a óbvia instauração por ordem do governo, duma espécie de «gulag» para os não-vacinados. Uma ordem que os coloca num estatuto de «infra-humanos» (retiram-lhes mesmo os direitos mais elementares)? Nada, absolutamente nada.

O que dizem os defensores dos direitos humanos sobre os ocultados massacres americanos na Síria, de centenas de crianças e de mulheres e outros crimes de guerra? Nada, absolutamente nada. 

Há vários anos que a guerra no Iémen destrói este país. 

Ela é apresentada como «conflito interno», porém as forças pró-governamentais são reforçadas por contingentes sauditas e dos emiratos. Têm apoio ocidental (britânicos, americanos, franceses, etc.) em armamento, «conselheiros», mercenários, tropas especiais. O que dizem os membros de organizações que inscrevem a paz e os direitos humanos nos seus estatutos e programas? Nada, absolutamente nada.

Conclusão: 

- Se não dizem nada, absolutamente nada, são claramente coniventes com esses crimes. 

Escolhem encobrir estes crimes e denunciar seletivamente outros. Estes últimos, até podem ser reais, até podem ser muito graves. 

Porém, a credibilidade da denúncia, a razão verdadeira dos protestos, a sinceridade da solidariedade, ficam logo postas em dúvida, senão mesmo, desmascaradas pelos próprios, ao encobrirem, dum manto de silêncio, os horrores que os seus Estados cometem. 

Ao não mexer um dedo nestes casos, enquanto fazem campanhas obstinadas para denunciar crimes (reais ou supostos) cometidos por regimes noutras partes do Mundo, negam-se a si próprios enquanto defensores dos direitos humanos. 

Não agem, quando as circunstâncias o justificam, junto dos seus governos e opiniões públicas: Mas seria aí, onde poderiam ter maior eficácia. 

A sua verdadeira agenda é outra, não é o interesse genuíno pelas pessoas oprimidas. Antes, estão a utilizar diversas situações como pretexto para fazer campanha contra certos regimes. 

São o «braço civil» na guerra híbrida levada a cabo pelo «Ocidente», pelo «Império» dos EUA, contra todos os que não lhe são submissos. 

Estas ONGs são generosamente subsidiadas por agências especializadas, como a NED (dos EUA), ou «programas» de instituições europeias (Parlamento Europeu, Comissão Europeia, etc.), da ONU e de suas agências. 

Não são a expressão da «sociedade civil», autonomamente organizada, como querem fazer crer: São totalmente dependentes no plano financeiro (e portanto, também no plano da ação política) de governos ou magnates como George Soros («Open Society Foundation»). 

Se alguém duvidar da veracidade do que afirmo, que investigue por si: verá que não estou a exagerar.

PS1: Leia AQUI a transformação da Austrália em pesadelo fascista. Outro caso em que a atitude dos defensores dos direitos humanos ocidentais se resume a nada, absolutamente nada!

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

UMA ECONOMIA EUROPEIA ZOMBIFICADA...


 As pessoas em geral, mesmo as que se informam sobre o que se passa na economia europeia, não fazem ideia disto: cerca de 550,000 firmas alemãs, numa economia que se portou razoavelmente em relação à crise do coronavírus, estão na categoria «firmas zombies» segundo estudo da agência de crédito Creditreform. O fenómeno é similar na Suíça.

Uma empresa é considerada zombie quando a sua sustentação - durante largo período de tempo - depende de conseguir crédito no mercado para cobrir os juros de outros empréstimos que já contraíra, ou seja, em que os rendimentos líquidos de sua actividade são insuficientes para pagar os juros de empréstimos. Para fazerem face às obrigações, em termos de crédito, continuam a ir obtendo - junto da banca ou junto do Estado - «dinheiro fresco», que vão gastando, sem que a situação se modifique para melhor. 

A política do BCE (Banco Central Europeu) de fornecer crédito a juro praticamente zero, à banca comercial, durante todo o tempo desde a Grande Recessão de 2008-2009, teve como consequência que a banca comercial aceitava emprestar a firmas que não preenchiam as condições para obter um empréstimo, em situação normal dos mercados. Isto é, a banca comercial sabia que muitos empréstimos às empresas acabariam em crédito mal-parado, mas contava com o amparo do BCE e dos Estados, que não deixariam, que fariam tudo para impedir, que estas instituições de crédito, sobretudo os grandes bancos ditos «sistémicos», declarassem falência.   

Temos assim exemplos de empresas que acabam por ser resgatadas da falência várias vezes, pelo respectivo Estado, como a espanhola Abengoa, resgatada 3 vezes em 5 anos.

O mesmo se passa em Portugal, em Itália, na Grécia e também noutros países da União Europeia, de economia mais «forte». Nestes últimos, pelos vistos, a situação tem tendência a regredir ao nível dos chamados «PIGS».

A crise iniciada com o «lockdown», que destruiu irreversivelmente um grande número de pequenas empresas, também levou os Estados a encontrar «habilidades» para manter toda a espécie de empresas em funcionamento e evitar/adiar despedimentos em massa dos trabalhadores.

Não se pense que o Reino Unido, recém saído da UE, esteja melhor. As companhias «zombie» britânicas representam um terço do total europeu. São 20% em relação à totalidade de companhias do Reino Unido, tendo esta percentagem crescido de 4%, desde Março. Nos sectores mais atingidos, na Grã-Bretanha, a percentagem de zombies atinge os 26%.

A emissão de dívida ao nível mundial, por companhias que estão abaixo do nível de investimento, aumentou imenso, tendo atingido, nos 8 primeiros meses deste ano, o equivalente a todo o ano de 2019.

Isto significa que se vai para uma economia europeia e mundial zombificada, ou seja, em que as empresas não são capazes de gerar rendimento líquido suficiente para cobrir os juros das dívidas, mas são mantidas «a flutuar», graças à política coordenada dos bancos centrais e dos governos, forçando  a descida dos juros para valores próximos de zero. 

Neste contexto, a contracção da economia é inevitável pois, segundo investigadores do Banco BIS de Basileia, para cada aumento de uma unidade percentual do número de firmas zombie, vai haver um decréscimo de 0.25% na taxa de emprego e uma diminuição de 17% na taxa de investimento de capital. Estes valores são compreensíveis, dado que a maioria das empresas zombies têm uma produtividade reduzida e que os capitais investidos nelas não serão aplicados noutras empresas e sectores, que poderiam gerar retornos positivos.

A multiplicação desta situação dos Estados - directa ou indirectamente - sustentarem empresas zombies, tem tendência a acentuar-se, no curto prazo. Tal não deixará de ser factor preponderante na criação dum clima de marasmo, de deflação. 

Por outro lado, os governos - a braços com uma crise de desemprego monumental - vão pôr em marcha um «salário mínimo para todos» como foi anunciado hoje por Ursula von der Leyen, que preside à Comissão Europeia. Isto significa que os valores do trabalho e das pensões serão completamente submersos pelo dinheiro «grátis» desse salário mínimo para todos. Isto vai significar uma entrada da Europa numa espiral de hiperinflação, ainda mais cedo do que eu previa. Com efeito, as necessidades do comum dos mortais serão satisfeitas com dinheiro «fresco», saído dos «fornos da BCE», mas o resultado é que - perante a mesma quantidade, ou uma diminuição dos bens disponíveis no mercado - os preços vão aumentar. Quanto ao dinheiro capturado pelos investimentos especulativos, desde as acções e outros produtos financeiros, até a certos sectores do imobiliário, servirá para uma hipertrofia das bolhas, uma «histerese». Aliás, isso verificou-se com as hiperinflações no Zimbabue e na Venezuela; em ambos os casos, os valores bolsistas subiram a alturas nunca antes vistas.

Talvez a Comissão Europeia e os Governos pensem que assim irão mitigar a crise (que eles próprios provocaram com o lockdown). Mas, eu não vejo uma saída, que não passe pela destruição daquilo que pesa, para que se dê um renovo económico e social, com aquilo que tem futuro. 

A minha previsão é que esta política irá conduzir à ruína completa das pequenas empresas, ao quase desaparecimento da «classe média» e à acumulação de capital nas mãos de uma oligarquia ainda mais reduzida (neo-feudalismo). 

O «grande renovo» (great reset) que os poderes que controlam a UE desejam será financeiro, monetário, feito por e destinado a beneficiar os 1%. Mas, não será solução para os problemas estruturais; estes, apenas se resolvem com uma nova base para a economia, centrada nos valores da equidade, liberdade e iniciativa. 


segunda-feira, 20 de maio de 2019

AS ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO EUROPEU E A ESQUERDA EUROPEIA

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Este texto de reflexão dirige-se - em particular - às esquerdas que, de uma forma ou de outra, acabaram por ficar «apanhadas» pelo jogo eleitoral, tendo sempre adoptado o ponto de vista de que «é necessário fazer oposição por dentro», aos desígnios das burguesias nacionais e transnacionais, dos grandes grupos económicos, que são os verdadeiros patrões desta União Europeia.
 Acontece que esta União Europeia é irreformável, não há maneira de a transformar em algo minimamente democrático, segundo os padrões de democracia representativa comummente aceites. Não irei aqui recapitular os argumentos que dei anteriormente, num artigo deste blog. 
Basta-me, desde já, referir que as formas de actuação acima evocadas podem, no melhor dos casos, ser protagonizadas com sucesso ao nível duma nação, ou seja, duma entidade política cujo povo partilha fortes vínculos (históricos, culturais, económicos, linguísticos, etc). 

Acredito ser possível que, ao nível do parlamento de um país, estejam representados os diversos interesses, corporizados por partidos e coligações dos mesmos, que exprimam - de forma não directa, porém, aproximativa- a vontade dos seus eleitorados respectivos. 
Nestas condições, um parlamento poderá corresponder às expectativas do povo. 
Os processos que se observam nas democracias parlamentares típicas - da preparação das listas de candidatos dos partidos e coligações concorrentes, à campanha eleitoral, à votação, até à formação dum governo - têm a sua validação própria. A legitimação profunda de todo o processo,  para além da  sua conformidade com trâmites formais e constitucionais, assenta na possibilidade do povo controlar o comportamento das forças políticas, verificar se estão a fazer o que se propuseram fazer, se estão a agir de acordo com as promessas... 
Não sou ingénuo, pois sei que não chega estar instaurado este tipo de regime, para que tudo role sobre rodas. 
Porém, os que formam o grosso dos candidatos às eleições «não vêm outra alternativa» a este tipo de democracia. Hoje em dia, pode-se englobar nesta categoria praticamente todos: mesmo os que se reclamam de uma tradição revolucionária, submetem-se, como os restantes, a este jogo de «cadeiras musicais», chamado «democracia parlamentar». 

Ora, um parlamento como o europeu, tem um pressuposto e funcionamento substancialmente diversos dos parlamentos nacionais. Tem as aparências da democracia representativa, e com isso engana muita gente:
- Todos sabem que as campanhas ocorrem com listas nacionais e que o número de deputados a eleger, por país, reflecte mais ou menos a população do mesmo. Porém, os grupos que se formam, após eleições, são formados com base em famílias políticas, agrupando deputados europeus de várias nacionalidades. 

- Os parlamentos nacionais debatem e votam o orçamento das respectivas nações. Porém, o orçamento europeu é apenas ratificado pelo parlamento europeu. Se, por hipótese, uma proposta de orçamento da Comissão europeia fosse chumbada, o parlamento europeu, ou um grupo dentro deste, não poderia propor outro orçamento alternativo.
- O mesmo se passa com as leis: os parlamentos nacionais são os locais onde se propõem, discutem e votam leis.
No parlamento europeu, aprovam-se, ou não, propostas de leis da iniciativa da Comissão Europeia, órgão não eleito, ou do Conselho Europeu, formado pelos chefes dos executivos dos países da UE. 
Nenhum grupo parlamentar europeu pode avançar com uma proposta legislativa própria e submetê-la à discussão e votação no parlamento. 

- Num parlamento nacional, apesar de possível existência de partidos regionalistas, o sistema é vocacionado para dar voz às correntes com expressão nacional; a política faz-se sobretudo com organizações políticas de âmbito nacional, onde coexistem pessoas oriundas das várias regiões do país. 
No parlamento europeu, as forças políticas nacionais tendem a alinhar pelos interesses do seu próprio país (ou daquilo que julgam ser esse interesse), mesmo que estejam em total contradição com os de outras nações da UE. 

O sistema é pesado, burocrático, dispendioso e -além disso - fora do escrutínio do eleitor, ao contrário do que se passa nos parlamentos nacionais. 
É contraditório com o princípio da soberania popular, pois esta só se pode exercer no quadro duma nação, transformando assim os parlamentos nacionais, de centros da democracia parlamentar, em meras caixas de ressonância dos poderes europeus. 
Com efeito, a legislação europeia, as directivas são redigidas, ou pela Comissão Europeia, ou pelo Conselho de Europeu, sendo o papel do parlamento europeu o duma espécie de «câmara de registo». 
Uma vez que uma directiva, ou lei europeia, esteja aprovada, ela tem de ser transposta para a legislação nacional em cada país-membro. Caso não o seja dentro de determinado prazo, esse país terá de pagar multas. 
Assim, as legislações dos diversos países estão «invadidas» por legislação europeia, produzida fora do âmbito nacional, duma forma anti-democrática, sob todos os prismas. Trata-se da forma disfarçada de ditadura imperial imposta pelos órgãos executivos da UE. 
Dentro destes órgãos executivos, o peso dos grandes países, mais poderosos, acaba por prevalecer sempre. De facto, o parlamento europeu surge apenas como um órgão que dá o aval e «verniz democrático» às políticas europeias.
Não se vê como estes processos possam ser transformados «por dentro», como defende uma certa esquerda, que apenas deseja convencer-se a si própria (ou seus adeptos), pois os seus dirigentes sabem que os tratados, que regulam todo o funcionamento da UE, tornam quase impossível uma reforma. As  estruturas e regras de base do seu funcionamento são irrevogáveis na prática, pela obrigatoriedade de unanimidade ou de maioria qualificada. Foi intencionalmente que construíram assim os textos dos tratados; para haver impossibilidade prática de reforma. 
Muitas pessoas de esquerda, de várias sensibilidades, em vários países da UE, percebem que a soberania popular é apenas possível se esta for exercida a nível nacional. 
Ora, se é do povo que emana toda a legitimidade, a construção europeia enferma dum «pequeno problema»... o de arredar os povos dos processos de decisão. 

Portanto, o modelo da UE não é confederal ou federal, mas antes um modelo especialmente desenhado para servir os «grandes poderes», os grandes grupos transnacionais, financeiros e industriais.  Os próprios dirigentes políticos dos países mais fortes estão no poder graças a eles e fazem a política que a esses grupos convém.  
Assim, os grandes poderes detêm um controlo total sobre os aspectos mais relevantes das políticas europeias, desde a política económica, passando pelas políticas de imigração e controlo de fronteiras, até à construção duma força militar europeia. 

terça-feira, 2 de abril de 2019

A UNIÃO EUROPEIA FALIDA E EM DESAGREGAÇÃO QUER IMPOR O «SEU BREXIT»


Em todo este processo conturbado, as classes políticas do Reino Unido e da eurocracia que reina em Bruxelas, saem obviamente chamuscadas no seu prestígio, ao ponto de ser questionável a sua legitimidade formal. Quanto à legitimidade efectiva, nunca a tiveram, visto que esta construção não respeita - de facto - a vontade dos povos, como se verificou no referendo de 2005 e em muitas outras ocasiões.

O que a media «mainstream» não diz, embora encha as primeiras páginas com as peripécias do «brexit», é que o Reino Unido se tornou um elemento chave na geoestratégia dos EUA, em ter um aliado muito submisso, no seio de aliados que (por vezes) se rebelam (como tem sido o caso da Alemanha).

Por isso, existem muitos, que são defensores dum tipo de globalismo, mais amplo ou mais estreito, que consideram que o brexit é um passo bem-vindo.
 Estou a referir-me quer aos defensores de um bloco unido continental, retomando a ideia de De Gaulle, da Europa como terceira potência, capaz de arbitrar rivalidades entre os EUA e a URSS, quer os defensores duma unidade ainda maior no mundo anglo-americano (os «cinco olhos» Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia):  em ambos os casos, trata-se de globalistas que correspondem a um conjunto de interesses divergente.

Também não se pode colocar, dum lado as forças pró-capitalistas e as anti-capitalistas do outro. 
Basta olhar para a City de Londres, um conglomerado de bancos e doutras instituições financeiras com imenso poder, ela própria um paraíso fiscal, e o centro coordenador dos diversos paraísos fiscais, sob bandeira britânica ou da Commonwealth. 
Muitos negócios da City - bastião do capitalismo financeiro mundial, com a mesma importância que Wall Street - arriscam-se a ir por água abaixo, pois eles dependem dos capitais do continente europeu que aí se abrigam, segundo estimativas credíveis, seriam da ordem de 60%! Um naco desses capitais continentais acabará por retornar ao continente ou irá para outras paragens. Quanto aos negócios muito lucrativos que se desenrolam, até agora, na City, muitos deles deixam de ter viabilidade.

A ideia de que a saída de um país da União Europeia constitui um avanço para as forças conservadoras, nacionalistas, em todos os países membros, também é falsa.
Esta ideia é propalada por ideológos, particularmente de esquerda, segundo a qual toda e qualquer defesa da ideia de nação, de interesses nacionais, de defesa da soberania, é «reaccionária», «fascista», etc. 
Com efeito, se a União Europeia se transformou numa prisão de povos, num império em construção, onde a vontade dos povos é sempre posta de lado de cada vez que contraria os desígnios da elite eurocrática (seja ela de esquerda, de direita ou de centro), então a ruptura torna-se um passo necessário para construir uma autonomia e que os povos se auto-determinem em relação ao regime político e económico, que desejam adoptar. 

A imposição de uma saída negociada, não é mais do que a salvaguarda do interesse dum grupo de multinacionais, baseadas no continente europeu, assim como de certos bancos continentais realmente globalizados, que, na realidade, têm grande parte do negócio fora do país de origem (pense-se no Deutsche Bank ou no Santander).

Os argumentos relacionados com a Irlanda do Norte ou com lutas internas pelo poder dos Trabalhistas de Jeremy Corbyn e  dos Nacionalistas escoceses contra os Tories, são a mera superfície, são o mero espectáculo,  para entreter as «massas». 
O verdadeiro actor deste imbróglio é o capital internacional, o qual ainda não está tão unificado como parece. Com efeito, nesta situação, em particular, observa-se a entrada em contradição de capitais, já não nacionais, mas antes de facções do capital financeiro globalizado, umas contra as outras. Evidentemente, estas facções nunca aparecem à superfície, quem faz a guerra (num sentido não figurado, por vezes) são os partidos políticos, são as cadeias de media (controladas por grupos capitalistas) e os eleitorados (por ambos aqueles controlados). 
O público julga que isto corresponde ao «exercício da democracia», não se apercebendo que estão a «comer-lhe as papas na cabeça» ou seja, a levá-lo a pensar e agir no interesse dos grandes grupos transnacionais. Ele fica ingenuamente convencido que está a afirmar os seus direitos, a soberania, suas escolhas, etc...

Se, ao menos, uma corrente anti-capitalista compreendesse o que se está a passar, poderia denunciar e agir autonomamente, no sentido de fazer avançar a sua agenda própria. 
É um paradoxo trágico que, aqueles mais interessados no desmascarar destas manobras, se deixem iludir pela propaganda! 


domingo, 9 de dezembro de 2018

BREXIT, COM OU SEM ACORDO, EIS A QUESTÃO

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Na próxima terça-feira 11 de  Dezembro haverá, em princípio, a votação do acordo negociado por Theresa May com a Comissão Europeia e cuja conclusão originou uma grande celeuma, inclusive nas fileiras do Partido Conservador, causando demissões no próprio gabinete e havendo uma oposição interna nos deputados do partido conservador. 
A votação poderá ser adiada, por manobra dos apoiantes de Theresa May, que assim esperam obter algum semblante de concessão suplementar dos eurocratas de Bruxelas. Mas isto apresenta-se, desde já, como altamente improvável. 
Se não houver adiamento da votação, o mais certo é o acordo ser rejeitado, por votos conjugados da oposição trabalhista, dos deputados Tories rebeldes e do partido unionista (da Irlanda do Norte).  
Com efeito, os trabalhistas terão vantagem em provocar uma eleição geral antecipada, os Tories descontentes não querem arcar com a responsabilidade de um acordo, segundo o qual, muitas prerrogativas do império de Bruxelas e inclusive legislação comunitária, vão continuar por largos anos, na transição... por fim, os unionistas pretendem mostrar que existem e que a fronteira do Ulster será, de novo, a linha de demarcação das duas Irlandas... 

Porém, a conjugação destes interesses parciais está a criar obstáculos à «elite» dos negócios, que se acantona na «City» de Londres, mas com ramificações em todas as praças financeiras da Europa e controlando muitos paraísos fiscais, desde as ilhas do canal (Ilhas Jersey, Man, Wight...), ou Gibraltar, ou ainda, as ilhas e arquipélagos das Caraíbas sob domínio da Coroa Britânica... 
Para esta elite da finança, o fluxo permanente de capital vindo do continente europeu é demasiado importante, vital mesmo. Têm feito tudo o que está em seu poder para conseguirem a manutenção da liberdade total de circulação dos capitais entre a Europa continental e a Grã-Bretanha e todos os seus domínios. 
É este o verdadeiro motivo pelo qual o governo de May se bateu e se bate com tanta energia para fazer aceitar o acordo obtido com a Comissão Europeia. 
Nesta luta há interesses contraditórios, há capitalistas britânicos que pensam que têm mais a perder do que a ganhar, com o arranjo agora conseguido. Haverá forças apostadas num isolacionismo - maior ainda - das ilhas britânicas, convencidos que, havendo uma abertura grande no que toca aos negócios, a Grã-Bretanha terá dificuldade em manter a porta fechada no que respeita à emigração do centro e leste europeu. Não se esqueça ter sido esse o motivo principal pelo qual muitos desses britânicos votaram pelo Brexit. 

Do ponto de vista da estabilidade do poder político, não se poderá esperar uma reviravolta muito ampla, dado que dentro do partido trabalhista existem fortes divisões também e numa eventual eleição antecipada que desse uma maioria ao Labour, haveria forças contraditórias a Jeremy Corbyn, o qual considerou que não se deveria voltar atrás no voto do «Brexit».

Portanto, com ou sem May, a saída da Grã Bretanha será uma realidade, com mais ou menos peripécias de negociação. 

Do lado dos burocratas de Bruxelas, não há dúvida de que querem fazer com que o divórcio seja o mais penoso possível, para dar o exemplo a outras nações tentadas a ir pela mesma via... Mas, no fundo, uma parte deles deve estar muito contente. 
A predominância de Frankfurt como principal praça financeira da Europa, diminuindo o papel da City, será um dos motivos disso. 


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A TRAGI-COMÉDIA DO BREXIT

                        

Conforme eu tinha vaticinado há alguns meses, as forças centrífugas predominam nas fileiras pró-governamentais da Grã-Bretanha. Teresa May conseguiu um acordo de saída da UE que tem tudo para enfurecer uns e outros: uns, que votaram a favor do brexit, porque o acordo mantém em vigor muitas das leis e disposições que estiveram na base do descontentamento que levou ao voto no brexit. Outros, os pró-UE, que vêem que a associação com a UE vai continuar, apenas sem possibilidade dos britânicos terem voz e influência no seio dos órgãos de poder da mesma. 

Consequência imediata, 4 ministros do governo May demitiram-se, incluindo o próprio ministro encarregue do brexit. Se eu compreendi, o que se segue será que Theresa May deverá submeter ao parlamento um novo gabinete, que deverá votar - ou não - a nova composição do mesmo. Em alternativa, Theresa May pede à Rainha a dissolução do parlamento e eleições antecipadas.   
Os negócios em geral, especialmente os novos investimentos, serão afectados, pois este cenário deverá conduzir a um período de incerteza. 
Os EUA, que sempre contaram com o Reino Unido como o «cavalo de Tróia» dentro da UE, serão beneficiados no imediato, em termos de taxas de juro das suas «treasuries» e dum aumento do dólar, visto a instabilidade no continente europeu desencadear sempre um «reflexo de protecção» dos capitais em direcção aos EUA. 
A UE, ou melhor, aquilo que resta da UE, será mais frágil, apesar da Comissão Europeia ter averbado uma vitória parcial nestas negociações. Mas esta vitória pode transformar-se rapidamente em «vitória de Pirro», pois também não vejo este resultado como dissuasor de outros países seguirem as pisadas da Grã-Bretanha. 
A incapacidade da UE se definir como um super-estado federal, devido a razões profundas, não devido a caprichos de seus dirigentes, está na raiz de todos os problemas. 
Se não existe uma moeda comum sólida é porque a Alemanha se  negou sempre a colectivizar as dívidas soberanas europeias, porém tem arrecadado - em anos sucessivos - superávits que apenas são possíveis em face dos défices dos seus parceiros de «união». 
A inoperância das instituições europeias faz com que não existam condições, apesar de múltiplas tentativas, de forças armadas comuns dos países da UE, nem mesmo dentro dum «pilar europeu»  da NATO. Esta aliança militar mantém bases americanas um pouco por todo o continente, sendo um processo de «racket» sobre os destinos políticos e a economia europeias, embora a retórica seja de que os americanos estão no continente europeu para «proteger» os seus aliados. 
As oligarquias do poder e dos negócios que dirigem o continente, querem uma UE assim como está; um colosso em termos de população, de economia, de inovação, ciência e cultura, mas um anão militar e diplomático... É isso que lhes permite melhor controlar as massas, encurraladas nos seus países respectivos, ao contrário dos capitais que fluem livremente, não apenas entre países da UE, como atravessando sem restrições as fronteiras virtuais do espaço europeu.
A City de Londres constituiu-se, desde a adesão da Grã-Bretanha à CEE, como um imenso centro de lavagem de dinheiro, de fuga ao fisco dos países continentais e como coordenador doutros paraísos fiscais nas Caraíbas e também nas ilhas do Canal da Mancha.
Não me admirava que o acordo agora alcançado seja o que preserve ao máximo esse papel da City. 
A questão da existência ou não de uma fronteira física separando a Irlanda do Norte da República da Irlanda, por muito importante que seja para as pessoas e para a economia local, pode considerar-se a questão-pretexto que interessa agitar junto das opiniões públicas, para melhor calar aquilo que estava realmente em jogo: a manutenção dos privilégios exorbitantes e  descontrolo completo dos fluxos de capitais que passam pela City de Londres.

Enquanto não houver uma profunda tomada de consciência das pessoas, elas serão manipuladas, sobretudo usando-se a corda sensível do nacionalismo, para serem levadas a aceitar passivamente a continuação de uma oligarquia política, económica e financeira, ao comando dos seus países respectivos. 
A UE tem proporcionado, no fundo, as condições para a classe no poder exercer uma ditadura disfarçada, com o famoso TINA (There Is No Alternative!) 

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

UMA «UNIÃO» EUROPEIA EM DESAGREGAÇÃO

A imagem que me ocorre quando reflicto nos processos que se verificam actualmente na União Europeia, é a de arribas ou falésias, em que as bases são escavadas pelo mar, as fissuras no calcário das arribas vão-se alargando e - de tempos a tempos - um enorme bloco deixa de ser capaz de se sustentar e cai ao mar ou na orla costeira. 

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Aqui, na minha analogia, os blocos representam nações: no estádio mais avançado da desagregação está a Grã Bretanha e seu doloroso e incerto «brexit». 
Mas o processo de fragmentação existe também a Leste, com o grupo de países (Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia) que recusa a política de migração imposta pelos poderes dominantes da UE. 
Outro grupo problemático é o dos países com défices e dívidas públicas excessivos. Estes incluem vários países do Sul: Grécia, Itália, Espanha e Portugal. 
Nestes países, a crise do tecido económico com desemprego de massa, resultante da austeridade imposta desde Bruxelas, engendrou uma profunda crise social. 
A Itália tem um governo, resultante de uma coligação heterogénea, mas que está decidido a fazer frente às exigências de um «Euro-grupo», dos comissários e doutros burocratas que, afinal, não representam senão a vontade da oligarquia instalada na mecânica eurocrática.  
Tudo se conjuga, neste dia 29 de Outubro, para que a Itália veja rejeitado o seu orçamento pelos todo-poderosos comissários da UE. 
Porém, ao contrário do que certa imprensa propala, papagueando o discurso dos eurocratas em Bruxelas ou de quem os apoia ao nível local, a Itália tem boas razões para manter tal orçamento, moderadamente expansionista, num contexto em que a crise social, iniciada com a grande recessão de 2008, permanece - 10% de desemprego - gerando ou aprofundando fenómenos inquietantes como racismo, xenofobia, etc. 
O rigor contra Itália explica-se como uma espécie de retaliação pelo facto do seu governo não aceitar as políticas migratórias instituídas pelos poderes centrais. 
Com efeito, o seu orçamento com um défice de 2,4% apresenta uns 0,4% acima do que os comissários de Bruxelas achavam sustentável, porque a dívida pública italiana excede 132 % do PIB. Mas, por outro lado, um orçamento moderadamente expansionista é necessário para desencadear um maior consumo nas camadas que foram mais afectadas pelos dez anos de depressão que atravessamos. 
Se houvesse um mínimo de boa vontade, não iriam ser colocados demasiados obstáculos à Itália, até porque o seu governo tem uma legitimidade muito maior do que os senhores de Bruxelas. 
Mas, aqui joga-se um jogo que visa intimidar, dar o exemplo: «se te portas mal, olha o que te acontece». O comportamento da UE em relação à Grécia, em 2010-2014, seguiu este padrão. 
O que se está a passar com o «brexit» igualmente, embora as responsabilidades do péssimo governo de Theresa May também sejam enormes. 
A média económica põe em realce a subida dos juros das obrigações soberanas italianas: porém, deveria também realçar o facto de que as obrigações soberanas (a dívida emitida pelos estados) de todos os países do sul foram compradas sistematicamente pelo BCE, durante mais de 6 anos (2012 -2018) e distorceram o mercado da dívida destes países, até valores de juros irrisórios, totalmente artificiais. 

Creio que a miopia da eurocracia no poder vai arrastar a Itália para a ruptura. Mas a Itália tem muitos trunfos; tem potencial na indústria, no comércio, no turismo. Terá, com certeza, muitos parceiros económicos (dentro e fora da Europa) com os quais poderá estabelecer acordos mutuamente vantajosos.   

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA SAÍDA NÃO NEGOCIADA DO REINO UNIDO DA UE?

                         

A cimeira de Salzburgo, na semana passada, para tentar aplanar problemas na negociação entre o governo britânico e a Comissão europeia, saldaram-se por um fracasso. Pior ainda, Theresa May saiu do encontro com a sensação de que a Comissão europeia não está a tomar a sério a posição do seu governo. 
Por outro lado, observadores com diversas inclinações políticas, apontam incoerências ao governo britânico. 
Embora o governo britânico queira fazer passar a mensagem de que a Comissão europeia não deseja verdadeiramente negociar, isso não é verdade
Esta Comissão propôs que a Grã-Bretanha integrasse o grupo da Área Económica Europeia, grupo que inclui a Noruega e a Islândia. 
A reacção da chefe do governo britânico foi de que isso seria trair o voto do Brexit. 
Seis meses depois, o governo britânico rejeitou outra proposta da Comissão, para um acordo de comércio. De novo, o governo da Grã-Bretanha, recusou pois queria apenas uma livre circulação de mercadorias, não dos serviços e muito menos de pessoas. 

No caso de não haver acordo, a saída acontecerá em Março de 2019, sem que se saiba ao certo como é que os muitos europeus continentais continuarão a trabalhar no Reino Unido. Provavelmente precisarão duma autorização de trabalho. 
-Os bens alimentares, importados em grande parte da União Europeia, sofrerão aumentos bruscos, pois serão aplicadas tarifas da ordem dos 22%, o que originará graves perturbações.
- Outros domínios susceptíveis de perturbação, vão do tráfego aéreo, passando pela comercialização de medicamentos, até às normas do manuseamento e transporte de materiais radioactivos.
- Uma fronteira «rígida» (hard border) poderia ser instalada entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.  
É difícil prever todas as perturbações no sector financeiro, «a City» e como iriam dar continuidade a toda uma série de serviços. 
A ruptura não ordenada iria fazer com que vários negócios, com importante clientela do continente europeu, se retirassem do Reino Unido antes de sofrer (de um e doutro lado) toda uma série de restrições, de impostos e tarifas... 

«Querendo guardar o bolo e comê-lo simultaneamente», ou por outras palavras, querendo que o Reino Unido usufrua de privilégios e não sofra contrapartidas, o governo britânico tem estado a negociar da pior maneira possível, arrastando o seu país para uma crise.

No curto prazo, quem ganhará com isso será o dólar e Wall Street. A libra esterlina e o euro sofrerão inevitavelmente. Em termos de captação de negócios tanto a City, como Frankfurt e outras praças financeiras do continente, ficarão a perder. 

Se o governo britânico der o dito por não dito, desautoriza-se perante a ala mais dura dos Tories e do eleitorado conservador. Se teimar com as mesmas posturas até ao final das negociações, arrisca uma saída sem acordo e todas as consequências acima apontadas. 

 É provável que, perante tão grande inabilidade ou casmurrice, financeiros e grandes industriais do Reino Unido queiram afastar May da chefia do governo.

Se houver eleições antecipadas em Novembro, isso não quer dizer que prevaleceu a vontade de Theresa May, antes o contrário: de que foi pressionada no interior do seu partido e pelo sector dos negócios (sobretudo o sector financeiro) e não lhe deram outra escolha. Assim, isso será a maneira de provocar a saída do desastroso governo Tory.

domingo, 3 de junho de 2018

PORQUE É QUE A UNIÃO EUROPEIA NÃO TEM FUTURO

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Num contexto de crescimento vigoroso, como foi o caso da década de 90 e até à década seguinte, interrompido pela crise mundial de 2007-2008, era fácil à oligarquia eurocrática impor o seu modelo de «governança» ao povo europeu, mesmo à custa de uma série de entorses à democracia, da qual ela se diz a maior defensora. Lembremos os casos dos referendos irlandeses, dinamarquês e, sobretudo, os dois sucessivos «não» à Constituição europeia, em França e na Holanda. 
As oligarquias não descansaram enquanto não encontraram um meio para subverter o sentido do voto destes eleitorados, cujos países foram membros fundadores do Mercado Comum. No Tratado de Lisboa, impuseram uma «Constituição bis», apenas com alterações cosméticas, para formalmente não ser considerado como desrespeitando o veredicto das urnas em França e Holanda. 
Com o colapso da economia especulativa nos EUA, em 2007-2008, mas logo propagando-se ao continente europeu, a única preocupação de governos e bancos centrais, de um lado e do outro do Atlântico, foi a de evitar que os bancos, chamados «too big to fail»,  não sofressem e  continuassem a ter os seus lucros. 
- Inventaram as políticas monetárias mais  absurdas, como «Quantative Easing», ou seja, aumentar indefinidamente a dívida, como «meio» para resolver um problema  ... de dívida! 
- Impuseram a austeridade para o povo, mas reforçando os privilégios de casta dos líderes políticos. 

A pseudo «elite» - na realidade, uma oligarquia - conseguiu «dominar». Mas submeteu-se caninamente a tudo o que lhe impunham, a partir da sede do império: 
- Desde o reforço da NATO, sob pretexto de renovada guerra fria (iniciada e alimentada por eles), até à destruição do Estado de Direito, com pretexto numa série de atentados terroristas tipicamente «falsas bandeiras». 
- Como resultado da sua participação desastrosa na guerra civil na Síria, causou a revolta popular contra uma aceitação forçada e indiscriminada de refugiados desta e doutras guerras, insufladas pelo «Ocidente».
A total desconfiança relativamente às cúpulas políticas, atingiu um ponto alto com a eleição em Itália de duas forças euro cépticas, que se coligaram para governar. 
Por agora, a contestação dos povos tem sido civilizada, ordeira. Mas, o destino desta construção falhada da «União» Europeia não se anuncia nada tranquilo e democrático. Com efeito, quando houver uma nova grande crise, que irá fazer parecer uma «brincadeira» a crise de 2008 que abalou o sistema de capitalismo financeiro, o desespero das gentes será tal, que a casta dirigente irá ser posta na rua. 

Resta a incógnita sobre o que virá depois. Não creio que a chamada «democracia representativa» tenha condições para se reformar. Mais provável será o advento dalgum tipo de cesarismo ou populismo... na ausência de genuína alternativa para outro sistema totalmente diferente do actual, nos seus pressupostos. 
O monstro chamado UE, a ditadura da Comissão de Bruxelas sobre todos os governos, parlamentos nacionais e povos, não pode continuar no contexto desta crise que se avizinha. 
Esta crise não é evitável, não é adiável por muito tempo, não existe remédio eficaz para os males que assolam o mundo financeiro e económico, dentro do sistema em vigor. 
Haverá uma transição, seguramente, mas não será pacífica: não existe maneira de a fazer, sem colocar em causa o âmago do sistema.