Mostrar mensagens com a etiqueta Charles Hugh Smith. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Charles Hugh Smith. Mostrar todas as mensagens

domingo, 27 de fevereiro de 2022

[Charles Hugh Smith] SISTEMA FINANCEIRO ESTÁ OTIMIZADO PARA OS SOCIOPATAS E A EXPLORAÇÃO

 




https://www.financialsense.com/contributors/charles-hugh-smith

Designemos este sistema financeiro por aquilo que ele realmente é: Metaperverso, um mundo construído por trapaceiros auto- remunerados.

           

Vivemos num momento particular da história, em que a verdade foi banida, como ameaça à maximização do lucro privado, ou seja, a híper-procura do interesse egoístico. As provas que apoiam uma cadeia causal foram substituídas por factos escolhidos a preceito, que apoiam a narrativa auto- justificadora: quer as provas, quer a narrativa, são construídas para servirem os interesses da pequena minoria à custa da imensa maioria.
Neste momento da história, as evidências são facilmente contestadas, porque o processo de fabricar provas auto- justificativas tem sido aperfeiçoado. As provas auto- justificativas são, agora, um produto que se pode comprar a preceito: Falseie o tamanho da amostra, manipule os dados com estatística, evoque um contexto para enquadrar as evidências de modo a que se incline para um dos lados (o seu), omita as evidências desinteressadas e polvilhe com matemáticas obscuras, e aí tem... As evidências e as narrativas são apresentadas como «factos», em vez do que realmente são, a trapaça elaborada, bem encenada, construída para maximizar os ganhos privados da ínfima minoria e explorar a imensa maioria.
Para que todo o sistema esteja ao serviço da ganância patológica duns poucos, o melhor é desvalorizar a verdade, relegá-la a uma mera opinião entre outras e as cadeias causais, a meras narrativas. Neste momento da História, a verdade foi rebaixada a simples quimera; existe apenas opinião e todas as opiniões são iguais. Todas as opiniões se reduzem a crenças e todas as crenças são iguais. Todas as narrativas se valem. Todas as questões se reduzem a valores: os valores são todos igualmente desenraizados, flutuando livremente, e valem todos o mesmo: zero.
Esta trapaça atingiu a perfeição no sistema financeiro, que está agora otimizado para a exploração em benefício dos sociopatas. Como explicou Nassim Taleb (com referência a Adam Smith), os mercados só funcionam se existirem regras, impostas por igual a todos os participantes. No presente sistema, há dois conjuntos de regras: um, que se pode resumir a «vale tudo» para os super-ricos e bem relacionados, e outro para todos os restantes.
Tosquie biliões às ovelhas, pagará uma multa modesta e, se todas as suas apostas saírem furadas, será resgatado porque o seu negócio é demasiado importante para falir. Desvie uma pequena soma dum banco, ou agência financeira e vai parar à prisão. Venda um produto financeiro que foi desenhado para fracassar , como se fosse de baixo risco. E então?! O cliente que tomasse mais atenção! Afinal, isto é o livre mercado a operar. Venda uma pequena quantidade de droga e vai parar ao inferno prisional.
- Dois conjuntos de regras: um simulacro de regras para os ricos - mais outra trapaça - e regras punitivas para todos os outros.
Visto que as evidências, as cadeias causais e os valores foram desprezados, já não existe o reconhecimento de que o desejo do ganho (a ganância) tanto pode desencadear exploração, como ser benéfica para o coletivo. Se o vosso desejo de ganhar leva a que façais um produto que é melhor, mais depressa, mais barato, com maior durabilidade e eficiência do que os produtos concorrentes disponíveis, o vosso ganho é o resultado de um avanço, que também serve os interesses da grande maioria.
Se o vosso desejo de ganho vos leva a construir algo - um objeto, ou um produto financeiro - defeituoso, desenhado para falhar (como as hipotecas fraudulentas ou os produtos-lixo que se destinam a encher os aterros), ou se subir o preço, simplesmente porque pode fazê-lo, a vossa ganância serve apenas os vossos interesses, à custa da maioria. Isto é a combinação perfeita da exploração. Cleptocratas e sociopatas, rejubilam neste ambiente!
Este sistema está otimizado para a exploração, pois os exploradores podem explorar as pessoas comuns, sem que elas percebam que foram saqueadas. Já não temos os meios para distinguir a fraude do facto, nem a exploração, de mercados baseados em regras.
Ezste contexto de generalizada exploração e degradação é o "Céu na Terra" para os sociopatas que não veem qualquer diferença entre ganhos obtidos esbulhando o próximo e obtidos por fornecer um produto/serviço de melhor qualidade. Eles prosperam, explorando o sistema e os seus participantes: assalariados, sócios, fornecedores, depositantes, devedores, credores e clientes.
Mas, na desoladora paisagem causada pela exploração e supremacia do interesse egoístico, algumas coisas continuam a ser verdadeiras e outras falsas. Algumas verdades permanecem evidentes por si próprias. Tal como tenho mostrado muitas vezes, podemos ver o salário/horário e o custo dos produtos e serviços essenciais em 1980, 1990, 2000, 2010 e no presente e fazer um cálculo de quantas horas de trabalho foram necessárias para pagar as despesas essenciais, como aluguer, cuidados de saúde, custos de educação das crianças, transportes, etc. Estes cálculos revelam que a capacidade aquisitiva dos salários tem vindo a descer durante as últimas décadas. Esta evidência não pode ser nulificada com declarações de que seja opinião, crença ou «um conjunto diferente de valores» --porque é um facto.
Se nós medirmos prosperidade pelo trabalho necessário para comprar as coisas básicas, todos, exceto os do topo da escala salarial, são menos prósperos hoje. Estes factos e esta cadeia causal são evidentes, por si próprios. Alguns dos que recolheram os ganhos produzidos na economia pelo trabalho da grande maioria, conseguem comprar a comunicação social mercenária, para manufaturar a ilusão de que a maioria está melhor, mas estas ditas «notícias» e «análises», só servem para nos distrair dos mecanismos de extorsão que operam "24/ 7".
Chamemos a este sistema financeiro aquilo que é, na realidade: O Metaperverso, a construção de um mundo de trapaças em benefício dos próprios, otimizado para a exploração, a perversão da justiça, o esbulhar dos muitos em benefício dos poucos, tudo isso protegido e ocultado por uma nuvem de confusão, onde tudo se equivale, na ausência de valor e onde a verdade já não existe. Tudo o que resta, são as baboseiras dos trapaceiros a competirem entre si.



terça-feira, 18 de janeiro de 2022

CARTAZES DE SÁTIRA POLÍTICA/ ARTE DE RUA, EM WASHINGTON

 ARTE DE RUA EM WASHINGTON

POSTERS ANÓNIMOS SURGIRAM NAS RUAS DE WASHINGTON. SÃO CRÍTICOS DE BIDEN, FAUCI E DA «DITADURA COVIDIANA». 

https://www.zerohedge.com/political/rogue-street-art-appears-overnight-dc-mocks-biden-faucis-covid-regime



O cartaz acima é um deles: Biden, com "auréola" de seringas e rodeado de crianças. Todas elas usando máscaras vermelhas. 

A imitação de cartazes de «agit-prop» soviética não é fortuita. 

Tradução da frase no cartaz: «Crianças boas são crianças dóceis».

----------

NB1: Charles Hugh Smith aborda a questão de como a corrupção «matou» a política, tanto nos EUA, como nos outros países ditos de «democracia representativa». 

NB2: O satirista político CJ Hopkins, na sua última crónica do «Culto Covidiano» anuncia a derrocada do mesmo, o acordar das pessoas, a retirada desorganizada dos que o instalaram, ou ajudaram a instalar. Espero que tenha inteira razão!


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

[Charles Hugh Smith] A CHINA FARÁ REBENTAR A BOLHA DE TUDO

 



Autor: Charles Hugh Smith escrevendo no blog OfTwoMinds blog,


É bem seguro que a China enfrenta problemas estruturais. Uma listagem de artigos no número da Agosto da revista «Foreign Affairs» consagrada à China reflete isso:

A Aposta de Xi: A Corrida para Consolidar o Poder e Evitar o Desastre

A Conta Económica Chinesa: O Preço de Reformas Falhadas

Os Barões-Ladrões de Pequim: Pode a China Sobreviver à Sua Idade Dourada?

A Vida do Partido: Quão Seguro Está o Partido Comunista da China?

Isto são questões espinhosas, difíceis: o precipício demográfico resultante da política de uma criança apenas, a crescente desigualdade de riqueza, a corrupção alastrando, problemas de saúde pública (obesidade e diabetes, etc.), depredação ambiental e uma economia a desacelerar.

O que os analistas convencionais não conseguem compreender plenamente, a meu ver, são 1) a ameaça existencial para o Partido Comunista da China e para a economia chinesa, decorrente da sua bolha de crédito, sem precedentes, formando metástases 2) a sua crise de energia que desponta.

Como expliquei num artigo do meu blog, What's Really Going On in China?, («O que está realmente a ocorrer na China?») o PCC e o governo institucionalizaram informalmente a «irresponsabilidade» (a desconexão entre o risco e as suas consequências) como estando no âmago da sua política.

Qualquer perda financeira, não importa quão arriscada ou quão cheia de dívidas, era coberta pelo Estado (por resgate externo, pelo refinanciar da dívida, por novos empréstimos, etc.). Tal era visto  enquanto "custo do desenvolvimento rápido", consequência da visão de que a ineficiência e o desperdício eram inevitáveis no rápido desenvolvimento da indústria, da infraestrutura imobiliária e de uma economia virada para o consumidor.

Aquilo que os dirigentes da China não compreenderam plenamente foi que esta garantia implícita de «bailouts» (resgates) - o equivalente, nos EUA, ao «A Fed guarda-nos as costas» - incentivou a especulação baseada em dívida, como sendo o «investimento» de mais baixo risco, e de mais elevado retorno, especialmente quando comparado com os investimentos arriscados de baixo lucro, de estreitas margens, nas indústrias de exportação (Lembremos que as margens de lucro das empresas de exportação chinesas rondam os 1% a 3%).


Este é o fator oculto que está a minar a produtividade e a economia chinesas: a dívida em todos os sectores está a subir em flecha, para financiar a especulação, não os ganhos de produtividade.

Esta institucionalização da irresponsabilidade incentivou os jogos de apostas menos produtivos e de maior risco  - Não somente para grandes conglomerados como EverGrande, mas também para as famílias da classe média, que investiram no sistema de «shadow-banking» (um conjunto de empréstimos desregulamentados no sector privado, para financiar devedores com risco elevado, a juros altos) e compraram dois, três ou quatro apartamentos para «investimento».

As contradições resultantes desta massa de poupança investida em condomínios vazios, são sistémicas e perigosas: 1) logo que um andar esteja arrendado, perde valor pelo facto de ser «usado» 2) a vasta maioria dos andares de «investimento» é ilíquida, visto que a maior parte dos novos compradores quer um andar novo, não um usado, portanto o mercado para os usados é extremamente estreito, fora das localizações mais desejáveis, no interior de cidades como Pequim ou Xangai.


Este investimento maciço em apartamentos vazios e ilíquidos gerou perversidades sociais e financeiras: agora, que os andares em áreas mais cobiçadas custam 30-40 vezes o salário de um colarinho branco, os jovens têm de aspirar as poupanças da família alargada para conseguir pagar o andar. Os homens jovens incapazes de comprar um apartamento, veem suas possibilidades de casar evaporar-se.

Uma consequência da relação incestuosa do controlo de Estado com a especulação desenfreada, é o verdadeiro e vasto fosso separando os rendimentos, que se liga à corrupção, num feed-back que se reforça mutuamente: quanto mais rico te tornares, mais próximo do poder te encontras e vice-versa.

Como o sistema de «shadow banking» na China é opaco, até mesmo para os reguladores estatais, é bem possível que os líderes chineses não tenham uma noção da extensão do risco sistémico envolvido nos excessos do shadow banking. Parafraseando a célebre frase de Donald Rumsfeld, "é um desconhecido, desconhecido" para os fazedores da política chinesa.

Esta acumulação monumental de dívida e de especulação é agora uma ameaça existencial para o Partido, a dois níveis:

1) como todas as bolhas rebentam, independentemente das restantes condições, quando esta bolha o fizer, o abalo será suficientemente severo para ameaçar o controlo do Partido sobre a economia.

2) a evaporação desta riqueza fantasma, induzirá o povo a procurar um bode expiatório e o Partido é o candidato nº1, pois ele nutriu e protegeu os bem conectados e os ricos, não tendo protegido os 99% das consequências severas do rebentamento da bolha.

Ao terem criado as condições para a expansão da bolha e para a criação de montanhas de dívida e de promessas implícitas de resgates, o PCC e o governo entalaram-se eles próprios num beco: não existe maneira indolor de desinchar uma bolha especulativa de tão avassaladoras proporções.

Tendo em conta a biografia do Presidente Xi (em especial, a sua experiência pessoal na Revolução Cultural 1966-1976), os seus escritos e a sua consolidação do poder, é claro para mim que Xi compreende que a bolha está prestes a escapar ao seu controlo e portanto, o tempo é escasso e as opções de política estão limitadas a uma triagem ou seja, a salvar os mais saudáveis e deixar que a Natureza se ocupe dos que estão mais próximos de morrer.

Também vejo que Xi apreende a premente necessidade de quebrar a quase absoluta confiança de que o Estado irá resgatar («bail out») toda a gente, até mesmo a que pede emprestado e que especula da forma mais insensata, de tal modo que suas jogadas dão enormes perdas.

A opinião geral no Ocidente é que "a China não pode permitir-se que Evergrande falhe" porque este enorme conglomerado irá obviamente fazer cair muitos dominós, gerando um grande sofrimento financeiro. 
Eu penso que a visão do Presidente Xi é o oposto: «Nós não podemos permitir-nos salvar Evergrande», pois isso iria abrir as comportas das atitudes irresponsáveis («moral hazard») que Xi está a tentar fechar.

O facto do Estado resgatar os jogadores do sector privado (e de empresas estatais) foi o que levou a uma bolha baseada na irresponsabilidade, que Xi está determinado em fazer rebentar agora, quando ainda tem possibilidade de controlar o processo.

Por outras palavras, o Presidente Xi compreende que está no momento, «agora ou nunca», de retomar o controlo duma bolha financeira, inflada pela irresponsabilidade; a única maneira possível, será de fazer pagar as perdas por quaisquer que tenham exposição [aos investimentos especulativos]. A lógica subjacente, é o dilema entre retomar o controlo agora, provocando o rebentamento da bolha, ou deixar que ela se expanda e vá implodir de modo incontrolado (e portanto, ameaçador para o Partido).

Xi concluiu que o primeiro passo, para ser capaz de forçar que assumam as perdas, quaisquer que tenham exposição às apostas especulativas, era consolidar o poder num grau tal, que as costumeiras fações que se serviam do poder para evadir as consequências, fossem forçadas a aceitar sua quota-parte de perdas.
Dada a história e estrutura do Partido, tal exigirá que Xi estenda o controlo a níveis não vistos desde Deng e Mao.

No meu ponto de vista, Xi viu corretamente que estava a fazer-se tarde e que a resistência institucional ao fim dessas  promessas implícitas de resgates e a expansão sem fim da dívida, só poderiam ser superadas, se o seu poder político fosse quase-absoluto.

O rebentamento da bolha movida pela irresponsabilidade e especulação com a dívida, é uma necessidade para preservar o PCC e o poder de Estado; meias-medidas que protegessem os compinchas corruptos, apenas aumentariam a indignação popular, quando a bolha acabasse por rebentar.

É a esta luz que se deve ver a campanha de vários anos de Xi contra a corrupção mais visível e o recente reavivar do conceito de «prosperidade comum», ambos preparando o terreno para pôr fim ao comportamento de irresponsabilidade e para a demolição controlada dos excessos de dívida e de especulação que têm afetado a economia e que ameaçam retirar o controlo ao PCC.

Agora, porém, dão-se grandes ironias. Foi a capacidade da China, em gerar imensas quantidades de dívida, que basicamente permitiu o resgate da economia global em 2008-09, 2015-16 e em 2020. Sim, a Reserva Federal resgatou o setor banqueiro global (na ordem de 16 triliões de dólares em fianças e linhas de crédito) em 2008-09 e inflacionou a bolha especulativa nos EUA, ao criar 3.5 triliões de dólares pela impressão monetária (quantative easing), mas a expansão da dívida causada pela China foi igualmente uma fonte importante de procura global, o que evitou que as economias globais mergulhassem na recessão.


O custo deste «salvamento» não foi apreendido na altura: a elevação da irresponsabilidade até um estatuto quase religioso nos EUA e na China e a expansão das bolhas especulativas alimentadas pela dívida, até alturas jamais atingidas.
Só existem duas opções de políticas:
1) recolher a rede de segurança e recusar resgatar os excessos especulativos, daí fazendo rebentar a Bolha de Tudo,
ou
2) jogar o jogo de manter a bolha em expansão, até implodir por ela própria, num desfecho inevitável, devido às instabilidades sistémicas intrínsecas às bolhas.

Xi escolheu corretamente a política nº1 e ao fazê-lo, posicionou o Partido como o defensor do povo, ou seja, apresenta-se como anticorrupção, pôs na ordem bilionários como Jack Ma e está anunciando que o Estado não irá salvar EverGrande.

A política nº2 tem sido adotada pela Reserva Federal e pela liderança política dos EUA, levianamente. Ao inflacionarem a bolha, deixam que as consequências da irresponsabilidade, a bolha causadora de agravamento na desigualdade de rendimentos e a corrupção, vão -fatalmente - socavar a credibilidade de ambas, tanto da Fed, como da classe política.

As ruturas nos abastecimentos revelam que o sistema económico e financeiro estão estreitamente ligados e estão, enquanto tal, extraordinariamente expostos ao risco de colapsos em cascata, sobretudo quando os nodos-chave se tornam em pontos de congestionamento ou rutura.

Enquanto a Reserva Federal continua a imprimir triliões para continuar a inflar a bolha, a escassez na economia global já está a inviabilizar sectores-chave nas economias da China e da União Europeia. A realidade está em vias de fazer a sua intrusão na fantasia da Fed, de que as bolhas podem continuar - para sempre - desconectadas da economia no mundo real.

Em resumo: o rebentar da Bolha de Tudo não é o objetivo de Xi; este é um efeito secundário inevitável (dano colateral) do rebentamento da bolha especulativa chinesa.

Dado o facto de que todo o sistema financeiro está interconectado intimamente, o colapso de EverGrande é muito mais a história dos dominós a caírem, do que a das perdas diretas: não serão as perdas diretas que irão deitar abaixo o sistema financeiro, mas antes os dominós tombarem, quando os que sofrem perdas diretas, por sua vez, implodem e se tornam insolventes, falhando o pagamento de empréstimos, de juros das obrigações, incapazes de satisfazer as condições contratuais, e assim por diante.

O consenso no Ocidente é de que a China não pode permitir-se deixar a bolha rebentar, porque o sofrimento seria tão severo. Os que acreditam nisto, têm uma pobre compreensão da história da China, especialmente no século XX.

Sendo o rebentar a bolha na China a opção nuclear, Xi tem razões para estar confiante de que poderá fazê-lo: Se isso aumentar o nível de sofrimento para 11, ele sabe que a maioria do povo irá aceitar; quanto aos que não aceitarem, irão juntar-se a Jack Ma, na sua reforma forçada.

Eu estimo que Xi vê o fim da irresponsabilidade e o rebentamento da bolha na China, como uma situação em que o estado das coisas apenas piorará, quanto mais tempo se demorar a pôr-lhe cobro.

A grande ironia agora é que, em vez de salvar a economia global através da expansão da bolha da dívida, a China irá fazer rebentar a Bolha de Tudo Global. Para enfatizar o óbvio, o facto de estar no primeiro plano na economia global, faz da China um dominó de importância primordial. Quem pensar que a bolha especulativa da Fed nos EUA, pode tornar-se imune ao colapso dos dominós estreitamente associados, está a autoiludir-se num pensamento mágico.

Os extremos de excesso de dívida na China e a especulação já estão a desfazer-se, Xi não tem outra opção. Não existe um escape sem custos, apenas haverá como escolha, uma triagem, e Xi já estabeleceu um caminho pelo qual preserva o controlo do Partido, ao forçar todos os que têm exposição, a absorverem as inevitáveis perdas, quando as bolhas de dimensões sem precedentes rebentarem.

A fila dos dominós, que já começaram a tombar, estende-se por toda a economia global e sistema financeiro. Planifique adequadamente.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

BEM-VINDO À ERA DO CAOS E DAS NOVAS ARMAS ALIMENTANDO CONFLITOS

O vídeo acima é o segundo de uma série de três. 
O primeiro deles pode ser visionado aqui
O terceiro, sairá em Janeiro do próximo ano.

Gordon T Long e Charles Hugh Smith debatem e analisam neste segundo vídeo as circunstâncias que enfrenta o nosso mundo. 
Uma audição e visionamento muito educativos pois importa saber quais os factores de conflito e o nível de insegurança que os sistemas actuais potenciam.
Quem desconhece esta informação poderá duvidar que o mundo «esteja em cima dum barril de pólvora», mas ao tomar conhecimento dos dados aqui resumidos, já não poderá duvidar disso.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

COMO É CALCULADO O ÍNDICE DE INFLAÇÃO?

Esta reflexão ocorreu-me pela leitura dum excelente artigo de Charles Hugh Smith, intitulado «tenha cuidado sobre o que deseja». Com efeito, no supracitado artigo demonstra que o índice de inflação para os EUA está completamente dissociado da realidade. Os valores descontam toda uma série de factores de aumento de preço em produtos diversos. Por exemplo, novos carros vêm com melhorias ao nível de sistemas de segurança e de vários acessórios, sendo benefícios reais e como tal contabilizados nesse sistema de avaliação de preços, mas realmente trata-se de um cálculo artificioso, pois pura e simplesmente o comprador do carro novo não tem a opção - em muitos casos - de comprar o tal novo modelo, mas por menos uns 10 mil dólares e sem os tais benefícios que estavam ausentes na série anterior. Esse mesmo fenómeno é geral e notório em equipamentos electrónicos e computadores. Os que calculam os preços descontam sistematicamente a parte no preço que eles estimam ser devida a inovações incorporadas no novo produto, por comparação com o anterior. Os casos mais escandalosos são os dos custos da saúde e dos estudos. Como se estes factores não tivessem uma incidência elevada nas despesas das famílias. Dirão que o fenómeno é mais preocupante num país como os EUA, onde a saúde é cara, essencialmente entregue a companhias de seguros privadas, onde as universidades também são privadas e cobram somas abismais para um ensino nem sempre de grande qualidade. Sim, é verdade. Mas na Europa e em Portugal, as mesmas coisas ocorrem, os mesmos aumentos para os mesmos serviços, com a única diferença que, neste país,  muito mais pobre que aquilo que se costuma pensar quando se invoca «a Europa», um número impressionante de pessoas não tem sequer real acesso a saúde de qualidade e o número dos que frequentam o ensino até ao nível de licenciatura ou mais é muito menor, do que nos restantes países do «espaço euro». 

O valor da inflação em Portugal é uma construção dos governos e administrações, um fraco reflexo, ou mesmo uma completa ficção, daquilo que os portugueses comuns experimentam no dia a dia. Porém, este «índice» estabelece uma série de valores de aumentos, desde as pensões até aos ordenados da função pública. É com base neste índice que são calculados os aumentos das rendas de casa, ou as prestações sociais. 
Por causa deste número fictício e completamente manipulado, o próprio PIB é calculado usando como índice «deflator», um valor muito menor do que deveria ser, permitindo exibir uma ligeira progressão, quando, na verdade, o país se encontra em depressão há vários anos a esta parte.  

A tabela abaixo, retirado desta página, mostra como as inflações mensais são tão erráticas, o que não deixa de colocar várias interrogações. 

Tabelas - IPC Portugal actuais e histórico

IPC PT últimos meses

 períodoinflação
 agosto 20171,136 %
 julho 20170,902 %
 junho 20170,909 %
 maio 20171,451 %
 abril 20171,979 %
 março 20171,370 %
 fevereiro 20171,553 %
 janeiro 20171,331 %
 dezembro 20160,878 %
 novembro 20160,575 %

IPC PT últimos anos

 períodoinflação
 agosto 20171,136 %
 agosto 20160,724 %
 agosto 20150,658 %
 agosto 2014-0,359 %
 agosto 20130,153 %
 agosto 20123,077 %
 agosto 20112,906 %
 agosto 20101,980 %
 agosto 2009-1,330 %
 agosto 20083,015 %

Outros números de inflação

 países/regiõesinflaçãoperíodo
 IHPC DE1,789 %agosto 2017
 IHPC BE1,998 %agosto 2017
 IHPC EUR1,497 %agosto 2017
 IHPC FR0,993 %agosto 2017
 IHPC NL1,500 %agosto 2017
 IPC BE2,009 %setembro 2017
 IPC US1,939 %agosto 2017
 IPC NL1,400 %agosto 2017
 IPC JP0,602 %agosto 2017
 IPC RU3,293 %agosto 2017


A primeira das quais é saber se, sendo o país largamente importador, que efeito terão as oscilações doutras divisas e das suas cotações, relativamente ao euro. Verifica-se, se colocarmos em paralelo uma tabela com cotações do euro em dólares, em libras ou noutras moedas, que existe um maior aumento da inflação quando o euro em sido mais forte em relação a todas as moedas com as quais Portugal faz comércio frequente (ver valores de Agosto de 2017, em que a cotação do euro atingiu um máximo em relação ao dólar). Isto é bastante insólito. 
A segunda interrogação incide sobre as oscilações importantes de inflação de um mês para o outro: não sabemos se os cálculos contemplam a existência, ou não, de fatores corretivos devidos à sazonalidade de certas despesas (por exemplo, gabardinas em Agosto ou artigos de praia em Dezembro). A terceira interrogação e talvez a mais importante é a que tem a ver com a ausência completa de referências sobre os critérios e procedimentos estatísticos utilizados. 
Provavelmente, uma pessoa muito interessada, poderá pedir ao INE (Instituo Nacional de Estatística) algumas informações sobre os critérios usados para cálculo do índice de inflação. Mas, a imensa maioria contenta-se em aceitar o «dado» de que a «inflação de Agosto de 2017 foi de 1,136%» coisa que é impossível de validar ou de invalidar. É decretada assim, sendo todos os cálculos (pelo menos os oficiais) baseados nestes dados numéricos. 
Daqui decorrem duas consequências importantes: como estes dados estão geralmente fora da realidade e enviesados no sentido de diminuírem o valor real da inflação, as pessoas vão perdendo poder de compra, vão sentindo cada vez maior aperto  mas não sabem ao certo o que se passa. Têm a sensação vaga do seu ordenado ou pensão valer cada vez menos, mas sem - porém - poderem relacionar com os dados mais gerais da situação económica. 
Outra consequência: as pessoas podem ouvir que a situação do país está a melhorar e que - por azar - elas estão pior, mas que a situação das pessoas terá melhorado, em média. Satisfaz portanto o papel de propaganda discreta do governo e de contenção das despesas do mesmo, em relação a obrigações do Estado, desde pensões e prestações sociais, até aos ordenados dos funcionários. 

De facto, estes números são tão falsos em relação à realidade económica das famílias e das empresas - do país em geral - como eram os dados estatísticos do bloco soviético, na era da guerra fria (nos anos 50 a 80 do século passado). 
O facto de economistas e investigadores se basearem em dados completamente falseados mostra até que ponto a economia não é uma ciência, mas apenas um discurso feito à medida das necessidades de justificar este ou aquele discurso de poder, como esclareci em detalhe aqui.

A nossa capacidade em tomar decisões acertadas, quer ao nível pessoal, quer ao nível de empresas, está completamente dependente da nossa capacidade em avaliar com justeza a dinâmica da situação económica, seja a um nível global, regional ou nacional. Se tais instrumentos forem escamoteados ou falseados, é inevitável que as pessoas cometam erros de avaliação, tanto maiores quanto mais forte for a sua crença na propaganda disfarçada em «factos económicos», produzida pelas agências governamentais  ou afins.

O cálculo dos índices de inflação, é - em resumo - uma enorme trapaça, servida pelos governos, para enganar as pessoas comuns, os «servos da gleba» modernos.


sábado, 23 de setembro de 2017

SOBRE NEOFEUDALISMO E PORQUE DELE NÃO SE FALA

«Our system is Neofeudal because the non-elites have no real voice in the public sphere, and ownership of productive capital is indirectly suppressed by the state-corporate duopoly.* » Charles Hugh Smith

(*O nosso sistema é neo-feudal porque as não-elites não têm realmente qualquer voz na esfera pública e a posse do capital produtivo está indiretamente suprimida pelo duopólio estado-corporações) 

Como bem diz Charles-Hugh Smith, a questão é essencialmente de poder. Poder político e poder económico, os quais andam sempre de par. 

A nossa ideologia que permeia todo o quotidiano é a do neoliberalismo, ou seja, de que não existe alternativa à democracia representativa, dentro dos moldes definidos como sendo aceitáveis. Não se questiona o poder económico, que distorce a genuinidade e a possibilidade mesmo de uma democracia eleitoral; estabelece-se uma igualdade fictícia, a igualdade do eleitor perante o voto, a igualdade dos candidatos a um posto de trabalho, a progressão social e profissional apenas dependente do mérito (meritocracia), etc.
No domínio do poder económico as coisas são muito claras, basta-nos analisar a estrutura de posse de que as diversas fatias (não uso o termo classes, neste contexto) de rendimentos dispõem. 
Os muito ricos, os que estão no 1%, em termos de rendimentos, têm as suas posses repartidas de tal modo que uma parte substancial seja fonte de rendimento. Portanto, tal estrutura de propriedade implica acumulação, sem - aliás - fazerem qualquer esforço de contenção de gastos. Por isso é que os muito ricos são tendencialmente cada vez mais ricos. 
À medida que se desce na escala de rendimentos, verifica-se que a quantidade disponível de bens que geram rendimento se vai tornando numa fatia percentual menor, em relação ao total: por exemplo, uma família da classe média poderá possuir um apartamento que utiliza como habitação própria, ou seja, não gera rendimento; quanto muito, evita que parte de seus salários seja para pagar as rendas de casa. Além desse apartamento, podemos supor que disponha de alguns rendimentos financeiros, como fundos de poupança ou outros, os quais irão gerar uma quantidade mínima de rendimento. 
Quando nos deparamos com a situação das classes realmente desapossadas, «proletárias» no sentido clássico do termo, verificamos que não são detentoras de bens que geram rendimentos, nem possuem bens que - pelo seu valor e seu uso - representam uma forma de independência mínima. Isso significa sobretudo, nos dias de hoje, o ser dono de sua casa; no passado distante significava ser dono de terreno agrícola que permitisse assegurar o essencial da subsistência.

         

No gráfico acima, retirado do artigo de Charles Hugh Smith citado, os rendimentos de vária natureza - participação em negócios, fundos, ações, títulos, imobiliário não habitacional, seguros de vida, depósitos, contas-poupança, residência principal, dívida total - seguem uma progressão inversa ao estatuto socioeconómico. A maior percentagem de participação em negócios vai para o 1% (os mais ricos), enquanto a maior fatia da dívida vai para os restantes 90% .
Penso que este esquema se aplica, não apenas à sociedade americana, como também às sociedades europeia e portuguesa, com algumas variações de pormenor.
Esta estrutura de propriedade pode nos fazer compreender a verdadeira razão porque a parte mais rica e poderosa tem vindo a aumentar o seu poder económico e político nos últimos 30 anos, enquanto os trabalhadores e os pequenos empresários têm ficado cada vez mais frágeis, ou mesmo depauperados, em muitos casos.

A ideologia neoliberal esconde deliberadamente o facto essencial da fratura social em classes. Ela está constantemente impondo a sua visão do mundo falseada através da tripla falácia da democracia eleitoral representativa, da meritocracia e das classes de rendimento. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

PORQUE AS PROPINAS DO ENSINO SUPERIOR SUBIRAM MUITO ACIMA DA INFLAÇÃO?



A mecânica oculta existe tanto nos EUA como em várias partes da Europa. O video é a gravação de um diálogo entre Gordon T. Long e Charles Hugh SmithÉ um pouco longo, mas tem tanta informação de qualidade que não hesitei em proporcionar aos meus leitores.

Oiçam cuidadosamente, de certeza que vos diz respeito, aos vossos filhos, à sociedade que está sendo construída. 

A educação superior e os títulos que dispensa tornou-se numa espécie de «titularidade» nobiliárquica ou algo assim. Mas isso não é - de facto - o fim pelo qual existem estas instituições: algo que não preenche o fim para o qual é reconhecido pela sociedade, não deveria ser desmascarado?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL. LANÇANDO ACHAS PARA A FOGUEIRA...

Lendo um excelente artigo de Charles-Hugh Smith, o autor do blog «OF TWO MINDS», sobre a possibilidade ou não do retorno ao padrão-ouro, fica-se a compreender o paradoxo do sistema monetário usando uma divisa de reserva, o US dollar.
Porém, no mundo de hoje, largamente digitalizado, a existência de reservas de ouro nos bancos centrais não é paradoxalmente «relíquia do passado», como muitos afirmavam, mas «a moeda de reserva em última instância», segundo Alan Greenspan.
Poucos, infelizmente, são os economistas e especialistas monetários de hoje com coragem de pensar, como diz Charles-Hugh Smith, fora do «culto keynesiano».

Afinal, nas condições do presente, um sistema monetário internacional - que preencha as suas funções essenciais - pode existir e funcionar perfeitamente, entre os diversos países, sem que existam reservas de moeda ou de ouro, nos respectivos bancos centrais.

O sistema justo poderia ser algo que funcionasse como o «bitcoin» ou outras moedas digitais (criptocurrencies), as quais são neutras em si mesmas, não são manipuláveis por nenhum banco central, não são sujeitas a manipulações pelos governos de nenhuns países.
Porém, no âmbito do que existe atualmente, verifica-se uma forte ligação de quase totalidade dos sistemas de pagamento baseados em divisas nacionais. No imediato, certamente não prevejo que se possa eliminar estas mesmas divisas, os dólares, os yuans, os euros, as libras, etc. Ora, as divisas nacionais são o alvo preferido da especulação. Isso cria instabilidade e nenhuma riqueza verdadeira. Qualquer sistema que elimine esta especulação, essencialmente danosa para as economias, terá uma vantagem decisiva sobre o presente.

Um sistema monetário internacional estável, neutro e não sujeito a especulação

É simples, no nosso mundo, chegar a acordo sobre um conjunto de matérias-primas, cuja cotação esteja contemplada num «cabaz». Estas matérias-primas podem/devem incluir: os metais preciosos, os metais industriais, os cereais e os combustíveis.
Assim, todas as divisas nacionais se iriam referir a esse «cabaz». Um Dólar, um Yen, um Euro... etc, que fracção deste cabaz de matérias-primas poderia comprar?
Todas as moedas estariam automaticamente cotadas, umas em relação a outras, pois todas se posicionavam pela sua capacidade acquisitiva relativa ao cabaz.

Não haveria necessidade de divisa(s) de reserva ou de uma reserva de ouro (ou de outros valores tangíveis) na posse do Banco Central de cada país.
Aliás, não seria indispensável uma entidade complexa e pesada chamada «Banco Central»: a função histórica do Banco Central emerge com a economia mercantil do início do século XVIII, com as moedas de ouro, prata e outros metais em circulação a serem parcialmente sustituídas por títulos desse mesmo banco central. Logo nos primeiros tempos deste sistema, se verificaram fraudes monumentais, como a de John Law...


Muitos governos, pressionados por diversos fatores, são tentados a aumentar a impressão de moeda, tendo isso um efeito diluidor de seu valor nos mercados monetários, ou seja, cada unidade dessa moeda valendo menos. Ao recorrerem a este mecanismo, põem em risco a credibilidade da própria divisa, podendo mesmo acabar por desencadear hiperinflação. Uma tal inflação monetária não seria impossível de acontecer no novo sistema, porém seria muito menos provável, pois a excessiva presença dessa tal divisa causaria, como reflexo, a subida da cotação das matérias-primas nessa divisa. A descida da capacidade aquisitiva dessa moeda, referente ao cabaz, seria logo detectada.
Com este sistema, muito simples de implementar, cada nação teria fixado, ou estabilizado, o valor da sua respectiva divisa. Não haveria mais crises, desencadeadas por especuladores do tipo de George Soros que fez fortuna especulando contra a Libra esterlina, as moedas nacionais de vários países do Sudeste Asiático, o Rublo... Não haveria campo para especulação grande e pequena no FOREX e nos mercados de «derivativos».
Note-se que a flutuação cambial é - em grande parte - correlacionada com os movimentos especulativos dos capitais ao nível internacional. Essa especulação só retira valor, não tem nenhum efeito global positivo, é uma mera parasitagem do sistema financeiro e económico mundial.
Um sistema sem especulação sobre as divisas não seria perfeito: haveria outros domínios, tradicionais ou novos, em que os especuladores, provavelmente, iriam continuar a actuar.
Porém, como a economia real (produção e troca de bens e serviços) necessita que a moeda seja um instrumento credível, tudo o que reforce a estabilidade da moeda é favorável, em termos económicos. Pelo contrário, a existência dum ataque especulativo sobre dada moeda pode precipitar um colapso e causar desastres económicos como a hiperinflação, em que os mais pobres são as principais vítimas, etc.

Do ponto de vista sistémico, a mudança para uma referência geral das divisas nacionais perante um cabaz de matérias-primas, é uma mudança neutra: tanto pode funcionar num contexto global capitalista como noutro sistema, não-capitalista (chame-se ele como se entender).
O sistema que proponho, de amarrar todas as divisas nacionais a um cabaz de matérias-primas, teria certamente vantagens sobre o presente, ao eliminar as flutuações de divisas, da qual se aproveita a especulação.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

HISTERIA ANTI-RUSSA - COM QUE FINS?

Estamos perante um novo acesso de ataques histéricos dos media ocidentais, que se fazem câmara de ressonância da propaganda governamental dos EUA, como analisa brilhantemente Charles Hugh Smith
Agora, que a guerra na Síria está completamente perdida para os terroristas «moderados» ou seja, a soldo das potências ocidentais, desencadeiam uma campanha de histeria destinada a desacreditar Donald Trump e inviabilizar a sua eleição pelo colégio eleitoral, num autêntico golpe, com colaboração de elementos da CIA... por um lado.  
Por outro lado, estão a criar mais e mais pretextos para fricção com as potências que disputam a hegemonia dos USA; nomeadamente a Rússia, China, Irão... Eric Zuesse põe a nu esta deriva num excelente artigo de «Strategic Culture»: A mentalidade de guerra-fria apenas desapareceu de um dos lados (o dos ex-soviéticos) sendo que a mentalidade dos militares e diplomatas de topo nos EUA e nos seus países vassalos da NATO é exatamente a mesma, a que corresponde á pior fase da guerra-fria. 
Eu acho que existem razões suficientes para estarmos preocupados e levarmos a sério estes arrufos de mentalidade «MacCartista» por parte de facções no poder. Compreendamos também que isso corresponde a um desespero deles, vendo que a sua estratégia geral falhou redondamente. Encobrir os fracassos com toneladas de propaganda e desinformação pode servir os seus objetivos num curtíssimo prazo, mas não creio que as pessoas sejam indefinidamente iludíveis pela propaganda. O resultado, no longo prazo, é a sua total perda de credibilidade. 
Oxalá fiquem desmascarados muito depressa: as guerras de propaganda costumam ser uma espécie de «barragem» que antecede uma guerra «a quente», tal como no passado foram as «barragens» de artilharia, no inicío das batalhas e que antecediam as ofensivas da infantaria.