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sexta-feira, 15 de março de 2024

PÁSCOA 2024: UM REGALO DE VIVALDI

Um triplo presente, um triplo prazer, que decidi Vos oferecer. 
É que Vivaldi nunca deve estar ausente das grandes ocasiões, sejam elas quais forem. É ele que nos pode dar confiança na vida, dar energia ao espírito, com seu o otimismo sensato, refletido, que tanta falta nos faz, hoje em dia.
Vivaldi nunca é banal ou repetitivo. A ideia de que as «grandes obras» de Vivaldi se resumem ao reportório de concertos para violino e orquestra e pouco mais, é apenas uma afirmação ignorante, petulante e que não merece o mínimo crédito da nossa parte.
Vivaldi escreveu notáveis concertos para instrumentos diversos, como solistas, ou como «concertino»,  dialogando com o resto da orquestra de cordas. 

O fagote é um instrumento muito rico em possibilidades expressivas. Ele foi relegado para um papel de «baixo» do naipe das «madeiras» nas obras sinfónicas, principalmente a partir da segunda metade do século XVIII. Mas, o instrumento é muito apropriado como solista. A sua voz profunda e a riqueza do seu timbre, resultante dos harmónicos que produz, permitem grande variedade expressiva, tal como o violoncelo. 

Eu não sei - destes três concertos - qual o melhor, o mais bem construído, ou o que tem maior verve. São - para mim - três concertos do melhor Vivaldi, que conheço. Talvez seja ocasião para uma descoberta dos meus leitores.

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Bassoon Concerto In A Minor, Rv 497





        Interpreti Veneziani  (Andrea Bressan fagotto)




 

domingo, 10 de março de 2024

HAENDEL, BACH, SCARLATTI - ANNE QUEFFÉLEC AO PIANO (Folles Journées de Nantes, 2024)

                                               


Estes três compositores lendários nasceram no ano de 1685: Anne Queffélec celebra-os com um reportório neste recital, extraído das  obras destes gigantes do barroco.
A herança deles três perdura, sendo obrigatório na aprendizagem de instrumento de tecla (piano, cravo, órgão) estudar e praticar regularmente peças destes três compositores do Barroco.
A linguagem musical que transparece nestas amostras não é muito diferente uma da outra. Embora cada compositor, com o seu génio, imprima o caráter inconfundível de sua personalidade nestas e noutras peças, a verdade é que todos eles «falavam o mesmo idioma musical». Note-se que esta época - de cerca de 1700 a cerca de 1760 - foi de grande cosmopolitismo na Europa (apesar das guerras). A dominância da ópera italiana foi-se acentuando, assim como a tendência para se fixarem a forma sonata, a forma concerto e a forma suite (sequência de danças estilizadas). Domenico Scarlatti foi importantíssimo na codificação da «sonata bipartita». Bach foi importante em forjar a síntese do concerto italiano, francês e alemão e Haendel adaptou ou criou formas e estilos ao gosto e temperamento dos britânicos.
Houve mais músicos barrocos de génio, como Vivaldi e Rameau, por exemplo. Mas, no conjunto da Europa havia uma convergência, uma assimilação natural dos estilos de várias regiões.
- Se houve génios? - Sem dúvida que os houve!
Porém, o terreno estava «adubado» para eles crescerem e se desenvolverem.

Como extra -programa, Anne Queffélec interpretou a sonata de Beethoven em Lá bemol Maior. Parece-me perfeitamente apropriado, pois nos mostra a rutura estilística, que foi o romantismo em relação à época anterior.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

HENRY PURCELL: DIDO AND AENEAS

Dido and Aeneas, de Henry Purcell: 



Uma joia cénica e musical da ópera: WAYWARD SISTERS

Nesta ópera*, H. Purcell reúne todos os elementos dramáticos, para construir um monumento barroco que resiste muito bem à passagem do tempo.  

A bruxa chama as suas irmãs para lançar a maldição sobre Cartago, da qual Dido é a rainha.  Através das Wayward Sisters é representada uma conspiração, nesta cena e seguintes. 

https://www.youtube.com/watch?v=hzvgpCZ6rxM&list=OLAK5uy_lJokTwIL2ajsgOayUyKP12vw-77bT73ic&index=14



Purcell é realmente um monumento ímpar, em toda a cultura europeia do século XVII. Se o virmos como participante do grande movimento barroco europeu, não apenas como expoente da música das Ilhas Britânicas, temos de concluir que representa um passo decisivo para a modernidade plena. Um músico charneira, num certo sentido, mas certamente original, quer na música instrumental, quer na ópera. A inovação estilística é muito significativa, embora não pretenda entrar em ruptura com a tradição, mas apenas alargar a expressão das paixões humanas. Aplica-se plenamente a designação «drama em música», utilizada em Itália na viragem do século XVI para o séc. XVII, para a ópera. A ária celebérrima «When I'm laid in earth» (Ato III, cena 2), da mesma ópera, tem ocultado esta joia de negrume das bruxas lançando sua terrível maldição sobre Cartago... Faz-me pensar nas bruxas de «Macbeth» de Shakespeare, embora Purcell não tenha composto a ópera a partir da peça do dramaturgo.

Haendel reconheceu a qualidade dramática e musical de Purcell, criador da ópera em língua inglesa. Embora as óperas de Haendel sejam compostas em italiano - para satisfazer a moda da sua época - moldou magistralmente a matéria musical em língua inglesa, nas suas oratórias.

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sexta-feira, 10 de março de 2023

TOMBEAU DE MONSIEUR DE SAINTE COLOMBE - MARIN MARAIS [SOPHIE WATILLON]


Monsieur de Ste Colombe, foi o mestre de viola da gamba, que ensinou a Marin Marais e a outros gambistas os segredos desta arte, toda em subtileza e dignidade. 
A viola da gamba faz parte de uma família de instrumentos de arco, que foi preterida, a  partir da segunda metade do Século XVIII, para os instrumentos da família do violino. 
J. S. Bach ainda escreveu várias peças para viola da gamba e contínuo e fez intervir este instrumento em certas obras instrumentais (alguns concertos Brandeburgueses) e em obras sacras vocais e instrumentais (cantatas e paixões).
 No entanto, é a escola francesa deste instrumento que mais produziu e mais ficaram para a posteridade os exemplares da escrita para viola da gamba. 
Deste escol de músicos, sem dúvida, Marin Marais é o principal. Foi músico da corte de Luís XIV e deixou muitas peças para o seu instrumento, quer a solo, quer em concerto com outros instrumentos. 
Além da escola francesa, os «consorts de viola» do final do renascimento e início do barroco ingleses também nos legaram peças notáveis: a família das violas formava conjuntos (viola da braccio, da gamba e contrabaixo): Estes consorts eram executados - por vezes - em instrumentos que tinham sido construídos com o fim de serem tocados em conjunto. 


As peças designadas de «TOMBEAU» são uma idiossincrasia do barroco francês, evocada por músicos do século XX, como Ravel, que escreveu um «Tombeau» em memória do grande François Couperin. 

Já analisei algumas obras designadas por Tombeau neste blog: 

J. J. FROBERGER:  «Tombeau faict à Paris sur la mort de Monsieur Blancheroche»

MARIN MARAIS - O «TÚMULO DE LULLY»:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2018/05/marin-marais-o-tumulo-de-lully.html

Outra versão do «TOMBEAU DE MONSIEUR STE. COLOMBE»:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/10/marin-marais-tombeau-de-monsieur-de-ste.html

São obras-primas do Barroco, apreciadas pelos amadores de música antiga.

Graças ao renovo de interesse pela execução, não só em cópias fiéis dos instrumentos da época, como também graças a um aprofundamento do estudo das fontes pelos musicólogos e executantes, podemos apreciar a  música destes séculos  (XVII e XVIII), revivida com o maior rigor possível. 

Sophie Watillon pertence ao número pequeno, mas crescente, de interpretes que aprofundam as técnicas e estilos de execução da viola da gamba.


quarta-feira, 8 de março de 2023

RAMEAU, PEÇAS PARA CRAVO EM CONCERTO (EXCERTOS)


 Foi assim que decidi homenagear este dia ( 8 de Março, dia da nossa cara metade), no feminino. 
Rameau presta-se muito bem a isto, pois ele construiu peças em torno da feminilidade, representando vários caracteres (com os nomes respetivos ou sem eles) pela música.

 Este conjunto instrumental é de qualidade, adequando estilo e andamento aos requisitos próprios destas peças do final do barroco.


Outros posts sobre Rameau no blog «Manuel Banet, ele próprio»:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2020/10/rameau-primeiro-livro-de-pecas-para.html 


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2018/10/jp-rameau-obras-para-cravo.html


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2018/09/opera-ballet-les-indes-galantes-de.html


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/03/gavotte-e-variacoes-de-rameau.html

terça-feira, 26 de abril de 2022

[Mitsuko Uchida] W. A. Mozart: Fantasia em Ré menor, K. 397




                                            https://www.youtube.com/watch?v=eNOhBE20zsI

A minha dupla homenagem, ao génio pré-romântico de Mozart e a Mitsuko Uchida que exprime toda a subtileza da música mozartiana, de modo único.

(para uma análise da peça, ver AQUI )
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Meu comentário:

Esta peça, tal como outras composições de Wolfgang Amadeus, tem um inegável toque de sensibilidade romântica. Talvez, o que caracteriza o romantismo seja - antes de mais - uma configuração mental. 

A época dita «rococó» está cheia de exemplos de peças ou de passagens, que soam como românticas aos nossos ouvidos. Provavelmente, porque na época seguinte, durante o Século XIX, muitos compositores se serviram de certas fórmulas como clichés. 
Aliás, não só Mozart revela sensibilidade pré-romântica. Também se pode notar esta tendência (estilo «Empfindsamkeit») nos filhos de Bach, Carl Philipp Emanuel e Wilhelm Friedmann, ou mesmo em Joseph Hadyn.
É notório que o movimento literário «Sturm und Drang» do final do século XVIII, era totalmente romântico. Porém, nessa época - cerca dos anos 1780 - a música ainda se regia pelos cânones do Classicismo.
Creio que o romantismo musical surge como a cristalização de tendências que já se afirmavam no Barroco tardio e no Classicismo.

 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

VELASQUEZ E O JOGO DE ESPELHOS

Se o século XVII teve alguns génios em pintura, Velasquez é certamente um deles. Tentarei explicar porquê.

A arte, nos reinos europeus, no período que vai do Renascimento até meados do século XVII, é toda ela figurativa e simbólica. O cânon era dado pela civilização greco-romana, considerada o pináculo inultrapassável de elevação estética. 

A própria estética estava imbrincada com o sentido moral, visto como muito mais elevado que o saber técnico. Este, o saber técnico, seria elemento fundamental para alcançar a maestria, mas não o único pois, necessariamente, a elevação moral tinha de perpassar nas obras. Elas tinham de ter uma componente exemplar. 

As grandes obras tinham de ser modelos, não apenas estéticos, como de conduta. O tema duma obra como «Las Meninas» era imediatamente compreendido pelos contemporâneos. Retratava a família real e a corte, em torno da infanta, a única descendente sobrevivente.  

O génio do pintor está no arranjo da cena: Aparentemente, capta um momento do seu trabalho, enquanto pintava o retrato do casal real. O espelho no fundo reflete a imagem desfocada, mas perfeitamente identificável, do rei e da rainha, que estariam no plano donde nós observamos o quadro. 

A chave deste quadro está encerrada na cena, ela própria. 

Poucas pessoas se perguntam porque razão este quadro foi intitulado «Las Meninas», ou seja, as aias da princesa. Não seria mais apropriado designá-lo como «A infanta visitando Velasquez, enquanto pintava o casal real»? - Sim e não. 

O nome «Las Meninas» é apropriado, porque elas estão realmente no primeiro plano e descrevem uma espécie de anel protetor em torno da infanta. Elas próprias estão rodeadas pelas figuras do anão e da anã, com o cão, o mastim pachorrento e, mais atrás, dois vultos; uma mulher, com hábito de religiosa e um homem.

No umbral da porta aberta, uma silhueta de homem austero, criado ou nobre, junto ao espelho refletindo o casal real.  

Tudo está arranjado para dar a impressão de espontâneo, mas encerra um significado e simbolismo discretos. A própria ambiguidade dos planos em que está construída a obra, a sensação espacial que daí se desprende, traz complexidade, tanto na leitura da ótica física da cena, como de sua ótica simbólica,  do «recado implícito» que transmite. Nem uma, nem outra são simples: A obra está estruturada com grande maestria técnica, mas não é o exercício de virtuosismo gratuito que muitos descrevem. 

A tela transporta uma imagem fulcral, a de Velasquez que, ao se auto retratar, quis demonstrar algo. Ele, que estava ao serviço do monarca Filipe IV, implicitamente colocava-se ao serviço da herdeira do trono e  fazia-o como alguém orgulhoso de servir. 

Não é por acaso que ostenta no gibão a Cruz de Cavaleiro da Ordem de Santiago: Está a dizer que seu trabalho é o de um Cavaleiro, não de mero prático, de artesão afortunado, premiado pelo seu rei. Com sua presença, está a afirmar seu dever e compromisso de servir a infanta, tal como as duas «Meninas» o fazem, mas de outro modo. 

Este quadro fez correr «rios de tinta» e fará correr muitos mais, estou convencido. Afinal, esta obra realiza, de um modo que Velasquez nunca sonhou, a perpetuação da memória do tempo em que a Espanha era governada pela monarquia dos Habsburgo. 

Impressiona-me pensar que posso ver as figuras do rei, da rainha, da infanta, dos nobres, etc. na sua «palpável humanidade». Mas, ao mesmo tempo, penso como eram figuras tão poderosas. Detinham uma fortuna quase impossível de avaliar, dominavam metade do planeta, com seus povos e nações. Não é estranho que sua aparência no quotidiano chegue até nós, como se estivéssemos no palácio real?  

Velasquez era um génio. Como todos os génios, transcendeu as circunstâncias históricas de sua época. Por isso hoje, também, suas obras podem iluminar (no sentido de educar) as pessoas.  


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Nota: Possuem interessante informação, estes dois vídeos sobre o quadro. 

https://www.youtube.com/watch?v=WKRKrpz09Fk

https://www.youtube.com/watch?v=Ylc7ESyVK7Q

quinta-feira, 1 de julho de 2021

«LA NOTTE» CONCERTO PARA FLAUTA E ORQUESTRA, DE VIVALDI

 «La Notte» é uma joia da música descritiva, tão bela como os concertos para violino das «Quatro Estações». 
A peça pode ser interpretada na flauta transversal, mas também na flauta de bisel, como é o caso nesta gravação ao vivo.
No barroco, é frequente que instrumentos diferentes realizem a parte solística, sem afetar a autenticidade e - sobretudo - a beleza da música


Antonio Vivaldi: "La Notte", Flute Concerto in G minor, RV 439 Support us on Patreon: http://www.patreon.com/bremerbarockor... Follow on Instagram: http://www.instagram.com/bremenbaroqu... Bremer Barockorchester: http://www.bremer-barockorchester.de Largo: 0:00 Presto (Fantasmi): 1:47 Largo: 2:35 Presto: 3:30 Largo (Il sonno): 4:33 Allegro: 6:17 Solo Recorder: Dorothee Oberlinger Violin I: Tomoe Badiarova, Meelis Orgse, Annie Gard, Naomi Burrell Violin II: Anna Stankiewicz, Marina Kakuno, Ana Vasić Viola: Alice Vaz, Luis Pinzón Violoncello: Néstor Fabián Cortés Garzón Double Bass: Eva Euwe Bassoon: Martin Jaser Lute, Guitar: Hugo de Rodas Harpsichord: Nadine Remmert


quinta-feira, 23 de julho de 2020

AKADEMIE FUR ALTE MUSIK BERLIN - WATER MUSIC - HAENDEL


G.F. Händel: Water Music - Akademie für alte Musik Berlin - Live concert HD Georg Kallweit, viool/leiding G.F. Händel 1685-1759. Water Music, HWV 348-350 - - Overture: Largo-Allegro - Adagio e staccato - Allegro / Andante / Allegro da capo - Allegro - Air - Minuet - Bourrée - Hornpipe - Allegro moderato - Allegro - Alla hornpipe - Minuet - Rigaudon 1 / Rigaudon 2 / Rigaudon 1 - Lentement - Bourrée - Minuet 1 / Minuet 2 - Gigue 1 / Gigue 2 da capo - Minuet

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

BACH-VIVALDI: Concerto para 4 cravos

A fusão da música dos dois mestres do barroco exprime-se no máximo de expressividade e elegância neste concerto para 4 violinos e orquestra de cordas de Vivaldi, transcrito por Bach para quatro cravos e orquestra de cordas, transcrito para órgão solo, por Daniel Maurer. 

Deixo aqui 3 excelentes versões: 
1º de Pascale Mélis ao órgão Cavaillé-Coll de São Clodoaldo de St Cloud (França), 
2º a execução ao vivo do concerto para 4 cravos BWV 1065 em Alberta,
3º, o concerto para 4 violinos (a partitura original) RV 580 de Vivaldi, pelo Giardino Armonico.

Espero que gozem esta música em todo o seu esplendor!









sexta-feira, 26 de outubro de 2018

J.P. RAMEAU: obras para cravo

                                    Image result for rameau


                  


Jean-Philippe Rameau (1683 - 1764)

Um jovem provincial desembarca em Paris no início do século XVIII, com um rolo de partituras debaixo do braço, uma ambição de fama e glória, mas também uma forte formação de organista pela sua tradição familiar. 


O prelúdio da primeira série de peças para cravo tem o mérito de mostrar um exemplo de peça típica da escola francesa para cravo: 


Trata-se de uma peça com latitude para o intérprete, num estilo improvisado, razão pela qual não existem barras de compasso, «prélude non-mesuré». Logo nesta peça de juventude, Jean-Philippe Rameau anuncia quem é e ao que vem. Mais tarde, ficará conhecido como teórico polémico e popular autor de óperas. Irá polemizar com celebridades da Enciclopédia, nomeadamente, J.-J. Rousseau e D'Alembert.  
A força da sua personalidade e a sua subtileza transparecem nas peças seleccionadas por Scott Ross, no vídeo abaixo...

                

 Estas permitem-nos «sentir» o século XVIII francês: um discurso aparentando frivolidade, às vezes... mas capaz de se mostrar subtil, irónico, terno, ou enfático, em resumo: um teatro de sentimentos. 
É que este discurso musical banha na mesma atmosfera que os debates dos filósofos nos «salons», ou que os diálogos das comédias de Marivaux.  
A linguagem da escola francesa construiu-se numa sucessão ininterrupta de grandes cravistas do século XVII, uma grande tradição de que Rameau é ponto cimeiro. 
Depois dele, houve grandes músicos de talento ímpar; mas Rameau continua sendo o mais célebre músico francês do século XVIII, nos dias de hoje. 

domingo, 24 de junho de 2018

«ORLANDO FURIOSO» DE VIVALDI

«NEL PROFONDO», ÁRIA DO 1º ACTO




(Nel profondo cieco mondo si precipiti la sorte già spietata a questo cor. Vincerà l'amor più forte con l'aiuta del valor.)
                                                   
                                                        [SOLISTA: Mathieu Salama]


                                                          INTEGRAL DA ÓPERA



  • O libreto, baseado num poema de Ariosto, poeta do Renascimento, tem todos os ingredientes para exprimir as paixões humanas. Nomeadamente, a tensão emocional que acompanha o desenrolar do drama em música. As paixões foram sempre matéria-prima da ópera: aqui, a paixão amorosa insatisfeita leva Orlando à loucura. 

Esta ópera «Orlando Furioso» é uma das mais célebres de Vivaldi. Na nossa época, foi representada em palco e gravada em disco, com bastante frequência. Creio ser uma das óperas barrocas que mais facilmente se podem acomodar ao gosto do público contemporâneo. 
Algumas das suas árias tornaram-se célebres e são regularmente incluídas em recitais, por vários intérpretes. 

sábado, 17 de fevereiro de 2018

IGOR KIPNIS - A ARTE DE BEM TANGER O CRAVO

Este disco contém peças de numerosos compositores do renascimento tardio, ou maneirismo, e do barroco: 
- um reportório bem conhecido dos amadores de música antiga*, que pode ajudar-nos a apreciar melhor as subtilezas interpretativas e as sonoridades ricas em harmónicos de um cravo bem temperado.



*várias peças deste reportório podem ser interpretadas noutros instrumentos de tecla, como a espineta ou mesmo o órgão positivo.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MARIN MARAIS - TOMBEAU DE MONSIEUR DE STE. COLOMBE


Escrito após a morte de seu mestre, Monsieur de Ste Colombe, o jovem Marin Marais (Paris 1656- Paris 1728) mostra a sua capacidade de extrair um máximo de expressividade da viola de gamba.

Este estilo peculiar de peças lentas e plangentes, a meu ver, anuncia uma era mais centrada no indivíduo, mais interiorizada, pois tem ressonâncias profundas na psique. A música deixa de ser apenas representação, para ser uma forma idealizada de descrever estados de alma.

A qualidade subtil desta música apenas pode ser perceptível a pessoas que conservaram intactas as «cordas» da sensibilidade, o que - infelizmente - não é o caso hoje de muitas pessoas, nesta época de hedonismo desenfreado.

Num certo sentido, aqui transparece o lado intensamente humano deste compositor, pois a sinceridade da sua lamentação pela morte de seu mestre, não pode ser posta em causa por quem ouve atentamente e mesmo que não saiba quais os códigos musicais em vigor naquela época.

O modo menor, o andamento adagio ou lento, os cromatismos, a intensidade expressiva, são «artifícios» no sentido etimológico, ou seja técnicas da arte de compor... porém, resultam muito sinceros.
A arte tem de ser veiculada dentro de uma tradição e dentro de um conjunto de códigos, para que seja entendida pelo auditor. O auditor (da época, entenda-se), estava plenamente consciente do que constitui uma peça solene, grave, cheia de elevação.
Mas as nossas sensibilidades contemporâneas podem ainda assim usufruir destes momentos de êxtase e reflexão pura, devido ao facto da arte dos sons ser capaz de penetrar nos âmbitos mais profundos do ser.

Um hipotético auditor, que nunca tenha tido contacto com música barroca e mesmo que seja ignorante da arte dos sons, captará o essencial da mensagem da peça. Tal significa que a arte dos sons recorre a «constantes antropológicas», especialmente quando atinge um cume, em termos estéticos.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

DIXIT DOMINUS - HAENDEL


Esta obra de juventude de Haendel (tinha apenas 21 anos) ganhou merecida fama. Corresponde ao seu período romano, na cidade do Papa. 
Quando a compôs para o rito católico - ele, protestante luterano - as autoridades, que presidiam aos ritos da Igreja Católica, não viram nisso qualquer inconveniente. 
No início do século XVIII, havia muito maior tolerância religiosa do que nos dois séculos anteriores, pelo menos, nas figuras de proa da sociedade e no alto clero. 
As épocas de tolerância são, geralmente, épocas de paz e de progresso em todos os planos. São - porém - momentos frágeis, sempre suscetíveis de sucumbirem às paixões fanáticas de uns e outros. 
Com esta obra, merecidamente ressuscitada e frequentemente executada nos últimos anos, pode ver-se que «o Saxão», como era conhecido Haendel em Itália, tinha um domínio magistral das várias técnicas de composição que floresceram no barroco. 

A secção inicial, o grande coro sobre «Dixit Dominus», é um monumento, como poucas peças de carácter sacro: neste grande fresco inicial, a tensão entre as notas de valor longo e as frases curtas, incisivas, confere à peça uma energia irresistível.

Quanto às árias para vozes solistas, acompanhadas pela secção de arcos da orquestra, pontuadas por discretas intervenções do coro, são das mais expressivas do reportório sacro. 

O grande fresco final do «Gloria Patri» é um outro grande monumento de contraponto «fugato», com um brilhantismo inultrapassável.

Vivaldi, no mesmo período - princípios do século XVIII - também compôs «Dixit Dominus» dos quais sobreviveram dois. Parece-me muito interessante confrontar o tratamento que estes dois mestres, Haendel e Vivaldi, lhe deram. Cada um soube imprimir o seu cunho pessoal, mas em plena conformidade com o espírito do texto.

A ideia de que J. S. Bach seria o «mestre do contraponto e da fuga», enquanto Haendel seria antes o «autor de peças para solistas e para a ópera», fica completamente posta de rastos, aqui. 
Basta ouvir com atenção as grandes obras vocais de Bach e de Haendel, para se reconhecer que ambos dominavam todas as técnicas de composição e  as utilizavam como mestres.

A repetição (como extra) da ária «De Torrente» para solistas, coro e orquestra, foi muito bem escolhida por Elliot Gardiner, outro mestre do barroco, como gosto de chamá-lo: ele eleva a interpretação desta e de muitas outras peças a cumes inexcedíveis. 



terça-feira, 17 de outubro de 2017

HAENDEL - ária da ópera Ariodante

«Scherza, infida in grembo al drudo»
(Ariodante)- Handel
Rolando Villazón com Paul Mac Creesh e Gabrieli Players - 2008




Uma das mais belas árias do barroco, aqui interpretada magistralmente.
No espectáculo total da ópera desse tempo, não apenas deviam revelar-se os talentos dos cantores, como também devia ser ocasião dos compositores traduzirem em música toda a gama das paixões humanas.
Haendel, como ninguém, conseguiu transpor para música os sentimentos complexos de ciúme e dum amor ainda vibrante, que experimenta o protagonista desta ópera Ariodante.
Outras árias das suas óperas e oratórias possuem intensidade dramática e beleza semelhantes a esta peça.
Como genial pintor de sons, em dois traços ele consegue traduzir o indizível. Com alguns sons apenas, magistralmente colocados sobre palavras, acompanhados do discreto fundo sonoro da orquestra, consegue este prodígio.
O mais estranho é que, segundo várias biografias, Haendel não foi homem de grandes paixões: soube porém exprimir na música os mais arrebatados estados de alma.