From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.
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terça-feira, 21 de novembro de 2023

MERGULHÁMOS NA BARBÁRIE, DE NOVO


Foto: Criança ferida é transportada para urgência do hospital Al-Shifa






Eu uso a expressão no título acima, não em termos metafóricos, mas literalmente. 

Com efeito, não há nada mais cruel e bárbaro do que a punição coletiva. É isso que governo e exército israelitas estão a fazer em Gaza e nos Territórios Ocupados, incluindo Jerusalém Este.  

Qualquer que seja a avaliação que se faça da ação do Hamas a 7 de Outubro, esta nunca pode ser justificação para o assassínio de mais de 10 mil civis, na sua maioria crianças, mulheres e idosos. O governo de Israel e quem o apoia, é que se colocam à margem da legalidade. Todos nós vemos, horrorizados, que estão a cometer crimes de guerra, «justificando-se» com um tecido de mentiras e de frases bíblicas (usadas fora de contexto, claro).

Se existe culpa coletiva, então o Ocidente é culpado:

A Grã-Bretanha, em primeiro lugar e os vencedores da  IIª Guerra Mundial, a França, a União Europeia, os Estados Unidos e Canadá. 

A Grã-Bretanha, produziu a declaração Balfour, em 1917: Foi negociada com o movimento sionista. Em troca, este devia exercer pressão para a entrada em guerra dos EUA, na 1ª Guerra Mundial. Durante o período entre as duas Guerras Mundiais, muitos judeus foram encorajados a emigrar para a Palestina, mas os autóctones, os palestinianos, não lhes era reconhecido o direito a terem a sua nação. Grupos terroristas judaicos, como a Irgun, fizeram ataques terroristas contra povoações palestinianas, com o objetivo de as expulsar de suas terras. A limpeza étnica e os atos terroristas continuaram depois da IIª Guerra Mundial e da proclamação do Estado de Israel, em 1948. As grandes potências vencedoras decretaram a «solução» dos Dois Estados, que não tinham real intenção de implementar. Os sucessivos governos israelitas, sabendo isso, continuaram a sua política de apartheid e de roubo de terras palestinianas, sem que houvesse real impedimento da parte da ONU. Israel deve ser o país com maior número de resoluções condenatórias na ONU, talvez com a exceção da África do Sul do tempo do apartheid. As guerras Israelo-Árabes de 67 e 73 foram pretexto para causar ainda mais miséria, com a ocupação dos territórios palestinianos. A população nos territórios ocupados tem sido sujeita a brutalidades, prisões arbitrárias, assassinatos pelo exército israelita ou por colonos, expulsão e arrasamento das suas casas, como «punição» por serem da família de membros da resistência. 

A França entregou a Israel a tecnologia necessária para construir bombas nucleares. Israel é uma potência nuclear que - hipocritamente - não o reconhece, só para não ter que se sujeitar a inspeções. 

Todos os anos, em quaisquer circunstâncias, Israel recebe ajuda dos EUA no valor de  3,5 biliões de dólares. É uma ajuda incondicional, portanto pode ser usada como eles entenderem.  Além disso, na situação presente, Biden fez aprovar pelo congresso dos EUA, uma ajuda extra de 40 biliões de dólares e enviou a frota americana para as costas de Israel. 

Se há culpa coletiva para os palestinianos, então também existe para os israelitas e também para todos o países ocidentais que apoiam, ativa ou passivamente, a criminalidade monstruosa do Estado de Israel.

Tenho um profundo desgosto por ver isto tudo. Ajoelho-me diante do povo mártir da Palestina. 

Não existe humanidade «A», humanidade «B», ou «C». É trágico e traz consequências de longo prazo, que a legalidade internacional, as leis humanitárias, as convenções de Genebra, etc., estejam a ser espezinhadas, com a conivência das autodesignadas «democracias». Cada vez mais, são vistas pela maioria da humanidade como um clube de ricos, com mentalidade colonialista e racista

Eu sei que muitas pessoas, nestes países ocidentais, não são egoístas. Estão a lutar para que acabe este horror e se abram vias para uma solução negociada.  Porém, se houvesse consciência suficiente e geral das populações no chamado «Ocidente», do grau de criminalidade do governo de Israel e dos governos que apoiam as políticas de Israel, as coisas não teriam chegado ao ponto desta tragédia. 

O Estado de Israel não é omnipotente: O que faz, sabe muito bem que pode fazê-lo, porque no Ocidente não existe coragem moral dos dirigentes para os obrigar a parar, muito menos de serem julgados como criminosos que são!

Há uma consequência global, para além do que está a acontecer em Israel/Palestina, neste momento:

Criou-se o precedente de que não existem condenação e medidas eficazes para parar um genocídio. Os Estados mais poderosos não estão preocupados com as resoluções da ONU, sequer. 

Amanhã, em qualquer ponto do globo, pode haver outro holocausto, semelhante ao que sofre - agora - o povo palestino. Pode ser no teu país, na tua cidade. Ninguém pode contar com as instâncias internacionais, que tinham o encargo de prevenir, minorar e acabar com  as guerras e os desastres humanitários: Nem a ONU e suas agências, nem o TPI  ou os governos hipócritas que têm a boca cheia da expressão «direitos humanos», mas o cérebro deles está corrompido.

Identifico-me com os ativistas, que em Nova Iorque, em Seul e noutros pontos, fizeram manifestações pela Palestina Livre e contra o Genocídio e Limpeza Étnica que o governo israelita está a levar a cabo. O vídeo mostra algumas dessas ações:


PS1: Abaixo, um sumário da cimeira virtual de emergência dos BRICS, incluindo os novos membros, sobre o genocídio em Gaza e as medidas a tomar (o texto francês tem tradução em inglês e espanhol)

https://www.voltairenet.org/article220045.html

PS2: Jonathan Cook denuncia a deliberada (e transparente) limpeza étnica do governo israelita em relação à população de Gaza, reproduzindo as táticas criminosas da 1ª Nakba, em 1948. Denuncia igualmente a falsa miopia dos órgãos de  informação ocidentais que recusam ver e reconhecer que se está perante um crime hediondo: https://www.jonathan-cook.net/2023-11-21/israel-goals-lies-1948-gaza/

PS3: O Dr. Gabor Maté é sobrevivente do Holocausto judaico, durante a IIª Guerra Mundial. Ele, como verdadeiro humanista, tem palavras justas e severas sobre os dirigentes ocidentais, que apoiam o genocídio e limpeza étnica dos palestinianos, que está realizando o governo e os militares de Israel. Mais uma prova de que ser-se antissionista não tem nada que ver com ser-se antissemita:

https://informationclearinghouse.blog/2023/11/22/the-darkest-thing-ive-seen-dr-gabor-mate-on-western-countries-supporting-israels-gaza-slaughter/

PS4: O ataque ao hospital Al-Shifa, pelas forças do exército de Israel, fez-se sabendo eles que o quartel-general do Hamas NÃO estava localizado por baixo do hospital: Leiam a importante descoberta feita por Consortium News, que invalida o motivo do exército ocupante israelita para atacar o hospital. Além disso, esta tática revela a criminalidade perversa dos responsáveis:
 «But something quite unexpected had happened during this new round of press stories on al-Shifa that completely demolished the entire IDF story line: the IDF had gained control of the real Hamas command and control center in an area where the Hamas leadership had previously had their above-ground offices in the Al Atatra neighborhood, in the extreme northwest of Beit Lahiya city, 8.5km away from al-Shifa.»

PS5: Caitlin Johnstone a propósito de dois pesos duas medidas, no seu esclarecedor artigo, afirma:

«Really “international law” does not exist in any meaningful way, which is why powerful governments always just ignore it while the people who are actually detained by the ICC are always from weaker nations (overwhelmingly African). Perhaps nothing better exemplifies this dynamic than the the US government’s American Service-Members’ Protection Act, better known as the Hague Invasion Act. This 2002 law authorizes the use of military force to liberate any US or US-allied military personnel from any ICC attempt to prosecute them for war crimes. “US-allied” would ostensibly include Israeli forces.»

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL: LIÇÕES A EXTRAIR


No centésimo aniversário do seu fim, a 1ª Guerra Mundial continua a ser muito polémica. Repare-se que, hoje em dia, várias teses radicalmente opostas se têm confrontado: por um lado, as da media mainstream em geral, portadoras das formas mais convencionais de interpretação a cargo de certos historiadores e, por outro, a forma tradicionalmente da esquerda e em particular da esquerda anti-autoritária, de que se tratou de uma guerra desejada pelos grandes poderes e não foi de forma nenhuma um «acidente de percurso».
A realidade documental é que o governo do Kaiser de então não desejava a guerra de forma nenhuma; mas os governos do Reino Unido e da França, por razões diversas mas convergentes, sim. 
O atentado de Sarajevo foi um evento trágico, explorado de forma a colocar a Europa NA SENDA DA GUERRA. Não seria caso de automática declaração de guerra entre grandes potências, a não ser como pretexto para uma guerra longamente planeada. 
Sarajevo é um mito, tal como a causa da guerra de Tróia, narrada na Ilíada: Realisticamente, não se acredita que a guerra de Tróia (a verdadeira, histórica) tenha sido exclusivamente «causada pelo rapto» de Helena por Pâris.

A guerra foi aceite por muitos proletários, os mais modestos membros das sociedades  nos diversos países ditos civilizados, como a França, a Grã-Bretanha, ou  a Alemanha: contam-se literalmente «pelos dedos» os dirigentes operários, de partidos ou de sindicatos desses países, que se opuseram activamente, que tiveram a coragem de ir contra a onda avassaladora de xenofobia homicida de que as massas estavam apoderadas: 
- Mas como é que se transformaram operários de vanguarda, seguidores das ideias socialistas e anarquistas e, portanto, totalmente contrários à guerra inter-imperialista, numa massa de fanáticos acríticos, desejando ir «torcer o pescoço» ao inimigo? 
Eis um fenómeno que importa aos historiadores da 1ª Guerra Mundial considerar: o enorme peso da propaganda sobre as massas, sobre a opinião pública de então. 
- Qual o papel da intelectualidade em difundir a visão específica em como esta guerra era «justa», «inevitável», para o «bem da civilização», enfim... porque seria, sem dúvida, a «última» das guerras? 

                                

Quando eu olho o panorama actual encontro alguma nostalgia  mas também uma indefinida e pouco explícita «justificação» da intervenção de Portugal na guerra, como a que defende a tese de que a República precisava (??) da guerra para ser capaz de «defender eficazmente» os seus territórios ultramarinos. 
Toda a retórica pró-guerra está envolvida, em países mais centrais ou periféricos, numa aparente mas, ilógica - se pensarmos um pouco - defesa do interessa nacional. AFINAL, O «INTERESSE NACIONAL» É UMA FORMA DE DIZER O «INTERESSE DA CLASSE DOMINANTE NACIONAL». 
A subida dos fascismos (e não somente do nazismo!), tanto na Itália como em Portugal, foram também consequência directa da enorme frustração resultante dos acordos de Versailles:  quem impôs a sua visão do mundo foram as grandes potências vitoriosas de então, França, Grã-Bretanha e os EUA, os quais chegaram tarde ao teatro da guerra, mas souberam explorar muito bem a sua primazia, como credores dos impérios francês e britânico falidos.
O desastre da república de Weimar, nascida não apenas de derrota do Reich alemão, como também da tentativa insurreccional falhada dos proletários das comunas de Berlim e Munique, não está suficientemente explicado, como a própria revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia e todo o processo que iria culminar na revolução de «Outubro» (a 7 de Novembro, no calendário europeu ocidental, mas a 25 de Outubro no calendário ortodoxo). As revoltas e revoluções que se  sucederam caldearam, tanto na vitória como na derrota, muito das ideologias totalitárias que se vieram a desenvolver. Mas a forma como as coisas se passaram realmente, durante e no pós- primeira Guerra Mundial, é um dos assuntos da História mais mitificados, portanto mais ocultados, na realidade: assim tem sido feito por cada historiador, ou cada corrente na disciplina, no fundo relacionada com esta ou aquela ideologia: liberal, fascista, comunista, reformista, anarquista... etc.).
Podemos nos horrorizar perante o milhão (!) de mortos caídos de ambos os lados nas trincheiras de Verdun, ou outros horrores da 1ª Guerra mundial; mas não nos surge como real, agora, esse banho de sangue. É simplesmente fora da nossa experiência quotidiana e fora daquilo que comummente concebemos como sendo a guerra total: uma completa aniquilação causada por uma troca de bombas termo-nucleares, a total erradicação da vida humana e de muitas formas de vida do planeta Terra. 

Vejo como preocupante que certos meios e certos media nos queiram vender como decente uma visão de que «nós» tínhamos de fazer a guerra, que esta era «inevitável» e de que «nós» estávamos do lado certo da História, do bem, da moral, etc...

                                            

Para mim, este facto é preocupante porque é um resvalar para a propaganda de guerra: o «limpar» a memória de um acontecimento histórico, de o enaltecer, até, como se fosse um desígnio colectivo de um povo que o tivesse impulsionado contra um povo «inimigo», com toda a carga ideológica que isso supõe. Esta narrativa é a que convém àqueles que, de novo, querem demonizar uma ou outra nação (neste caso, claramente a Rússia e a China). 
Com efeito, a propaganda de guerra que antecedeu e se manteve durante esses quatro horrendos anos de 1914-1918, funcionou como apoio fundamental para o «esforço de guerra» e para a dominação, pura e simples, das massas.
A crise da democracia liberal, a ascensão do fascismo, as aventuras bélicas coloniais, as revoluções e contra-revoluções, as crises económicas e, finalmente, a 2ª Guerra Mundial, foram resultado da abertura da «Caixa de Pandora» da 1ª Guerra Mundial.

sábado, 11 de novembro de 2017

HÁ 99 ANOS TERMINOU A PRIMEIRA GRANDE CARNIFICINA MUNDIAL

                             
                

A Grande Carnificina, com que o século vinte começou, foi a primeira guerra imperialista mundial. 
Envolveu muitos milhões de soldados, de muitos países, os quais foram mortos aos milhões nas trincheiras ou feridos, gazeados, para sempre afetados. 
Os civis foram também vítimas; além dos bombardeamentos, também houve fomes, miséria em muitos locais, mesmo longe do teatro da guerra. A gripe, em 1918 e no ano seguinte, matou mais pessoas (a grande maioria, civis) que os mortos diretos da guerra. 
A Europa, em particular, ficou de rastos, com muita da sua população mais jovem morta ou estropiada, a sua infraestrutura industrial parcialmente destruída, a economia depauperada. 
Muitos soldados, sentindo-se traídos pelos políticos tradicionais, aderiram a movimentos de extrema-direita, que se apresentavam como «revolucionários»: nasceu o fascismo, o Hitlerismo...

Da primeira guerra mundial, o único episódio que gosto de recordar é o da confraternização entre homens de exércitos inimigos. 
Foi o caso, não único, de soldados britânicos e alemães aquando do natal de 1914, em que tiveram a ousadia de abandonar as suas linhas e mostrarem sentimentos humanos, jogarem à bola, abraçarem-se e desejarem que a guerra terminasse depressa.

Os militaristas de todas as Nações vencedoras tentam transformar esta efeméride do armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, numa glorificação das forças armadas e das «virtudes» militares. 

Eu penso que o fim da Primeira e da Segunda Guerra Mundiais foram ocasião de grandes ilusões. Muitos, ingenuamente, pensaram que toda a gente estava farta de sofrer e que mais ninguém iria provocar guerras. 
Enganaram-se nessa altura e enganam-se agora os que assim pensam. 
Pois as oligarquias que, abertamente ou não, comandam os destinos dos diversos países, têm como objetivo guardar o poder, a qualquer custo. 
Não hesitarão em lançar nova guerra mundial, se assim virem que precisam disso para salvaguardar o seu poder. 

Há vários grupos interessados em que haja guerra, em vários países do globo. 
Mas, sendo os EUA a maior potência bélica do planeta (o seu orçamento da «defesa» equivale a mais do que as despesas dos cinco países seguintes, combinados) é particularmente angustiante verificar que o «partido da guerra» consegue congregar uma parte importante dos Democratas e Republicanos. 
A esta deriva belicista não são estranhos os Neo-cons e lobís do armamento, que estão constantemente a empurrar o governo dos EUA para guerras, as quais têm causado imenso sofrimento e tornam muito mais provável a deflagração de um conflito global. 

Gostava que este dia 11 de Novembro servisse para uma reflexão séria e profunda sobre as origens das guerras, de ontem e de hoje; sobre os meios para as prevenir; sobre os passos concretos a dar para terminar os conflitos em curso. 
Só assim seriam dignamente recordados os milhões de caídos das guerras!