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domingo, 10 de março de 2024

OPUS. VOL. III 6. OUVI O ANJO DA MORTE

6.   OUVI O ANJO DA MORTE



Ouvi o Anjo da Morte;

 falou-me ao ouvido

Serena, amistosa, disse-me estas palavras:


" Não temas, homem, esta passagem

Ela parece difícil e terrível

Porque os humanos

A descrevem como algo horrendo 

No entanto, a vida (essa sim)

Pode ser horrível e bela

A morte é passagem, somente

Ela não te faz sentir nada

Tu deixas de sentir

Nem sentes, nem guardas consciência

 Como poderias sofrer  

Chega um momento de passagem

Para o Além

Não te posso dizer nada sobre o Além 

Nem o que lá irás encontrar

Só te digo que as imagens

De todas as Religiões

São infantis, são projeções  

Serena pois e prepara- te

Para esta jornada;

- Nada do que seja teu

Vai quedar-se tal qual

Teu corpo, teus pertences

Pessoais, teus bens, tua obra

Tudo vai cambiar e a marca

Da tua personalidade

Vai esbater-se, até mesmo

Nos entes queridos;

É assim e não vale a pena lamentar

A lei da vida inclui a morte: 

Descansa sobre a sabedoria

Destas palavras."


Assim me falou ela.

E como anjo belo 

Alevantou-se,

Retomando o caminho

Das nuvens.




sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

OPUS. VOL. III 2. SUSSURRANDO

 


Ao teu ouvido

Amor

Estas palavras

Ofereço

São ínfimo som 

Só tu ouves

Mais ninguém

Não partilho segredos

Dos nossos enredos

Sacode os medos

Ouve a melodia

Da canção nossa

A letra sabemos

De cor, la la la

di di ri di

Em exclusivo

Até ao fim

Só nós sabemos

Essa letra e guardamos

Seu significado

Tu e eu

Até que o Mundo acabe


(Murtal, 12 de Janeiro 2024)




quinta-feira, 23 de novembro de 2023

A UM DEFENSOR DO 'STATUS QUO' [OBRAS DE MANUEL BANET]



- Tu, que olhas sobranceiro
Os humildes que sofrem
Labutam e lutam
Por sustento de miséria



- Tu, que te julgas superior
Porque o merecias
Quando afinal pouco
Tens de juízo e saber



- Tu, que te orgulhas
De ser escravo
Exibes como adorno
As grilhetas mentais




- Tu, ricaço estás afinal
Nu, sem resguardo
No meio da sociedade
Que sustenta teu fardo



- Tu, esqueces depressa
A quem tudo deves
Ficas mais frágil
Ainda mais exposto




- Tu, serias cómico
Na tua bruteza
Mas és responsável
Por tantos males




- Vai pró Inferno
Aí tens teu lugar
Corre, ocupa-o!
É bem quentinho.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

ARQUEOLOGIA/ ATUALIZADA EM 2023 [OBRAS DE MANUEL BANET]

                                   



 Recolha de 3 poemas inéditos de 1987 a 2016 , ATUALIZADA EM 2023


1- A Revolta dos Anjos


- Quem somos nós? Quem sou eu, quem és tu?
Somos instantes perdidos na imensidão do tempo
Somos transitórios como a carne
Somos menos estáveis que um grão de areia
Somos somente um elo duma cadeia que se estende desde um ser vivo primitivo…
… Somos tudo isso e temos vaidade em reclamar a imortalidade!

- Segui estrada fora… conheço-lhe os prazeres e os perigos…
… Toda a verdadeira caminhada é solitária
Que este pensamento não sofra contestação
… Bem louco seria aquele que emprestasse os pés, em vez das botas!




   2- Quando…


… Todas as profecias se gastaram no vão desejo do amanhã
… As bocas se calaram no súbito ruir da noite em tom de incêndio
… As fontes secaram fechando as gargantas sedentas de cristal
… A Terra foi a enterrar no espaço sideral





          3-  Tudo…


                     … Nasce, cresce e morre;
Se transforma,
Se vai escoando, se vai esvaindo
Se vai crescendo, se vai desenvolvendo
Se vai… …
… E tu, pra onde vais?
Tu, alma desvalida
Feres onde, vida?
Vives onde, ferida?
Do chão até às nuvens
Clamam vidas
Em seus quatro sentidos
Na água também,
Que é túmulo e fonte de Ti,
- Ó Vida!
....


4- O depois...

Quando a Terra inteira foi a enterrar
Eu lá estava, transformado em poeira
De estrelas, olhando com meus irmãos
O Sol nuclear que se alevantou 
Tudo iluminou de luz glauca
Cegando quem olhava de longe

Quando todas as profecias se cumpriram
Restou uma nuvem de pó denso, tóxico
Na Terra outrora transbordante de vida
Agora, enorme rochedo, imensa esfera
No vazio circula incansavelmente
Em torno do Sol indiferente 
Mais estéril que a própria Morte

Dizem que o Universo
É feito de infinitos paralelos
Podem ter razão; mas cada um
Vai divergir do outro:
Se houver «outros eus»
Não serão «eu mesmo»
Se houver outros viventes
Não serão deste Mundo

Porque o aqui e agora
É o que me interessa
Neste oceano de vida
Eu nado e respiro
Como todas as outras
Vidas, assim percorro
O meu percurso.

5- Uma Simples Prece
 
Ó Vida: salva-te
E salva-nos
Da loucura
Dos humanos!




segunda-feira, 31 de julho de 2023

Se o poema fosse confissão [OBRAS DE MANUEL BANET]

 


Se o poema fosse confissão

Falsa seria. Seria pose, artifício

Porém, num certo sentido

Confessa o que a mente

Ignora


Reflexo e sombra, é o poema

Sopro sussurrado ao ouvido

Do poeta 


Eu não tenho a vaidade

De ser o autor do vento

Da chama, da música

Ouvida ou sonhada.


Produzo um balbuciar

Olhando espantado

O maravilhamento

Deste Mundo


E confesso embaraçado

Que -afinal- os ditos versos

Propriamente de meu

Têm pouco, ou nada.




sábado, 24 de junho de 2023

DEIXAR O PASSADO MORRER? [OBRAS DE MANUEL BANET ]

 

                           Detalhe de quadro de Salvador Dali «Persistência»




Há quem diga, «deixa o passado morrer»

Mas, este estribilho não tem sentido

Além de afundar mais e mais a pessoa

Numa perplexa e obscura ignorância


Eu digo, «somos todos feitos do nosso passado»

Ele habita connosco e assim será até morrermos

Mesmo depois da nossa morte, 

Venha lá o que vier, o passado não se apaga. 


Permanece neste mundo como

Entalhe ou relevo do real

Esquecer o passado é como

Apagar a tua personalidade


Eu gosto do passado, porque ele

Tem a ver comigo e com os meus

Os falecidos também vivem em mim

Sem eles, o que seria eu?


Compreendo que não se deva ficar 

Agarrado ao passado, cismando

Por aquilo que não pode voltar

Mas não devemos recalcá-lo


O relegar as memórias 

Para um poço sem fundo

É um exercício violento

Destruidor da psique


Mais sensato é pegar nas recordações

Boas e más, conversar com elas

Dar-lhes espaço para respirarem


Transmutando os momentos

Maus, em lições de vida

E os momentos bons, em alegria

Recorrente.


Nunca sigas falsos sábios, feirantes,

Chupadores de sangue, que nos querem

Transformar em zombies e nos dominar



Busca sabedoria nos grandes sábios do passado,

Nos verdadeiros valores do presente...

E ouve o teu coração:

Ele te dirá, melhor que ninguém,

O que deves fazer e como ...


Murtal, Parede (24-06-2023)

 

terça-feira, 6 de junho de 2023

Yevgeni Sudbin Barcarolle Piotr Tchaikovsky & POESIA [OBRAS DE MANUEL BANET]





E na Primavera tudo mudou
Tudo se tornou mudo 
Bruma e silêncio
Outonal

Aqui ouvimos
Vozes de cantares
Jovens risonhos
Caminham

Ignoram o que acontece
Longe dos seus olhares
A vida floresce
Ao Sol dourado

Porque vens então
Angustiar-nos
Com teu
Agourento verso?

-Deixa, amor
Eles nunca aprenderão:
Que o fruto suculento
Guarda o pior veneno

Substância imaterial
No  âmago da  Inocência mesma
Se infiltra e corrompe...
E
chama-se
Indiferença 






 

sábado, 8 de abril de 2023

NAS TRINCHEIRAS, UMA FLOR TEIMOSA NASCEU [OBRAS DE MANUEL BANET]



 Nas trincheiras, uma flor teimosa nasceu

Ela queria o que sempre fora terreno seu

Não podiam botas cardadas vencer seu vigor

Ela sobreviveu como semente ao rigor


O Inverno aqui é a estação dormente

A Primavera é quando germina a semente

Haverá uma fecunda descendência

Que em paz encontra a resistência


Que podem os canhões obliterar?

Querem a Natureza dominar?


 -  Só homens loucos fazem a guerra

Há só uma Terra, só uma raça humana

Vencedores ou vencidos, acabam por morrer !


Mas as humildes flores, de todas as cores

Em festivo triunfo, erguem ao Sol

Doador da Vida, o fruto de seus amores! 


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Páscoa, 9 de Abril de 2023


sexta-feira, 3 de março de 2023

HOJE QUERO-TE FALAR [OBRAS DE MANUEL BANET]

... ao som de «Deve ser Amor»*

 Hoje quero-te falar

Da nostalgia do tempo

Do tempo que não vivi

E que ressinto

Como se fosse este

O tempo certo


Para me espairecer

Nada poderá fazer 

Aquele que persegue

O tempo sem descanso


Eu prefiro ficar 

No doce remanso

Apreciando aquele

Charme indefinido

Que se desprende

De uma canção

De uma foto

Duma recordação


Pudera eu voltar

Ao tempo antigo

E que faria?

Seria como pássaro

Fora do céu, ou peixe

Fora de água?

Tomaria logo 

O jeito de falar e de ser

Nesse tempo doirado

Que não foi meu?


Há quem viva em sonho

Eu vivo em recordação

Tenho na arte

Mas a arte que me toca

O refúgio mais seguro

A barreira estanque

Contra a fealdade da vida


Outros terão as suas

E não lhes levo a mal

Mas eu gosto demais

Do passado, por opção


Não deixo de olhar

O presente, mas pouco

Só para ficar à tona

Só para não tropeçar

Só o passado que amo

Não se esfuma

Ele dá a batida

Certa do coração


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*Retirado do álbum Recorded in Rio de Janeiro Herbie Mann , João Gilberto, António Carlos Jobim






segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

EVOCAÇÃO [OBRAS DE MANUEL BANET]

Livre como o vento
Aquele movimento
Ondulando e correndo
Pela praia até ao mar

Corpo espairecido
Em força e graça
Quebrando as ondas
De espuma branca

Lábios tremendo 
Num rosto molhado
E um sorriso
Não ensaiado

Não pensámos então
Que abraços e beijos
Estavam na orla
Da nossa ilusão

Soubéssemos isso
E que jeito teria?
Tudo o que fomos
Seria varrido

Pelo vento insolente
Ao unir dor e prazer
No breve tempo 
Que me prende

Do vento, não temo
Mais o seu uivar
Nem das ondas 
Seu rouco bramido

Afinal vento e mar
Cantam-me ao ouvido  
A mesma canção
Que tu escutavas



 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Pela Paz Agora [OBRAS DE MANUEL BANET] + ODETTA



Não te esqueças nunca que Ele e somente Ele, possui o destino. Tudo o que os poderosos deste mundo conseguem fazer, é espalhar o sofrimento. Mas não podem destituir o Poder verdadeiro que reina sobre todos.

Não duvides se és crente numa religião, numa fé, seja ela qual for. Tens Deus como teu Senhor. Não te esqueças nunca da razão pela qual tu vieste ao mundo.

Foi a mesma pela qual todos os viventes aqui estão. Só Ele tem o poder da vida no Universo. É Ele que molda a vida e o próprio Universo, que são Deus.

Por isso, reza pela Paz que só existe se for de todos, só haverá paz quando as pessoas como tu tiverem a coragem de dizer que não há inimigo...

Que somos todos irmãos e irmãs e que qualquer guerra é sempre injusta, pois quem mais sofre são os inocentes, de um e doutro lado.

Face à guerra só há uma forma de se ser humano: É rejeitá-la com todo o coração. Se queres a paz, promove-a, não promovas a guerra.

Esta é promovida por quem não tem escrúpulos, nem sentimentos, nem obediência a Deus. Até mesmo os que falam como se fossem devotos. Os que sabem a verdade, que percam o medo!

Sem pretender culpabilizar uns ou outros, denunciai a guerra como o maior dos pecados, pois todos os restantes estão contidos naquele:

O pecado de desobedecer a Deus, à clara lei de Deus, que todos os povos aprenderam a respeitar através das suas religiões e, mesmo os não religiosos, respeitam quando se maravilham com a Natureza

Pois ela é divina, como tudo no Universo. Serão os humanos tão estúpidos, que deitem a perder milhões de anos de evolução e milhares de anos de civilizações e culturas de múltiplos povos?

A guerra sempre foi intolerável, mas especialmente agora, a guerra usando tecnologias sofisticadas que o génio e criatividade humanas deveriam ter reservado às invenções benéficas e não destrutivas.

Esta época é mais estúpida, mais cruel, mais imoral que todas as anteriores.

Seremos salvos desta catástrofe, por vontade de Deus, que abra o coração de todos os humanos.

Que os que têm poder, o usem sabiamente para espalhar profundo sentimento de repúdio contra a guerra

Pois quando os povos quiserem, ela virá, a Paz, quaisquer que sejam os obstáculos. Mas, os líderes espirituais têm o dever de a promover, por todos os meios, a Paz.













terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Versos senescentes [OBRAS DE MANUEL BANET]



 Acompanha-me a sorte, por mais escuro que seja o caminho

Tenho regressado ao que realmente importa a um homem

Já não jovem, nem com ilusão que o tomem por tal

Mas a sorte veio-me bater à porta e eu abri-lhe a porta

Serei discípulo dela até ao fim da vida (e mais não quero)

Só preciso de aperfeiçoar-me naquilo que seja possível

De tal forma, que essa sorte se mantenha a meu lado

Diria uma bênção, mas eu não sou presunçoso

Em todo o Universo, sou menor que uma molécula

Tenho também duração infinitesimal  

Mas tenho sorte porque posso abraçar a certeza

Em todas as dimensões do espaço e tempo

E quando o faço, não com cálculos, nem instrumentos

Apenas a plenitude eterna do instante, apenas 

O maravilhamento face ao Universo

- Como é possível esquecer o amor

de que todos somos feitos?


sexta-feira, 15 de julho de 2022

BALADA DAS CONTRADIÇÕES* [OBRAS DE MANUEL BANET]

                      

                     BALADA DAS CONTRADIÇÕES* 


Quem diz do branco cisne, que é corvo negro 

É meu amigo, com enganos me defende

Diz todo o mal de mim, assim me elogia

Sensato parece quem procede com loucura


De todos bem acolhido, por todos escorraçado


Perto da fogueira treme de frio

Muito deseja o que mais despreza

Se faz elogios rasgados, com eles insulta

Quem nos trai, ao nosso lado se posiciona


De todos bem acolhido, por todos escorraçado


Quereis saber, cavaleiro, a verdade?

Ninguém diz o que pensa,  todos mentem

É amarga lição que não se dispensa

Um grande favor que devemos agradecer


De todos bem acolhido, por todos escorraçado


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*Inspirado na «Ballade du Concours de Blois» de François Villon



quinta-feira, 16 de junho de 2022

ALGURES...

[OBRAS DE MANUEL BANET] 



 Algures, sobre a Terra

Existe um povo feliz

Um povo que está em harmonia

Consigo próprio e com seu Criador

Que cuida do jardim da Natureza

Com a simplicidade de um filho

Que cuida de sua Mãe. 


Seus filhos e filhas crescem livres

Não sabem o que é opressão

Palavra ausente do seu vocabulário

Suas canções recordam gestas

Do passado tumultuoso que viveram

Os antepassados. Mas, de resto,

Não têm memória duma guerra

Sabem o que é a paz, porém


Isto parece impossível 

Aos velhacos e perversos indivíduos

Que tudo escarnecemos, destruímos

Deitamos um manto de mentiras

Sobre inúmeros crimes hediondos

Somos de tal modo estúpidos

Que não sabemos o que é melhor

Para nós, para o nosso futuro

Mas somos orgulhosos dum saber

O saber técnico, que nem dominamos 


 E se não acreditam no que digo

Não faz mal, nem me surpreende

Também não irei dar-vos pistas

Seria a forma de destruir o povo 

De que vos falo. 

É possível que existam mais como ele

Eu quero acreditar que formam 

O núcleo a partir do qual a humanidade

Algum dia, noutro século, ou milénio

Regresse à sua vocação primeira

E cuide do paraíso terreal 


Ter a custódia, não é a posse,

Não é a propriedade 

Daquilo que é de todos

Não há dúvida que isso é assim

Pelas Leis da Natureza e pela Razão

Pelas quais se guiam, sábios,

Os povos sem história, os povos felizes.


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Murtal, Parede, 13 de Junho de 2022