terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

ENERGIA & ECONOMIA: «PRESA POR TER CÃO, PRESA POR NÃO TER...»

Offshore rig


A característica fundamental dum sistema baseado na dívida é que neste as dívidas de uns, são os activos dos outros.



Vem isto a propósito de um relatório, produzido por Simon Michaux para a Geological Survay of Finland, e relatado no artigo de Nick Cunningham para o Oilprice.com

Com efeito, a indústria petrolífera - no seu conjunto - estará perante a impossibilidade de satisfazer a procura, no breve trecho, a continuar o crescente consumo anual, de um milhão de barris diários (mb/d). Esta tendência irá puxar os preços para cima, talvez acima de 100 dólares o barril, apesar das energias alternativas. Estas, não são suficientes em quantidade e em capacidade, para satisfazer todos os nichos de mercado, por mais que nos encham os ouvidos com «moinhos de vento». 

O petróleo terá ainda, num futuro próximo, de satisfazer a crescente gula de energia das nossas sociedades. 

Isto significa que o crescimento anémico que a economia ocidental experimentou (no seu conjunto) desde a grande quebra de 2008, poderá inverter-se, justamente devido ao encarecimento substancial do factor mais importante (energia) na rentabilidade das economias, em geral. 

Porém, as fontes «não convencionais de petróleo» ou seja o xisto (EUA) e as areias betuminosas (Canadá), não são uma real alternativa. Muitas explorações de xisto estão a entrar em declínio. Mas, sobretudo, não conseguem aguentar os preços baixos que se têm verificado nos últimos anos (desde 2014) pois o conjunto desta indústria não teve nunca um rendimento acima do endividamento monstruoso, propiciado por Wall Street, que tem sido o impulsionador real desta pseudo-autonomia energética dos EUA. Como resultado inevitável, muitas empresas de petróleo de xisto não conseguem satisfazer o serviço da dívida, têm-se multiplicado as falências.

Se, devido ao efeito do coronavírus, houver um efeito depressor da economia ao nível mundial, ocorrerá uma diminuição da procura de energia, nomeadamente petrolífera. Os preços do petróleo irão descer mais, em consequência da diminuição da procura (falências em série das empresas de petróleo de xisto, nos EUA).

Porém, se as coisas não forem assim tão dramáticas em termos mundiais, no que respeita à epidemia, haverá uma recuperação da economia após este episódio, com um nível equivalente ao anterior. Neste caso, teremos subida do preço do petróleo, o que irá causar uma tensão insuportável em muitas economias dependentes de importações de petróleo. 

Num ou noutro caso, a economia mundial estará «between a rock and a hard place», como dizem os anglo saxónicos e nós dizemos «preso por ter cão, preso por não ter...»


2 comentários:

Manuel Baptista disse...

Por enquanto, a visão de que o coronavirus terá um efeito depressor profundo nos mercados em particular do crude, predomina:
https://www.zerohedge.com/energy/opec-slashes-oil-demand-forecast-coronavirus-crunch

Manuel Baptista disse...

F. William Engdahl, vem reforçar a análise que fiz no artigo acima:
https://journal-neo.org/2020/02/11/will-china-virus-trigger-new-great-depression/