terça-feira, 7 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] Qual é a verdadeira ameaça nuclear no Médio Oriente?

                         

ITALIANO PORTUGUÊS
«O Irão não respeita os acordos nucleares» (Il Tempo), «O Irão retira-se dos acordos nucleares: um passo em direcção à bomba atómica» (Corriere della Sera), «O Irão prepara bombas atómicas: adeus ao acordo sobre o nuclear »(Libero): é assim apresentada por quase toda a comunicação mediática a decisão do Irão - após o assassinato do General Soleimani ordenado pelo Presidente Trump - de não aceitar mais os limites para o enriquecimento de urânio, estabelecidos pelo acordo assinado em 2015 com o Grupo 5 + 1, ou seja, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China) e a Alemanha. Portanto, não há dúvida, segundo estes meios de divulgação de “informação”, sobre qual é a ameaça nuclear no Médio Oriente. Esquecem-se que foi o Presidente Trump, em 2018, que fez com que os EUA se retirassem do acordo definido por Israel como “a rendição do Ocidente ao Eixo do Mal, liderado pelo Irão”. Silenciam o facto de que existe apenas uma única potência nuclear no Médio Oriente, Israel, que não está sujeita a nenhum controlo, visto que não adere ao Tratado de Não-Proliferação, assinado pelo Irão.
O arsenal israelita, envolto numa espessa capa de segredo e de silêncio, é estimado em 80-400 ogivas nucleares, além de plutónio suficiente para construir outras centenas. Israel também produz, seguramente, trítio, o gás radioactivo com o qual fabrica armas nucleares de nova geração. Entre estas, mini-bombas nucleares e bombas de neutrões que, provocando menor contaminação radioactiva, seriam as mais adequadas contra alvos não muito distantes de Israel. As ogivas nucleares israelitas estão prontas para serem lançadas em mísseis balísticos que, com o Jericó 3, atingem de 8 a 9 mil km de alcance. A Alemanha forneceu a Israel (sob a forma de um presente ou a preços promocionais) quatro submarinos Dolphin modificados para o lançamento de mísseis nucleares Popeye Turbo, com um alcance de cerca de 1.500 km. Silenciosos e capazes de permanecer imersos durante uma semana, atravessam o Mediterrâneo Oriental, o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico, prontos 24 sobre 24 horas, para o ataque nuclear.
Os Estados Unidos, que já forneceram mais de 350 caça-bombardeiros F-16 e F-15 a Israel, estão a fornecer-lhe pelo menos 75 caças F-35, também com dupla capacidade nuclear e convencional. Uma primeira entrega de F-35 israelitas entrou em operação em Dezembro de 2017. As Israel Aerospace Industries produzem componentes de asas que tornam o F-35 invisível aos radares. Graças a essa tecnologia, que também será aplicada nos F-35 italianos, Israel potencia a capacidade de ataque das suas forças nucleares.
Israel - que tem apontadas contra o Irão 200 armas nucleares, como especificou o antigo Secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em 2015 - está decidido a manter o monopólio da Bomba no Médio Oriente, impedindo o Irão de desenvolver um programa nuclear civil, que poderia permitir-lhe um dia fabricar armas nucleares, capacidade essa que hoje é possuída no mundo por dezenas de países. No ciclo de utilização do urânio, não há uma linha divisória clara entre o uso civil e o uso militar do material físsil. Para bloquear o programa nuclear iraniano, Israel está determinado a usar todos os meios. O assassinato de quatro cientistas nucleares iranianos entre 2010 e 2012 é, provavelmente, obra do Mossad.
As forças nucleares israelitas estão integradas no sistema electrónico da NATO, como parte do “Programa de Cooperação Individual” com Israel, um país que, embora não seja membro da Aliança, tem uma missão permanente no quartel general da NATO, em Bruxelas. Segundo o plano testado no exercício USA-Israel Juniper Cobra 2018, as forças USA e NATO viriam da Europa (sobretudo das bases em Itália) para apoiar Israel numa guerra contra o Irão. Ela poderia iniciar-se com um ataque israelita às instalações nucleares iranianas, como o que foi efectuado em 1981 contra o reactor iraquiano de Osiraq. O Gerusalem Post (3 de Janeiro) confirma que Israel possui bombas não nucleares anti-bunker, utilizáveis ​​especialmente com os F-35, capazes de atingir a instalação nuclear subterrânea em Fordow. O Irão, no entanto, apesar de estar livre de armas nucleares, possui uma capacidade de resposta militar que a Jugoslávia, o Iraque ou a Líbia não possuíam no momento do ataque USA/NATO. Nesse caso, Israel poderia usar uma arma nuclear pondo em movimento uma reacção em cadeia de consequências imprevisíveis.

il manifesto, 7 de Janeiro 2020







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO
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Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

3 comentários:

Manuel Baptista disse...

O contexto actual é também esclarecido pelo artigo de Pieraccini:
https://www.strategic-culture.org/news/2020/01/06/a-terrorist-attack-against-eurasian-integration/

Manuel Baptista disse...

Para além da decisão táctica de Trump e do Pentágono de eliminar Soleiman, o que está em jogo é o controlo da região mais rica em petróleo e decisiva para o abastecimento internacional. Até agora, os americanos contentaram-se em obter acordos de «protecção» dos reinos petrolíferos a troco da exclusividade da venda do petróleo em dólares. Lembre-se que as transacções em US$
são rastreadas pelos bancos dos EUA, podem ser eficazmente embargadas por ordem de Washington. Lembremos também o papel decisivo dos petro-dólares na compensação do défice crónico e monstruoso do orçamento dos EUA. O défice é colmatado greaças à compra de obrigações do tesouro dos EUA por parte das petro-monarquias, além de que com os dólares obtidos a Arábia Saudita e outros compram armamento sofisticado e sua manutenção à indústria bélica americana (o maior exportador de armamento mundial).
Se decidiram assassinar Soleiman, não foi certamente pelas razões invocadas. Mas antes, porque estão desesperados de não conseguir mais fazer funcionar o sistema do petro-dólar, pois demasiados actores estão a rebelar-se ou a - discretamente - a virar a casaca, para garantirem uma protecção dos poderosos aliados Rússia e China. Esta é a realidade estratégica global a que os EUA estão confrontados. A resposta é das forças que controlam Washington e que têm Trump na mão (chame-se complexo militar industrial, Estado profundo, militaristas do pentágono...): é a fuga para a frente, do confronto directo com o Irão, única forma que encararam para contrariar a deserção de uma série de aliados na região e portanto, da perda de hegemonia e consequente sistema do petro-dólar. Eis a lógica intrínseca deles. Como não conseguem mais obter, como dantes, a submissão dos seus aliados-vassalos no Médio-Oriente, têm de fomentar uma guerra. Assim poderão obter o alinhamento forçado destes contra o Irão. Eventualmente conseguirão - em caso de vitória - o controlo directo de poços de petróleo, o que revela a ambição totalitária de domínimio mundial. Esta ambição já existia há muito tempo e em múltiplas vezes se manifestou, mas muitas pessoas não conseguiam compreender a natureza do seu verdadeiro jogo. Agora, com a pretensão de Trump de se apropriar (roubar) o petróleo não só da Síria como do Iraque está-se perante a afirmação clara e descarada de apropriar o petróleo do Médio-Oriente, como despojo de guerra.

Manuel Baptista disse...

ver o artigo esclarecedor de Michel Chossudovsky
https://www.globalresearch.ca/america-an-empire-on-its-last-leg-to-be-kicked-out-from-the-middle-east/5699693