domingo, 6 de novembro de 2016

UM ODOR DE PODRIDÃO

Um odor de podridão invade o ar, não deixa que outros odores se afirmem e nos possam guiar para paragens mais sorridentes.
- Por um lado, o que caracteriza o presente é a decomposição de todas as funções do Estado, sem nenhuma alternativa viável, sem algo que possa realmente mudar a situação. 
A guerra, a violência máxima entre povos e indivíduos, é o resultado disso. Os abutres adoram isso, têm carniça em abundância e festins contínuos, sempre defletindo a raiva da multidão, drogada consigo própria, numa onda hedónica e estéril, exatamente aquilo que a «elite» do dinheiro e do poder precisa para se manter e prosperar.
- Mas o Estado, por outro lado, não pode ser desculpa para tudo. Porque nós somos também responsáveis - de facto e não somente em teoria - pelo Estado e pelos micropoderes no quotidiano das nossas vidas; devemos ter a coragem de ver que no outro lado da equação... Estamos nós próprios. 
Muito do que temos agora é fruto da nossa miopia coletiva, da nossa enorme preguiça intelectual, da nossa visão «carneirística». 
Porém, a espécie humana - diz-se - é eminentemente adaptável. 
O que me parece bastante estranho é que ela se adapta mais prontamente a situações de humilhação, de domínio bruto, de negação da mais elementar humanidade, do que ao contrário disso, à emancipação dessas opressões! 
Não sou um pessimista, apesar do que escrevi acima. 
Acredito profundamente nos indivíduos, por isso escrevo aquilo que escrevo: sei que há indivíduos que me compreendem, quer partilhem ou não os meus valores.  
O importante, neste contexto, é as pessoas saberem manter a lucidez mental, o espírito crítico e guiarem-se pela ética mais profunda, por aquela que diz "não faças ao Outro aquilo que não gostas que façam a ti próprio" ou ainda, "trata o Outro como gostarias que te tratassem a ti". 
Só serão humanamente amadurecidas as sociedades que ensinem este princípio aos seus filhos e filhas, independentemente do grau de riqueza material e de sofisticação tecnológica que atingiram. 
De momento, só vejo corresponderem mais ou menos a este padrão, as Nações ameríndias, os Aborígenes da Austrália e outras populações, nomeadamente nómadas, que vivem em recantos inóspitos. 
Os povos ditos «primitivos» são, de facto, não apenas os guardiães da Natureza, como da ética... Afinal, são os que tratamos com desprezo, «os selvagens», quem nos pode dar lições. 
Precisamos muito da sua ajuda, pois eles nunca esqueceram os valores que nós, os «civilizados», perdemos desde há bastante tempo e nunca mais recuperámos, pelo menos no chamado «Ocidente».


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